quarta-feira, 14 de março de 2012

Música



Música é a linguagem universal
Pela qual se pode expressar
Quando a linguagem não é suficiente
E as palavras, gestos e expressões

Se transformam em prisão para o ser
E as sensações explodem por serem
Muito maiores que nós mesmos,
Por serem superiores à racionalidade humana.

Daí nasce a música para cantar,
Mesmo que sem qualquer voz,
Aquilo que sufoca e oprime,
Por mais que seja a alegria.

Não se prende aos idiomas
Ou mesmo às pessoas.
Não tem nação, não tem fronteiras,
Sexo, cor ou religião.

Qualquer um que parar para escutar
Poderá compreender o que se tinha a dizer.
A música é a expressão sonora pura da alma.
Mas...

Algumas almas não sabem se expressar.
Outras não tem nada a dizer.

Publicar Poesia



Sim,
Ainda que eu não goste,
Publico praticamente todos
Os versos que rascunho.
Essas frases cortadas
Justapostas (aglutinadas?)
Em linhas puladas.

Sim,
Torno público
Porque alguém pode gostar.
A quem não agradar,
Este não precisa ler.
Mas, ninguém, de nada,
Privar eu quero.

Sim,
Nunca se sabe!
Mais um livro não faz mal,
Já se menos um
Pode fazer muita falta.
E o que apraz muda com o tempo,
Então, deixe-os pegar poeira.

Não,
Não tenho vergonha.
Se alguém acha que eu o devia,
Critica pela crítica
E não quer nada construir.
Esquece que o gosto é individual
E é o leitor quem termina de escrever.

Esperança



Quem nunca ouviu dizer
Que a esperança é a última que morre?
Só que isto é bobagem.
Ela é na verdade a primeira.

Quantas vezes já não se havia desistido
Para algum tempo depois perceber
Que após isso se realizou o intento
Outrora tido como impossível?

A esperança é a primeira que morre,
Mas, tal como a fênix, tantas vezes
E a qualquer momento, enquanto durar a vida,
Pode renascer das próprias cinzas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Meio Sonho



Não se faz a menor idéia
Sobre como vai ser a vida no porvir.
Às vezes se tem muitas idéias,
Às vezes nenhuma.
E qualquer idéia que se faça
Pode ser outra em poucos instantes
E que qualquer coisa que se planeja para frente
Será só algo que fará 'errar'.
Planejamento é razão demais para o futuro
Que já perdeu todas as cores da espontaneidade.

Nunca algo sairá exatamente como imaginamos.
Então, planejar é errar. Se der sorte, somente em 'parte',
O que é diferente de sonhar.
Só se erra naquilo que se tenta?
O erro é fruto da vontade concretizada
Onde há também acertos?
Porém, sonho também age e cria;
Sonho é mais que vontade, é mais que desejo,
Não quer lógica, quer sonho.
Quando se sonha, se quer, se deseja, não se planeja.
Se o sonho se realizar pela metade,
Terá sido realizado por inteiro,
Porque não há sonho que seja metade.



Toque de Midas


Desculpe-me por ter fingido
Ser alguém em quem se pode confiar.
Desculpe-me por ter perdido
Horas e horas suas a fio,
Pois sou um bêbado vadio
Que a nenhum lugar vai chegar.
Sou o retrato do fracasso
Sou na vida somente um quase,
Um sujeito de todo, de tudo, lasso.
Somente a flutuar em mais um sonho
Com meu feliz coração tristonho.
Não há nada que eu não desgrace.
Fuja rápido enquanto há tempo
Para não te contaminar minha melancolia
E a lamúria de meu tormento.
Corra para onde te achar eu não possa
Para que não mergulhe nessa mesma fossa
Que esperança alguma lhe trazer poderia.

(Não só minhas atitudes como eu inteiro sou inadequado.
Se quero rir, choro; se quero chorar, rio.
Se quero aproximar algo, afasto; se quero afastar, aproximo.)

E nessa agonia profunda,
Que a minha existência inunda,
Não quero que você se coloque.
Sou de Midas o toque.


Poema do Pretérito Mais que Presente

Vejo um ensejo


Com tempo contemplo um templo.
No entanto me encanto com o pranto
E me deleito se deito num leito,
À despeito do respeito pelo que jaz em meu peito,
Qual doce fosse a foice que
Sem razão, para dar vazão à paixão do coração,
Não nego, com um prego carrego.
(A alma à calma bate palma)

À parte a parte que se parte,
Aparte destarte a arte.



À noite eu chorei ontem



À noite eu chorei ontem
Enquanto o quarto eu arrumava.
Sei que errei. Não preciso que apontem.
Acenava a partida de quem amava.

Naquele instante eu me despedia
Mas era de mim, pois a alma é una.
Não há como fazê-lo nem um dia.
Despedi-me de mim mesmo; do porto à escuna.

Suicídio seria isso.
Então não digo adeus.
No que sinto não serei omisso.
Estaremos sempre juntos.


segunda-feira, 5 de março de 2012

Felicidade



Rio da dor e choro da felicidade.
Não raro isso me acomete.
Mas não me creiam sádico ou masoquista
Nem qualquer outra coisa do gênero.

Apenas acho engraçado o porquê
As pessoas dizem sofrer e deveras sofrem
E entristeço-me dos motivos que
Normalmente lhes gera felicidade.

Se é feliz quando se olha o passado
E então se dá conta de que
Se precisasse viver tudo exatamente como aconteceu,
Viveria cada momento sem hesitar.

As alegrias, as tristezas, as angústias,
Os arrependimentos, fracassos, sucessos... Tudo.
Afinal, ser feliz é viver a vida com todos seus temperos
E saber apreciar cada um deles.

Poesia por Definição



A única conclusão que chego
É que não sei o que é poesia
E qualquer definição que se lhe faça,
É ensaio, esboço.

Tentar ser completo e definitivo
Só lhe embrutece e limita.
Algema à classificação
E com isso, mata-a.
A poesia é livre,
Mesmo que o poema
Ou o poeta não o sejam.
O pouco que conheço dela,
É que não se aceita tolher,
Nem pelos versos, nem pela rima,
Nem pela métrica.
A menos que naquela hora
Seja ela rima, métrica e versos,
Mas assim escolherá por ser livre,
Não por prévia definição.


*Poema do Vida e Poesia

Silêncio e Solidão



Há gente que não gosta de ficar só.
Outros o tentam mesmo na multidão.
Alguns tentam fugir de si
Por não saber aproveitar a solidão.

Mas é no silêncio que ouvimos a voz
Que vem de dentro de nós.
Porém, às vezes, não se quer ouvir
O que nossa alma tem a nos dizer.
Ela pode ser muito severa.

E a solidão é momento de ouro
Em que se pode aproveitar tranquilo
A inestimável companhia de si mesmo.

Deve ser gente muito irritante
Aquele que não se atura
E não degusta seus próprios pensamentos,
Sempre fugindo de si e do silêncio.


*Poema do Vida e Poesia

Vida mais ou menos


Vida mais ou menos...
O que sobra anula o que falta.
Falta alegria. Sobra melancolia.
E a equação é igual a zero.

Eu tenho tudo o que quero. Nada.
Na inocência da infância parva
(Que bem cedo perdi)
Eu cria que só criança chorava.

Hoje já me foi dado saber que
É no fracasso a melhor aposta
Que alguém pode, decerto, fazer.
É este que sempre triunfa.

Por que tudo à minha volta
O aroma da tristeza exala?
A vida está toda envolta
Por terra... Uma cova. Uma vala.

O único momento em que
Posso me perguntar sinceramente se
A humanidade deve existir
É quando lembro que minhas obras
Podem acabar por se perder.

Nada é mais humano que a miséria.

Neste momento as folhas dançam à brisa

Neste momento as folhas dançam à brisa
E o instante para mim é eterno.
Mas seria perfeito, algo me avisa
Se você estivesse aqui neste inverno.

Queria falar sobre as nuvens, os céus.
Compartilhar deste momento a beleza
Não só pelos versos que rabisco neste papel,
Mas respirar da sua alma a pureza.

Ao mundo engrandeceria a sua presença,
Mas você não pode estar cá por perto.
Ah... Seria decerto uma alegria imensa.

De saudade meio peito está coberto
Pois não houve até hoje qualquer desavença.
Apenas fomos pegos pelo destino incerto.

Descanso sozinho e de repente ouço



Descanso sozinho e de repente ouço...
É minha vizinha quem chora.
Queria poder lhe dizer
Que a vida é mais que um quarto
Cuja tristeza pesa sobre seu dorso
E que a noite não se demora
Quando não pertence a você
E que abrir a porta é um nascimento
Mas não um parto.

Entretanto, quartos há tantos
Que minha voz não os pode alcançar.
Por isso escrevo estes pobres versos
A fim de que outros possam olhar.
A vida é mais que metade. Não é inteiro pranto.
Assim como decerto a vida, o momento há de passar.
Este sentimento sairá pela janela disperso
Com os outros no universo a se misturar.

Uma obra de alguém vai inspirar.

A alma numa fotografia



“Não vou subir no palanque da mediocridade”
“Eu tenho a cara da tristeza”
Foram as palavras de alguém que
Desejava com ardor a morte
Não querendo mais viver e
Sem perceber que ela é também
Inescusável parte da vida.
De suas palavras, angústia jorrava.
Não notou que o ouvia a quem
A sua esperança partida
Inspirava alguma poesia.
E nada de mais belo havia
Do que a expressão do sentimento;
A alma numa fotografia.

Noite na praia


A vontade chega-me como uma vaga
Envolve-me violentamente e passa
Puxando-me sob os pés o tapete de água.

Permanecem em mim seus vestígios
Ainda após a dolorosa queda.
Ficam em mim areias de sonhos fugidios.

Sonhos antigos me arranham a pele
Seguidas vezes no mesmo lugar
Fazem com que a cicatriz, minha tristeza sele.

Quando quase podem meu corpo atravessar
Os grãos de ontem que hoje me ferem,
Nova vaga vem me lavar
Permite-me levantar para depois me derrubar.



Soneto da guerra




A imagem de grandes heróicas batalhas
Das quais surge a honra dos mais nobres guerreiros
Nos campos onde a morte exala seu cheiro
Gera em meu peito uma fagulha sobre a palha.

Brotam no coração vontades, emoções
Que fazem crer na necessidade real
De lutar e morrer pelo seu ideal
Movido pelas, do bem social, razões.

Olhe para aqueles que são nossos iguais!
Montemos nós uma nação universal
E nos reconheçamos como membro desta tal.

Incendeie o coração com da luta o gás!
Façamos guerras como parte e como todo.
Ergamos nossos sonhos da miséria, do lodo!