quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Que vida


No início desse mês de janeiro eu assistia televisão, por incrível que pareça, e, mais incrível ainda, vi duas matérias sobre temas bem interessantes. Uma pena que a abordagem fosse rasa e unilateral – como é típico, aliás – mas o assunto é capaz de suscitar diversas questões e ambos eram de certo modo interligados.

A primeira dizia que determinado cientista havia criado um método por meio do qual se poderia estabelecer uma comunicação com pacientes em estado vegetativo. Com um sistema binário “sim/não” de linguagem, por observação das áreas do cérebro ativadas em determinada cirscunstância seria possível comprovar que pessoas em estado vegetativo têm consciência e se comunicar com elas por meio de perguntas cujas respostas se encaixariam no sistema “sim/não”, antes estabelecendo um código com o paciente para que ele pensasse em determinada coisa para dizer “sim” e outra para dizer “não”, assim, com uma tomografia do cérebro se comunicaria com essas pessoas. Não ousarei entrar no mérito do método, pois não tenho conhecimentos nessa área para fazê-lo. Considero, então, que a constatação seja verdadeira, ou seja, que um individuo em estado vegetativo ainda sim é consciente de si e capaz de captar o mundo a sua volta.

Curioso observar a alegria com que foi dada a notícia. Por essa “descoberta” era outra vez concedida a vida àquelas pessoas. Talvez dentro de algum tempo elas possam se manifestar plenamente, propagam esperançosos. Realmente a possibilidade de se comunicar é algo fantástico sem a qual é difícil viver, pela impossibilidade de interação com o mundo. A linguagem, seja qual for a forma pela qual se estabeleça, é fundamental para todo ser consciente. Mas, essa comunicação do experimento atual lhes é possível apenas passivamente, pois não se pode tomar a iniciativa na conversação, mas apenas responder o que interessa ao inquiridor. Ainda assim, não foi isso que me chamou a atenção.

Pensei, entretanto, no que significa ter consciência em um corpo que não se pode controlar, que não é capaz de concretizar suas atitudes proposicionais e não consegue se expressar. Lembrei de algo que vi em algum lugar onde alguém dizia crer que ao morrermos nada acontece. Permanecemos conscientes sentindo os vermes decomporem nossos cadáveres. O que eu poderia supor ser ter consciência em estado vegetativo? Imagino-me agrilhoado. Mais que isso. Atado a uma cadeira ou cama, amordaçado, ou mais precisamente, sem cordas vocais, a observar as coisas, sendo transportado tal qual objeto, de um lado a outro, alimentado, banhado, etc. Independente da minha vontade, incapaz de manifestar meus desejos, os quais, se há consciência, existem. Transformo-me em um objeto – pelo qual outras pessoas podem ter apreço, amor, etc., mas ainda assim um objeto – um objeto consciente. Como se um mineral, sujeito às intempéries do sol, da chuva, das inundações, de arremessos, de chutes, etc. Tivesse consciência, vontade, ou pior, sensações, ou seja, dor, alegria, tristeza, mas não pudesse expressá-las. Não pudesse se fazer compreender. Haveria maior pesadelo que esse? A solitária mais estreita. O destino mais cruel. A vida mais proibida. A frustração ininterrupta e eterna.


A matéria que anuncia a descoberta é feliz, esperançosa. Ninguém fez aos pacientes a pergunta que Ramón Sampedro afirma ao padre: “Vida sem liberdade não é vida”?



Enfim, minutos depois transmitiram a outra matéria. Cientistas alegam que a mais jovem geração atual alcançará os 150 anos e, segundo alguns, é possível inclusive chegar à imortalidade! No entanto, pensar sobre o primeiro caso e desconsiderar o segundo já é suficiente. Imagine viver 150 anos! E com saúde e disposição, prometem os cientistas! Dizia que nossas casas terão aparelhos médicos que nos monitorariam a saúde e emitiriam laudos diagnósticos que nos preveniriam enfermidades! (Entre essas duas matérias passou outra que dizia não haver energia elétrica até hoje em 1% das residências brasileiras. Esqueceram, porém, desse panorama.) Imagine-se, no entanto, que todos tenham acesso a essa maravilha. Seria uma felicidade só!

Penso sempre em alguns problemas de ordem prática. Vivendo-se 150 anos, com quantos se aposentaria? Não vou nem abordar o imenso prazer de acordar todo dia às 6h da manhã e de ficar dentro do trabalho por 9h ou 10h, incluindo o almoço. Se nos aposentarmos aos 65, a previdência nos pagaria por 85 anos. Pouco provável. Além disso, a primeira geração aproveitaria. As demais não se aposentariam nunca, pois faliria o sistema previdenciário. Como hoje a expectativa de vida é de uns 70 anos e a aposentadoria aos 65, considerando que isso corresponde a uns 93% da expectativa, na mesma proporção, teríamos de trabalhar até uns 140 anos. 

Não bastasse ser obrigado a trabalhar por até mais de um século, imagine o que uma vida tão longa implicaria em termos de contingente populacional! Pior. Se demora tanto para atingir a aposentadoria, com quantos anos os filhos conseguiriam uma vaga no mercado de trabalho? 60? 70?! Se teria então de sustentar filho e neto, talvez bisneto, por setenta anos?! Que alegria. Trabalhar mais de um século, nunca ter dinheiro para si, depender dos pais até a terceira idade, não se aposentar nunca, disputar espaço com 40 bilhões de habitantes no planeta, viver em apertadas moradias raras, consequentemente muito mais caras que os absurdos atuais, cada vez menos árvores para caber todo mundo sobre a superfície da Terra... Realmente, viver 150 anos com saúde e disposição é um sonho! Pois pouco provável que fora do sonho tenha alguma vantagem, a não ser para quem não precisa trabalhar e continuará vivendo em um mundo a parte que já é fora da realidade. É fantástico.

Sou obrigado a lembrar do Humano, demasiado humano de Nietzsche quando ele diz: “Há um direito que nos permite tirar a vida de alguém, mas não há nenhum que nos permita tirar dele a morte: isso é pura crueldade.”

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Prêmio Cidade de Belo Horizonte


A divulgação de concursos literários deste ano começo-a agora com a informação de que foi lançado em dezembro passado o Edital da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. A Fundação Municipal de Cultura já está a receber, desde o dia 18 de dezembro de 2012, as obras para o Concurso Nacional. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas até o dia 22 de março de 2013. Poderão se candidatar escritores não somente daquela cidade, como de todo o país, podendo ser brasileiros natos ou naturalizados. O objetivo do concurso é destacar e premiar obra inédita, em língua portuguesa, de autores brasileiros natos ou naturalizados, nas categorias Conto, Dramaturgia, Poesia e Romance.”

Em cada categoria o(s) autor(es) da obra laureada receberá a quantia bruta de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). No caso de mais de um autor, a quantia será a mesma, posto que o valor é a título de premiação da obra.

Então, separem seus originais não publicados, confiram o Edital e inscrevam suas obras. Cada autor poderá fazer mais de uma inscrição, mas apenas uma por categoria. Lembrando que “As obras devem ser, obrigatoriamente, inéditas e escritas em língua portuguesa, ficando automaticamente desclassificadas, em qualquer etapa do concurso, aquelas já publicadas de forma impressa ou virtual, no todo ou em parte, ou divulgadas por qualquer meio de comunicação.” Essa exigência é para, ao menos teoricamente, não se identificar o autor, que fará inscrição por meio de pseudônimo e manter a lisura do processo.

O resultado final do concurso será publicado no Diário Oficial do Município e afixado na sede da Fundação Municipal de Cultura até o dia 20 de junho de 2013. Poderá, ainda, ser verificado no endereço: www.pbh.gov.br/cultura.

fonte: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/noticia.do?evento=portlet&pAc=not&idConteudo=88571&pIdPlc=&app=salanoticias