domingo, 12 de julho de 2015

De Porta em Porta



Atrás desta porta que fecho,
que se fecha atrás de mim,
guardarei muitos dos melhores momentos
que a vida comporta.

Mas eis que é necessário cerrar
pois que a forte corrente de ar
poderia vir a lançar ao chão
tudo que enfeita as prateleiras
desse quarto passado ante a partida.

Do lado de fora o corredor
com tantas portas e quartos
me observa o peso do peito,
o difícil respirar e os passos titubeantes.

Mas ao fim dessas paredes velhas
que me estreitamo caminho e me apoiam
há outra porta, cujo vidro só me permite
ver as cores sem formas do outro lado.

Então o espaço opressivo desta caixa de metal
agride-me mais que de costume
ao me reportar a mim mesmo
em sua superfície objetiva e reluzente.

Enfim, quando consigo abrir
a pesada porta da saída de emergência,
e tal qual navio sem bússola
que não sabe onde está porém necessita atracar,
aporto no mundo ousadamente real
no qual os pássaros cantam,
a cidade corre sem se importar
e a vida segue,
mesmo que hoje o sol tenha esquecido de brilhar,
apesar de mim.

sábado, 13 de junho de 2015

O que mais quero


Quero o vazio, a escuridão e a solidão.
O vazio é o espaço onde se pode criar,
A escuridão é o que há por desvendar
E a solidão é o contato consigo.

Quero a tempestade que alaga
E me faz duvidar da segurança do chão em que piso.
Quero a neblina que me traz o horizonte para perto
E me obriga a redescobrir o que eu já sabia.

Quero a angústia que me mergulha na incerteza
Tanto sobre o seguir, quanto o ficar ou voltar.
Quero o desespero, sem o qual
Não posso cometer a loucura de decidir.

Quero ter o prazer de sentir dor
Sem a qual não saberia quando estou bem.
Quero me afogar nas profundezas da tristeza
Para poder saborear toda a felicidade.

Quero a morte, confirmação do privilégio de ter vida,
A qual quero, em última instância, em toda a sua intensidade.

sábado, 6 de junho de 2015

O sentimento dos sentimentos


A realização de todos os desejos

seria a constatação da morte da vida.

Toda satisfação seria aquele beijo

que vem a selar do seguir a despedida.



A comunhão entre aquilo que já há passado,

o que se faz presente e o que se quer futuro

é o concerto entre o dado, o fardo e o fado;

o alegre e a saudade, o deleite e o duro.



Esse instante e estado no qual coexistem

sonho e júbilo, dores e aflições

onde as três ilusões do tempo não insistem



Em diferenciar-se na atualidade

onde se inspira, inspira e expira as sensações

não obstante as agruras do vir e porvir



É a felicidade.