sexta-feira, 30 de julho de 2010

Em Brasília, 19 horas

Para qualquer lugar que eu olhe
Apenas vejo dentro de mim
E estou a beber da angústia um gole
Nessa densa treva sem fim.

Aprecio este crepúsculo eterno
Com seu magistral brilho vermelho
Desse seco dia do imenso inverno
Que é também de mim um espelho.

Noite após noite, sem dia que entremeie,
Passo todos os dias a sonhar
Pois eu cansado deitei-me
Sobre a relva que não há. (é de cimento!)

Rodeado por tanto concreto
É irônico que de concreto nada tenho
Somente o meu imaginar quieto
Que não demonstra muito engenho.

Neste mundo de cimento
Não cimento nada para o futuro.
Sobre este chão cheio de conhecimento
Sento e não mais vivo ou penso, duro.

Aquilo que passa em silêncio

O mar de incerteza engole e afoga
Tudo aquilo que nele se encontra.
Cresce em desesperança a de agora
Juventude que não entende onde mora.

A cada ilha tenta perder o desânimo
Que no entre elas se aproxima e parasita
O coração já pesado e enfermo
Que, ao início da vida, vê dela o termo.

Milhares nadam sem ver um ao outro;
Àqueles do caminho subjugam e atropelam
Sem se dar conta que o fazem consigo.
Mantém-se, a todo tempo, o perigo.

As ventanias sorrateiras que geram ondas
Que varrem aos que, naquele instante,
Onde se segurar certamente não tinham
E carregam as benesses que nunca vinham.
Um relâmpago rasga o sonhado horizonte
Acertando o homem que o tentou alcançar
Mantém as desconhecidas leis e ordem de
Que, o horizonte, ultrapassá-lo não se pode.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A alma; superfície

Você tentou atravessar a superfície
E chegar ao fundo da minha alma.
E quando conseguiu,
Viu que os dois lados eram iguais.
Não havia senão superfície.
Os meus anseios, leitor,
São os mesmos que os seus.
Seja você quem for.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ode à mentira

Há quem alegue se opor à mentira
E não percebe o quanto das verdades,
Aquelas que quando infante ouvira,
Ditas pelo Professor ou Frade

São de fato, de conhecer, dignas.
E sem pestanejar as aceita
Como se do conhecimento insígnias;
Manjar do qual bebe e a garrafa deita

Sem tentar ler o “veneno” do rótulo.
E sem perceber, todo o tempo mente
E em praça pública dá-lhe o ósculo.

Crê que mentira é sempre má-fé,
Mas de verdade sua vida tem nada.
Não é sua. É pros outros. Fachada.

Breve História da humanidade

Em certo momento dos tempos, um bando de humanos que convivia em conjunto passeia por uma floresta. Um de seus integrantes tem à mão um cesto de maçãs. Neste instante o nº. 2 do grupo lhe pede uma, como de costume. Porém, desta vez, o nº. 1, que carrega o cesto, reflete: Por que eu, se sou do grupo o que corre mais rápido, deveria fornecer-lhe uma maçã se posso tê-las todas para mim? Ante este pensamento, nega o pedido e declara que, a partir daquele momento, todas as maçãs são dele e ninguém mais, senão ele, poderá usufruir delas. Assim, do egoísmo surge a propriedade.

O nº. 2, absorto com a negativa inusitada, completamente enraivecido, saca seu tacape e golpeia o nº. 1 na cabeça, tão rapidamente que não o permite correr, tomando para si o cesto. Agora, da propriedade nasce o roubo.

Quando o nº. 1 saca também o seu tacape preparando-se para o confronto que, em razão da equivalência de força de ambos, resultaria na morte de um deles e na impossibilidade de o vitorioso garantir a posse do cesto, o nº. 3 interfere para mediar a situação. Esclarece ao nº. 1 e ao nº. 2 o fato e sugere dividirem o cesto de maçãs. Os dois concordam em fazê-lo. Então, o nº. 3, tendo obtido sucesso em amansar o conflito, solicita a divisão do cesto em três por ter evitado o combate e a divisão é feita. Desta forma, da possibilidade de prejuízo mútuo, devido ao poder igual entre as partes envolvidas, surge a justiça, e junto com ela, o judiciário com suas custas processuais, ou seja, a parte de maçãs que cabe ao nº. 3.

A partir deste momento, convencionarei chamar o nº. 1 de propriedade, o nº. 2 de roubo e o nº. 3 de justiça, atrelando cada um às suas crianças e representando-as graficamente entre aspas.

A esta altura da história, o nº. 4, ao ver que tudo se acertou e todos foram contemplados com a possibilidade de desfrutar das maçãs, acreditando que o compartilhamento, como o era até pouco, fora voluntário, aproxima-se dos três e requer sua parte, tendo negado o pleito. Indignado, lembrando do que aconteceu, decide seguir o exemplo do nº. 2, ou seja, do “roubo”, e saca seu tacape. Porém, agora o poder não é mais equivalente, pois seria necessário golpear três. Insistindo em negar ao nº. 4 o acesso às maçãs, “propriedade”, “roubo” e “justiça” sacam seus tacapes e surram o nº. 4, expulsando-o do convívio por sua ousadia em querer parte das maçãs para sua sobrevivência. Assim nasce a exclusão social, fruto da força da aliança repressiva do “roubo”, “propriedade” e “justiça”, criando, com isso, ao mesmo tempo, o que viria a ser por eles chamado de “polícia”.

Tendo se livrado do nº. 4 pela exclusão social gerada pela força conjunta do “roubo”, “propriedade” e “justiça”, ou seja, pela “polícia”, estes passaram a fazer uso dela contra qualquer um que se aproximasse e, com isso, defendiam suas posses. Entretanto, certo dia, acerca-se-lhes uma fêmea que, aconselhada pelo nº. 4, “exclusão social”, que encontrara no caminho, ao contrário das outras das quais a “polícia” deu conta, não queria participar da divisão das maçãs, aparentando somente estar interessada em conviver com eles e vale-se, para isso, da sedução. Após uma noite de satisfação sexual para os três, a fêmea acorda com os três lhe servindo maçãs. Da lascívia com “propriedade”, “roubo” e “justiça”, encorajada pela “exclusão social”, surge a “prostituição”.

Desde então, seguiram-se várias noites de prazer gerados pela “prostituição”, até que, “propriedade”, tal como fez com o cesto de maçãs no início da história da humanidade, declara que “prostituição” é direito de uso somente dele. “Roubo”, também como no início da história, puxa seu tacape, sendo que, desta vez, antes do golpe, “justiça” o convida a conversar em separado. Após longa conversa “justiça” o convence a deixar “propriedade” achar que tem “prostituição” só para ele enquanto ambos encontram-se com “prostituição” sem ele saber. Este entendimento de “justiça” com “roubo” eles chamam de “traição”.

Ao retornarem, explicam para “propriedade” que aceitam, acatam seu direito. Da união entre “propriedade” e “prostituição” surge a “família”, sendo esta a forma que vai se considerar como perfeita até os nosso dias atuais. E, do acordo entre “justiça” e “roubo”, ou seja, da “traição”, para encontrarem-se com “prostituição” sem “propriedade”, nasce, no mesmo instante em que o casamento, ato que constituiu “família”, o “adultério”.

Desse modo, do egoísmo de “propriedade” no seu desejo por posse; do vínculo entre “roubo”, “propriedade” e “justiça”, gerando “exclusão social”, que encoraja a “prostituição”; do fato de “propriedade” acreditar que “prostituição” pode ser sua posse, criando a imagem da fêmea como objeto, desconsiderando todas aquelas que convivem com “exclusão social” e sobrevivem do fruto de seu trabalho; do anseio de mais posses de “propriedade” fomentando o surgimento de “traição”; da soma de tudo isso, nasce o que hoje conhecemos por “sociedade”.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Amanhã

Eu prefiro não olhar para frente;
Prefiro olhar para o céu enquanto caminho;
Prefiro não fazer planos para o futuro porque eles sempre dão errado.
Quero que vida passe da melhor forma possível,
Seja no claustro,
Seja a céu aberto.
No dia em que eu estiver vivendo o dia que virá,
Eu farei o que tiver vontade naquele dia.
Se eu tiver com vontade de sentar-me à praia para ver o mar,
Se eu tiver que me deitar no chão do quarto e chorar,
Se eu precisar beber até cair, se eu precisar amar,
Se eu precisar gritar, se eu precisar dormir, se eu precisar cantar...
Eu assim o farei. Não pretendo agora imaginar o dia que um dia vai chegar.
Se é chorar que você quer agora, então chore.
Se é sonhar, sonhe.
Se é amar, ame.
Esquece o que você quer amanhã
O que você quer hoje para amanhã pode não ser o que quererá quando acordar.
Quantas vezes já não se quis algo para um dia
E no dia seguinte se fez outra coisa com a certeza de que era isso somente que tinha que ser feito?
Importa-me que o sol se sinta sempre sol,
Que a noite saiba sempre sua hora de vir, independente da minha vontade.
O mais... Não faz diferença.

É a vida....

Murcham-se as flores,
Caem das árvores as folhas,
Cai a fina chuva,
O sol se esconde,
Porque o homem passa.
Porém amanhã...
As flores renascerão,
O sol reaparecerá,
A árvore terá novas folhas,
E ninguém perceberá
Que, ontem, o homem passou...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Terra do Nunca

Não sinto saudades, como diz o poeta,
Da aurora da vida, infância querida
Que hoje já descansa perdida no tempo.
Eu sentia à incerteza da adolescência inquieta.

Adulto, tornei a viver como criança
Sem saudades e sem negar o fastio
Das responsabilidades impostas e...
De tudo o mais com que temos de lidar.

Tornei a descobrir um mundo novo
Mesmo ao olhar para as coisas mais conhecidas,
Transformando a realidade a cada instante.

Ter o prazer de correr pela rua
Só para sentir, despreocupado e livre,
O vento suave a tocar-me a face nua.

Poder brigar com um amigo e
Estar certo de nunca mais falar com ele
Para cinco minutos depois abraçá-lo.

Tornei a me permitir conversar com os sonhos
Da mesma forma que com todas as coisas
E viver no País das Maravilhas.

E dizer que odeio ao crer ser ódio o que sinto,
E dizer que amo ao crer ser amor o que sinto,
Ainda que ambos sejam no mesmo instante.

Encarnei o Espírito de Peter Pan
Para nunca deixar de brincar com o real
E transformá-lo até deixar de sê-lo.

E até que os tons de preto e branco
Sejam então as cores com que pintamos
E que a vida seja realmente brincadeira.

Às vezes de mau gosto a pregar-nos peças.
Às vezes é de esconde-esconde
Onde tudo que se precisa tem de procurar
Pois está em algum lugar, bem escondido.

E até que o real se torne sonho
E não o contrário, pois não há nada pior
Que um sonho que seja tão superficial e monótono
Que se possa tornar real.

Estou farto de realidade.
Não quero que meu sonho se torne real.
Quero que o real seja como meu sonho.

Vou bem, obrigado

Vou bem, obrigado

Não comemoro nada porque sei
Sei que depois vai dar errado
E não choro porque sei
Sei que depois vai ser pior.

Estou bem?

Não sabem que de angústias e incertezas minha alma transborda.
Não sabem que minhas lágrimas vertem
Mas para dentro e queimam meu coração,
Que não há no mundo ser humano mais fraco,
Que mais tenha chorado, que mais tenha desistido de tudo.

Em algum momento de minha vida
a história me esqueceu ou eu me perdi nela.
Acabei seguindo outro rumo e cheguei onde estou.
Em lugar nenhum.
Incapaz de me identificar
com o mundo à minha volta, com qualquer cidadão
aqui, à margem do mundo, o tempo não pára, nem passa.

Dura.