sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Uma noite

A noite se impõe sobre as ruas desertas. Não há viva alma ao ar livre, mesmo sendo noite tão quente. Os prédios apagados aumentam ainda mais a escuridão e até é possível ver algumas estrelas. Silêncio total no centro da cidade. A impressão que se tem é a de que se está prestes a sofrer um bombardeio e que os cidadãos estão enclausurados em seus bunkers temendo pelo fim de suas vidas. As famílias reunidas conversando apenas por pensamentos para que os mísseis inimigos não os descubram ali, rezando pela existência. Nesse momento, consigo até ouvir o som da brasa que queima o tabaco de meu cigarro, sou capaz até de lembrar que respiro.

Nas sombras, ao olhar pela janela, algo caminha em passos arrastados. Um homem que revira o lixo para obter seu sustento. A única vida que se vê na cidade. O único som que se ouve. O ruído da existência que não se pode abrigar na segurança dos bunkers nessa noite. Prestando bastante atenção, ouço algumas vozes. Ao longe, no alto da rua, perto da esquina, um casal, deitado no chão sobre pedaços de papelão, conversa sobre algo que não posso entender. Somente esses quebram, ou talvez aumentem, a impressão do toque de recolher. Com tal quietude, não há como conter a imaginação sobre as possibilidades desse quase retorno aos tempos remotos em que o descanso não era  perturbado pelo constante som de automóveis que correm ruidosos pelas vias como se fossem animais a marcar o território. Do outro lado da rua, um pequeno mercado aberto. Para quem? Para o próprio dono somente, que tem nele sua única companhia e que o deixa aberto sempre que está acordado. Dali e da minha janela, vem as únicas luzes a perturbar a escuridão. (Mas o mercado nunca está aberto até essa hora!) Olho-o da sacada de casa. Ele, sentado na cadeira de praia posta como todos os dias na calçada, também me vê, afinal, seria impossível não notar uma luz acesa. Pareceu-lhe surgir algum quê de esperança sem explicação. Esperança de quê? Talvez de alguém notar que ele existe. Volto para a sala. Apago a luz para incentivar a noite a crescer.

Hoje a cidade nos dá uma trégua da sua insanidade, mas, com os que vagam na rua sem ter para onde ir, nos permite lembrar que ela ainda existe e em poucas horas retornará. Nesse clima de catástrofe, armagedom, fim dos tempos é até possível descansar o ouvido dos eternos ruídos da cidade e acalentar o espírito, que sofre com a pressa do dia a dia. Nem mesmo os cães ousam latir e perturbar o tão esperado repouso do espírito.

Nessa fantasmagórica Porto Alegre, é Natal.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um outro cartão de Natal

Feliz natal?

Feliz natal aos palestinos que são cercados por um muro como se estivessem num presídio, por cometer o crime de nascer.

Feliz natal aos que moram na rua e são olhados com maus olhos por tentar sobreviver.

Feliz natal a todos os desempregados e subempregados que compõem o exército de reserva.

Feliz natal aos que não tem acesso a água potável, saneamento, educação, saúde e tampouco lazer.

Feliz natal aos que terão de trabalhar mais de 40 anos para se aposentar e aos que nunca poderão se aposentar pela miséria das pensões.

Feliz natal aos negros que são ainda surdamente discriminados.

Feliz natal aos GLBTs que engrentam preconceitos, principalmente os que foram agredidos na Av. Paulista ou assassinados pela ignorância nos diversos rincões do Brasil e do mundo.

Feliz natal aos deficientes físicos que tem sua pouca liberdade limitada pela falta de acessibilidade das cidades e que não conseguem emprego.

Feliz natal aos refugiados e presos políticos e às vítimas dos regimes ditatoriais, presas sem julgamento e esquecidas nas Guantánamos da vida.

Feliz natal aos viciados nos mais diversos tipos de droga que preferem fugir da vida de miséria acelerando o processo de morte com crack, heroína, e outras.

Feliz natal às vítimas de todo tipo de violência, com destaque às vítimas da violência do Estado.

Feliz natal a quem só tem opção de morar nas malocas e pocilgas ao longo do mundo por receberem salários miseráveis.

Feliz natal aos que já nascem condenados à morte e à miséria.

Feliz natal às prostitutas, exploradas pelas casas, pelos clientes, enxovalhadas pela família e pela sociedade.

Feliz natal às mulheres e crianças vítimas de violência familiar por agressões físicas, verbais, subjetivas ou abuso sexual.

Feliz natal aos que foram esquecidos e aos abandonados.

Feliz natal aos deprimidos, bipolares, ansiosos, aos que sofrem de síndrome do pânico, aos psicóticos, vítimas da exclusão e da pressa, do terrorismo da mídia e discurso do medo, do fantasma do desemprego, etc.

Feliz natal a todos os que foram largados nos asilos, manicômios e prisões em condições desumanas, como se a pena fosse maior que a privação de liberdade; aos que não tiveram direito de defesa e aos que mesmo depois de cumprir a pena legal, permanecem confinados.

Feliz natal às crianças e adolescentes que tem de parar de estudar para trabalhar.

Feliz natal aos que tem o direito de permanecer calados e aos que 'confessaram' sobre tortura.

Feliz natal e descanse em paz a todos que vão morrer de fome enquanto há gente que se empanturra com a ceia de natal e não sabe onde pôr tanta comida que vai estragar.

Felicidades a todos os não cristãos e cristãos.

Feliz natal às minorias; todos nós.


Maiakovski
Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin escreveu, ainda no início do século XX :

No caminh ocom Maiakóvski (Eduardo Alves da Costa)
Na primeira noite,eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.


Depois de Maiakovski
Bertold Brecht (1898-1956)


Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro


Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário


Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável


Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei


Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)

Martin Niem ller, 1933


Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar.


(Martin Niem ller, 1933)


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Arte de Escrever

Escrever é como cagar.
Às vezes se tem que fazer esforço
E sai aos pouquinhos.

Às vezes se sabe que se precisa escrever
E se tenta, se esforça e não sai nada.

Às vezes se segura por não ter papel
Ou não pode fazê-lo no meio de todo mundo.
Então, se chega numa privada parte
Ou de preferencia na própria casa e,
Quase sem pensar,
Se expõe ao mundo aquilo que lhe afligia.
Porém, às vezes, de tanto se controlar,
A vontade passa.

Outras vezes são tantas ideias,
Que mal se pode levantar
E outra vez tem que sentar
E continuar o trabalho.

Depois de tanto escrever
Ainda temos a impressão de que podemos mais
Rabisca-se algo, mas só suja o papel.
Perde-se tempo e não sai nada.

Às vezes se pensa que
É apenas uma pequena anotação
E quando se vê, desprevenido,
Se faz uma grande obra.

Há gente que diz que vida é poesia.
Agora acho que concordo.
Por isso toda essa merda!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Não sei bem porque principiei a transpor os pensamentos ao papel. Creio que não haja explicação. Não se decide escrever como não se decide falar. É simplesmente uma maneira de se expressar, porém a palavra falada se perde quando acaba de ser dita, persistindo somente na memória de quem ouviu e sofrendo alterações quando o conteúdo é repassado. O texto não.

Peregrinação

Procuro. Procuro por um caminho.
Caminho que sequer existe.
E se não bastasse, não sei o caminho.
Não sei o caminho e inda sigo o errado.
O errado porque também não existe.
E, na trilha, não encontro as coisas.
As coisas que tenho e sei quais são.
Sei, porém não posso mostrar
Já que não consigo ver, mesmo vendo.
Vendo a todo tempo, sempre!
E choro todo dia,
Mesmo que não role por meu rosto
A lágrima. A lágrima
Pelas coisas que não são nada
Embora sejam tudo,
Pelo caminho pelo qual corro parado,
Por tudo, por tanto, portanto.
E para quê? Por quê?
Um sonho.
Sonho que sonho sem sonhar.
Mas sonho a todo instante
Porque amo e desejo, todavia,
Não... não quero.
E para quê? Por quê?
Por uma vida,
Um sonho, uma lágrima.

Minha terra

Minha terra tem tiroteios
Onde canta o HK;
Os pivetes que aqui saqueiam
Não saqueiam como lá.

Rancor

Faz um favor?
Diz que eu pedi para avisar:
Que o tempo passa.
Discreto e sorrateiro, segue
E não nos damos conta.
Até que a certa hora
Se lembra de olhar para trás,
Mas, é tarde.
Não há, nunca há retorno.
E continuar olhando
Só faz sofrer.
Quem disse que não mata?
O arrependimento mata.
Mata de desgosto a quem
Distraído não viu chegar a hora.
Agora?
Agora, cuidado para ao fechar os olhos
Não se ver no passado lá dentro deles,
Pois assim se definha.
E... Você olhando para o futuro,
Distraiu-se, esqueceu...
Enquanto isso...
O tempo, que não para,
Passou.”

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Inércia do Tempo

Hoje, há quatro anos atrás,
Eu – sim, eu – tinha toda a certeza
A mesma que ainda em mim mora; jaz.

Naquela época doía-me o peito
Tão fundo que não mais sinto,
Pois dói-me a existência por inteiro!

Eu dormiria numa hora como esta,
Mas corre amarga e quente, não minto,
Aquilo que minha vida gesta.

Ah, mas há muito já passou isso...
Queria poder chamar tristeza!
Decerto já passou disso.

O que será então que espera?
O que sucede à ânsia de morte?
À ânsia sincera?


26 de novembro de 2008

Lamúrias de um proto-pseudo-poeta

Quantas perfídias a vida nos traz!
Só de pensar em olhar para trás
Já se me escurece a torpe vista
E a alegria de mim sempre dista.

Por que um dia sequer eu consigo
Distrair-me do passar do tempo com amigos,
Voltar-me para o sol impossivelmente real e sorrir
Sem pensar em deixar-me para sempre partir?

Cansei de meus olhos sempre secar, como vês,
Com espera de anseios irrealizáveis.
O céu foi-se de vez embora.

Vagueam na mente diversas confusões
Despertando centenas de emoções
As quais não dá mais para conter.
Veja quem quiser e puder ver!

Tento repor as fibras do coração
E vejo, não é possível mais não.
Deixe-me deitar aqui sobre o chão.
Tentar pegar a vida com a mão...

O sino bate agora a hora zero
E eu confiantemente lhe espero.
Juro não titubear.

Quando na praia rebentar a vaga
Nunca pense ser isto uma praga.
É o meu sempre querido destino
Que tenho sonhado desde menino.

Se na hora da alvorada eu lançar
Confiante meu corpo duro ao mar,
Não se admire pois estou certo
De que meu fado é qualquer deserto.

Apenas deixei de jazer na alma
Para, dotado de imensa calma,
Eu abraçar a tenra negra nuvem
Que acima paira, mas vocês não vêem...


Comigo, por favor, não se irrite
Este foi meu longínquo limite.
Não posso mais um dia suportar
Passar o meu tempo em qualquer lugar.

Meus sentimentos são cacofonia!
A mais terrível que ninguém quereria
Se quer por um só segundo ouvi-la

A criatividade também morreu.
E agora? Nunca saberei quem sou eu?
Não saberão sequer que eu existi,
Que triste sentou um homem aqui.

O que foi?

O que é que foi? – você me perguntou.
Tudo. Agora tudo se foi.
A última estrela do céu se apagou.
Tudo o que eu vejo dói.

Uma infinidade de vidas eternas não seria suficiente
Para enxugar todas as lágrimas que descem
Molhando meu coração com seu sonho inocente.
O escuro de minh’alma do horizonte vai além.

Almejo um ensejo de reacender a caroável chama
Que bruxuleante ilumina um mínimo de futuro baço
Com talvez um bom dia e alguém que ama.

Todas as portas se fecharam e barreiras subiram
Os caminhos se obstruíram e sobre mim desabou o telhado.
Eu, soterrado alhures onde só os abutres viram,
Em minhas angústias e amargas lágrimas, estou afogado.

Desisto de tentar ver um inexistente futuro doce.
Tudo... Por isso, tudo se foi.

Mentira

A mentira é uma verdade em sonho.
Não é falso se digo que sou rei.
Nunca é errado o que digo que sou ou serei.
Afinal, à noite, num mundo onírico me ponho.

Talvez nada mais que um sonho seja a vida.
Pois se sonho nele vivo, e se nele morro; acordo.
Às vezes meu dia parece uma poesia lida,
Uma fantasia desperta da qual estou a bordo!

À medida que penso, mais me confundo.
Não posso provar que existe um lá a ir,
Se quando lá estou, lá é aqui!
Caio mais e mais num poço sem fundo.

Interrogações! Interrogações surgem aos milhões!
As quais nenhuma eu posso responder.
Pode ser que este monte de questões
Seja a grande razão para se viver.

Criar mentiras infundadas para lograr a mim mesmo;
Teorias das mais absurdas colhidas a esmo
De parte alguma com nenhum sentido
Fazendo, então, o mundo menos sofrido?

Talvez...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sala de Espera

Cheguei em casa e a encontrei no escuro
e por entre as paredes tristes reverberava o silêncio
no qual ela se mergulhava, eu lhes juro,
esforçando-se para manter-se de pé e o pescoço prende-o

a corda que, atada na madeira do teto,
ainda se recusa a enforcá-la.
Ela, com lágrimas nos olhos e o espírito repleto
do peso da certeza do improvável, ali na sala,

quando me viu pediu que eu não a impedisse
mas somente respondesse a uma pergunta.
Se toda estrada era mão única e o mais tolice

com que a vida é somente Uma escolha sem volta
Um eterno "nunca mais" - perguntou-me a Esperança.
Na minha impossibilidade de resposta, tombou a cadeira e pendeu solta.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Crepúsculo Primaveril

Ah, meu doce crepúsculo,
Só eu que o adoro
Para saber como é belo!

Aos poucos as sombras fortalece,
A escuridão adentra minha casa
E equaliza a pressão que há dentro de mim.

Turva-me a vista e permite-me a mentira
E deixe-me fantasiar as coisas em outras.
Traga-me o poder de sonhar!

Oculta as cores várias da primavera
Que elas não são minhas. Meus olhos não são dignos dela
Nem elas de conceber-me aqui. Concede-me-o?

Triste é a aurora que insiste na verdade
Quando não há mais ninguém que a queira ver.
Vá de retro aurora e para, ó tempo!

Quero sossegar nessa poltrona,
Mesclar-me à escuridão vindoura
Pois é esta que me afaga.

Não sabem como me alivia, me enternece
Saber que após cada dia, é certo,
Vou vê-lo mansamente, por toda parte, chegar.

Chega de luz! Basta! Leva embora!
Leva embora essa luz que a luz adoece!
Só a sua inexistência para amenizar o peso da minha.

Wind’s Silent Song

Before you ask me to
I say that, for its English, i’m sorry
But this poesy of youth,
Told me the wind, don’t worry.

He sang me by the window
Coming softly and sweet to me.
His song, instead of sorrow in the middle,
Brought me the happiness of being.

Whispering on my ear
He takes me out flying in the air
And made the cold floor’s tear
Become a huge of a fair.

Soaring to the infinity sky
Laying on the dreaming clouds
I found, my wonderful dream, nearby
And I saw the life with no bounds.

That was my own
Floating with me and besides
Was the pleasure that I’ve found
In the existence that the world hides.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Literatura Sem Fins Lucrativos

Nobres colegas,

Comunico-lhes que já estão em minhas mãos os exemplares do meu primeiro livro publicado. Livro do gênero de poesias. Adotarei o sistema de “Literatura Sem Fins Lucrativos”. Cada interessado paga pelo exemplar quanto achar que deve e se achar que deve, sendo o mais importante o acesso ao conteúdo e a leitura. A título informativo, como questionaram-me os que já adquiriram os exemplares que chegaram ontem, cada um teve o custo de 13 reais. Os valores pagos serão utilizados exclusivamente na publicação dos demais livros e eventuais reimpressões.

Adianto que estes, valendo-me de eufemismo, não são os melhores textos, porém publico-os para que se faça uma cronologia do desenvolvimento literário, em que este e o próximo livro, que aguarda somente condições financeiras para a publicação, representam uma primeira fase da literatura pessoal. O segundo, que se chamará “Pretérito Mais Que Presente” é uma espécie de transição para o terceiro, o “Vida e Poesia”. Bom, deixo cada livro, os três de poesia, para o momento em que for publicado e atenho-me a este.

“Em O EU Mais Íntimo, livro inicial da obra de Diego R. Mileli, o autor ensaia os primeiros poemas, os quais a maioria foram escritos na adolescência, período de natural inquietação em que se impõem reflexões e se inicia o desenvolvimento maior da crítica buscando descobrir o mundo e, principalmente, a si mesmo. Tal inquietação gera encanto e desencanto constantes, carregando a obra de profundos pessimismo e tristeza, onde se prefere “... a incerteza da noite certa” à “...certeza do dia incerto”, os quais se contrapõem a alguns florescimentos de paixões e enlevo com a vida, chegando ao ponto de afirmar: “amo o amor acima e tudo”. Melancolia e solidão, por vezes apáticas, transbordam na obra em passagens como “Feliz é quem não pensa na vida.” ou “Não estou triste por estar só, estou só por estar triste.”, bem como a invisibilidade e o anonimato das pessoas no mundo moderno. Os poemas flertam com a morte e mergulham para dentro de si mesmo, um 'si' que é o EU de toda angústia, e navegam nos sonhos. São poemas que tratam diretamente dos sentimentos e das sensações que provocam. Sobre o autor, ele mesmo fala abertamente sobre si na época da escrita dos textos no poema “Quem sou?”. Naquele momento, descreveu-se: “Sou a amarga lágrima última que verte dos olhos da esperança... Eu sou da alegria o derradeiro suspiro... Sou o aceno de partida... Sou a existência absurda.””

Os interessados deverão entrar em contato para acertar formas de envio para os que não residem em Porto Alegre.

Abraço,
Diego R. Mileli

sábado, 18 de setembro de 2010

Um breve protesto à Academia

Seria preciso muito mais tempo e espaço para discutir essa questão, porém, como, pelo menos por enquanto, não pretendo fazê-la e como não sei se um dia pretenderei e me debruçarei sobre isso, pretendo aqui somente levantar a discussão para os que quiserem pensar a respeito da academia como embrutecimento e exclusão, como obrigatoriedade para se ter direito a uma condição de menos subsistência e um pouco de vida. É preciso se livrar da academia e sua fragmentação, seus limites disciplinares e suas adesões a correntes interpretativas para o pensamento voltar a fluir, pois o mundo não se adequa às classificações humanas. É um todo que não pode ser devidamente compreendido se não for visto dessa forma. A separação entre as ciências é a separação dos fenômenos simultâneos e das perspectivas de análise do inter-objeto, ou seja, do fenômeno.

Vivemos um grande excesso de fragmentação do estudo “científico”em centenas de disciplinas que sequer conseguem existir por si mesmas e não há trabalho de análise de qualquer objeto de várias disciplinas onde não se possa encontrar interdisciplinaridade, deixando flagrante a ineficácia dela por si e funcionando como instrumento, consciente ou não, do retorno a parâmetros mais amplos de compreensão da natureza, do mundo e da vida. Mesmo os acadêmicos individualmente refletem tal fenômeno em suas formações em diversas micro-áreas em graduações, mestrados, doutorados múltiplos. A academia tentou sugar todo o conhecimento para dentro dela e se cristalizou de tal forma que hoje só se acredita que alguém sabe de algo se tiver passado por ela, se for “bacharel. Inclusive extende seus tentáculos aos concursos públicos, excluindo os que não possuem formação atestada por ela do acesso a cargos públicos. Pululam as universidades de baixa/baixíssima qualidade, só para satisfazer à necessidade de diploma, necessidade essa criada simplesmente para garantir vagas de uns e outros e diminuir a concorrência com a população em geral na busca de um salário decente, difícil de encontrar aos que não encontram na universidade algo que lhe chame a atenção ou que não teve possibilidades de acesso e conclusão de uma graduação.

Como resultado disso, o que se vê é muita opinião sobre pouca coisa e o sufocamento das idéias pela simples repetição, pela ditadura do método acadêmico e da bibliografia; uma sociedade mimética. E o sentimento intrínseco latente dos “acadêmicos” se achando senhores seres superiores, esclarecidos que devem orientar o mundo para sua salvação, não por caridade, mas por arrebanhar parecer demonstrar verdadeira a “superioridade”, ainda que se esteja completamente distante da sociedade e de seu desenvolvimento dinâmico e sem classificações e disciplina. A academia bitolou o pensamento, de forma que este não consegue mais correr para além de um campo específico, fragmento do conhecimento e que se crê inteiro... Tendo percebido sua falência, consciente ou inconscientemente, a academia tenta se resgatar, se ressuscitar com as inter- e multi disciplinaridades, num esforço provavelmente vão, pois, como uma casa velha que persistiu sem reformas estruturais em seus alicerces, deve ser demolida ainda que seja para se construir outra casa no lugar, que, por mais que seja igual, será outra.

Tormenta marítima

Não me importo se não aceitas
As minhas sinceras desculpas.
Reconhecer as faltas feitas
É a maior virtude humana nessa era!

Minha alma é a maior das tormentas,
E um maremoto a mais
Criando a onda que na praia rebenta,
Diferença nenhuma agora faz.

Todos os aventureiros navios
Naufragaram sempre nesse mar.
Meus nobres anseios vazios,
Não se está apto a resgatar.

As velas em trapos voaram
A âncora, esqueceu-se no porto.
Os meus restos não encontraram...
Pairo sozinho neste mar morto.

Morto em nome dos aventureiros
Que se afogaram em suas ondas,
Tendo perdido seus veleiros
E para achá-los, perderam-se as rondas.

Somam-se lágrimas e mais lágrimas
A este infindável mar vazio.
Dos anjos as maiores lástimas
Não fizeram parar este frio.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Carta a um amigo

Para que lançar ao lago
A pedra nas águas plácidas
Em vez de então apreciá-lo
Ao sol ameno do outono?

Admira as folhas que caem
As que persistem no galhos,
Verdes ou amarelas,
Pois hão de ser sempre folhas.

Lava-te o lasso rosto
No frescor das águas calmas.
Sobre a relva, senta-te
À sombra da grande árvore.

Saiba que a vida é tua
E tu o único dono.
Segue pelo caminho
Que na hora desejar.

Se quando o for seguir
Não encontrar o teu rumo,
Dá, pois, azo ao teu prumo.
Aproveita o tempo e descansa.

Observa atento os tropeços
Dos que passam apressados,
Perdem-se pelos caminhos
Que nunca hão encontrado.

Já se dormir ao relento,
Usa-te do firmamento
Para cobrir-te a alma,
Aquecer o coração.

Na manhã, quando acordares,
O instinto te dirá
O que tu deves fazer
Logo que te levantares.

Não te importe com nada
Que à alma bem não faça
Maior que o mal causado
Por tuas preocupações.

Deixa a morte para a morte
E tua vida ter vida.
Não vá te despedir cedo
Dum grande futuro ledo.

Busca ter a vida plena,
Sem carências ou excessos.
Em suma minha caneta
Quer somente dizer-te:

Integra à Natureza
Que sem rancor ou tristeza
Vive sem querer mais que a vida
Vive sem querer nada.

domingo, 12 de setembro de 2010

O mundo lá fora de nós
Nos ignora e segue seu curso.
O que existe em nós,
Nós o ignoramos.
Não há nome para o que eu sentia
Nem tristeza, nem mesmo alegria.
Era algo que roubava
O tempo que eu não perdia.

sábado, 11 de setembro de 2010

Uma tentativa

Em 14 de fevereiro de 2007 eu tentei escrever um poema em alemão... Mas deve estar gramaticalmente errado, além da pobreza vocabular

Meine trauere Geschichte
Ist im einem Gedicht
Dass niemandem lesen kann.
Es schreibtet kein Mann.

Kann man doch nicht gesehen
Dass mein Lebensfeuer hier stehen.
Das Herz verbrannt...
Die Seele verkrampft...

Die Flüsse lauft nicht mehr...
Ein Windstoss kommt immer her
Um mich langsam verderben zu werden

Der Sturm wascht nicht dem Geist...
Noch Tränen in meinem Fleisch
Weil die Erinnerungen nie sterben.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Lotérica Esperança

- Opa, tudo bom? Quanto tempo?! Ainda mora na Glória?

- E aí, quanto tempo mesmo! Mudei da Glória faz quase dois anos. Agora estou na Tristeza. É mais afastado, fico mais longe do trabalho, mas lá a vida é mais tranquila, mais calma, pelo menos na casa pra onde fui. Não gosto de apartamento. Preciso ter um quintal arborizado e poder ver o céu, ouvir os grilos cantando escondidos em algum lugar da grama. A glória ainda tem muito movimento, muita agitação.

- Então sinal de que melhorou. Que bom. Eu também queria sair desse tumulto da região central. Apesar da comodidade de acesso às coisas, é muito barulho de carro, ônibus, etc, só que ainda continuo no mesmo lugar. Tudo na mesma. A única coisa que muda são os filhos que crescem. E dão trabalho! Mas, no fundo é bom.

- Ah, com certeza! Ver aquele pingo de gente crescendo dá até esperança.

- Veio pagar as contas então?

- Não.

- O que faz na fila da lotérica então?

- Pois é... O prêmio da loteria acumulou... Vim arriscar um jogo.

- Que isso?! Justo você? Acreditando nessas coisas agora?

- Na verdade não. Continuo sem acreditar. Ainda não entendi muito bem o que eu estou fazendo aqui. O bom é que não ganhar não gera a sensação de derrota, de perda e a expectativa, o ânimo que dá a aposta até a hora do sorteio, acaba valendo a pena.

- Pior... Eu também vim aqui pra fazer uns jogos. Não fazia a menor idéia de que números apostar. Tem gente que aposta sempre nos mesmos números a vida inteira. Eu nunca apostei,. Não posso fazer isso. Tem gente que tenta usar a lógica também, como se houvesse algum meio de adivinhar a aleatoriedade do acaso. Ainda tem que desconfiar de quão aleatório é o sorteio, de fato. Vez por outra acontecem coisas estranhas, como alguém ganhar seguidas vezes. Resolvi dar oportunidade ao destino. Joguei o número de ordem do ônibus que eu vim e os números da placa.

- Fez um jogo só, então?

- Não. Fiz vários. Alterei a ordem dos algarismos, embaralhei, apliquei fórmulas... Já que é aleatório, digamos que tentei usar a própria aleatoriedade que o dia de hoje me mostrou, afinal, o sorteio é logo mais, à noite.

- Pode ser uma alternativa de estratégia.

- Vai que dá certo...

- Né? O que eu acho curioso é, por exemplo, aquele senhor lá na frente já quase para ser atendido, que deve ter passado quase uma hora na fila e mal se aguenta de pé – na hora de aposta idoso não tem fila preferencial. O que ele quer com o dinheiro? Daqui a pouco bate as botas e, se não tiver herdeiro, devolve tudo para o Estado.

- Ora, mas ele também tem o direito de tentar a sorte!

- Claro, mas não de tirar a minha!

- Mas não vai tirar. Se os dois ganharem, dividem o valor total. Quem tira é o próprio Estado que pega parte do dinheiro de volta em imposto. Também, para quê tanto dinheiro? Divide com alguém!

- Tantas empresas com tantos donos milionários, bilionários, porque eu não posso ser também? Talvez eu seja o único a conseguir um milhão honestamente, sem roubar, sem sonegar, sem explorar ninguém.

- Explorando só a expectativa dos outros de sair da pobreza.

- Bom... Sei que não vou ganhar nem ninguém que está aqui nessa fila. Talvez um daqueles magicamente sortudos, que ganha diversas vezes na loteria, como o delegado que ganhou dezessete vezes. Imagina quantos outros casos não descobertos podem haver! A aposta só serve para dar esperança até a hora em que sai o sorteio. Até lá você fica imaginando o que poderia fazer com o prêmio: Viagens, aplicações, investimentos, doações... E bem pensando, dois reais é até um valor baixo a se pagar pela esperança.
- Vou lá que é minha vez. Prazer em revê-lo. Até mais.

- Até mais! Se ganhar, lembre de mim!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Em Brasília, 19 horas

Para qualquer lugar que eu olhe
Apenas vejo dentro de mim
E estou a beber da angústia um gole
Nessa densa treva sem fim.

Aprecio este crepúsculo eterno
Com seu magistral brilho vermelho
Desse seco dia do imenso inverno
Que é também de mim um espelho.

Noite após noite, sem dia que entremeie,
Passo todos os dias a sonhar
Pois eu cansado deitei-me
Sobre a relva que não há. (é de cimento!)

Rodeado por tanto concreto
É irônico que de concreto nada tenho
Somente o meu imaginar quieto
Que não demonstra muito engenho.

Neste mundo de cimento
Não cimento nada para o futuro.
Sobre este chão cheio de conhecimento
Sento e não mais vivo ou penso, duro.

Aquilo que passa em silêncio

O mar de incerteza engole e afoga
Tudo aquilo que nele se encontra.
Cresce em desesperança a de agora
Juventude que não entende onde mora.

A cada ilha tenta perder o desânimo
Que no entre elas se aproxima e parasita
O coração já pesado e enfermo
Que, ao início da vida, vê dela o termo.

Milhares nadam sem ver um ao outro;
Àqueles do caminho subjugam e atropelam
Sem se dar conta que o fazem consigo.
Mantém-se, a todo tempo, o perigo.

As ventanias sorrateiras que geram ondas
Que varrem aos que, naquele instante,
Onde se segurar certamente não tinham
E carregam as benesses que nunca vinham.
Um relâmpago rasga o sonhado horizonte
Acertando o homem que o tentou alcançar
Mantém as desconhecidas leis e ordem de
Que, o horizonte, ultrapassá-lo não se pode.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A alma; superfície

Você tentou atravessar a superfície
E chegar ao fundo da minha alma.
E quando conseguiu,
Viu que os dois lados eram iguais.
Não havia senão superfície.
Os meus anseios, leitor,
São os mesmos que os seus.
Seja você quem for.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ode à mentira

Há quem alegue se opor à mentira
E não percebe o quanto das verdades,
Aquelas que quando infante ouvira,
Ditas pelo Professor ou Frade

São de fato, de conhecer, dignas.
E sem pestanejar as aceita
Como se do conhecimento insígnias;
Manjar do qual bebe e a garrafa deita

Sem tentar ler o “veneno” do rótulo.
E sem perceber, todo o tempo mente
E em praça pública dá-lhe o ósculo.

Crê que mentira é sempre má-fé,
Mas de verdade sua vida tem nada.
Não é sua. É pros outros. Fachada.

Breve História da humanidade

Em certo momento dos tempos, um bando de humanos que convivia em conjunto passeia por uma floresta. Um de seus integrantes tem à mão um cesto de maçãs. Neste instante o nº. 2 do grupo lhe pede uma, como de costume. Porém, desta vez, o nº. 1, que carrega o cesto, reflete: Por que eu, se sou do grupo o que corre mais rápido, deveria fornecer-lhe uma maçã se posso tê-las todas para mim? Ante este pensamento, nega o pedido e declara que, a partir daquele momento, todas as maçãs são dele e ninguém mais, senão ele, poderá usufruir delas. Assim, do egoísmo surge a propriedade.

O nº. 2, absorto com a negativa inusitada, completamente enraivecido, saca seu tacape e golpeia o nº. 1 na cabeça, tão rapidamente que não o permite correr, tomando para si o cesto. Agora, da propriedade nasce o roubo.

Quando o nº. 1 saca também o seu tacape preparando-se para o confronto que, em razão da equivalência de força de ambos, resultaria na morte de um deles e na impossibilidade de o vitorioso garantir a posse do cesto, o nº. 3 interfere para mediar a situação. Esclarece ao nº. 1 e ao nº. 2 o fato e sugere dividirem o cesto de maçãs. Os dois concordam em fazê-lo. Então, o nº. 3, tendo obtido sucesso em amansar o conflito, solicita a divisão do cesto em três por ter evitado o combate e a divisão é feita. Desta forma, da possibilidade de prejuízo mútuo, devido ao poder igual entre as partes envolvidas, surge a justiça, e junto com ela, o judiciário com suas custas processuais, ou seja, a parte de maçãs que cabe ao nº. 3.

A partir deste momento, convencionarei chamar o nº. 1 de propriedade, o nº. 2 de roubo e o nº. 3 de justiça, atrelando cada um às suas crianças e representando-as graficamente entre aspas.

A esta altura da história, o nº. 4, ao ver que tudo se acertou e todos foram contemplados com a possibilidade de desfrutar das maçãs, acreditando que o compartilhamento, como o era até pouco, fora voluntário, aproxima-se dos três e requer sua parte, tendo negado o pleito. Indignado, lembrando do que aconteceu, decide seguir o exemplo do nº. 2, ou seja, do “roubo”, e saca seu tacape. Porém, agora o poder não é mais equivalente, pois seria necessário golpear três. Insistindo em negar ao nº. 4 o acesso às maçãs, “propriedade”, “roubo” e “justiça” sacam seus tacapes e surram o nº. 4, expulsando-o do convívio por sua ousadia em querer parte das maçãs para sua sobrevivência. Assim nasce a exclusão social, fruto da força da aliança repressiva do “roubo”, “propriedade” e “justiça”, criando, com isso, ao mesmo tempo, o que viria a ser por eles chamado de “polícia”.

Tendo se livrado do nº. 4 pela exclusão social gerada pela força conjunta do “roubo”, “propriedade” e “justiça”, ou seja, pela “polícia”, estes passaram a fazer uso dela contra qualquer um que se aproximasse e, com isso, defendiam suas posses. Entretanto, certo dia, acerca-se-lhes uma fêmea que, aconselhada pelo nº. 4, “exclusão social”, que encontrara no caminho, ao contrário das outras das quais a “polícia” deu conta, não queria participar da divisão das maçãs, aparentando somente estar interessada em conviver com eles e vale-se, para isso, da sedução. Após uma noite de satisfação sexual para os três, a fêmea acorda com os três lhe servindo maçãs. Da lascívia com “propriedade”, “roubo” e “justiça”, encorajada pela “exclusão social”, surge a “prostituição”.

Desde então, seguiram-se várias noites de prazer gerados pela “prostituição”, até que, “propriedade”, tal como fez com o cesto de maçãs no início da história da humanidade, declara que “prostituição” é direito de uso somente dele. “Roubo”, também como no início da história, puxa seu tacape, sendo que, desta vez, antes do golpe, “justiça” o convida a conversar em separado. Após longa conversa “justiça” o convence a deixar “propriedade” achar que tem “prostituição” só para ele enquanto ambos encontram-se com “prostituição” sem ele saber. Este entendimento de “justiça” com “roubo” eles chamam de “traição”.

Ao retornarem, explicam para “propriedade” que aceitam, acatam seu direito. Da união entre “propriedade” e “prostituição” surge a “família”, sendo esta a forma que vai se considerar como perfeita até os nosso dias atuais. E, do acordo entre “justiça” e “roubo”, ou seja, da “traição”, para encontrarem-se com “prostituição” sem “propriedade”, nasce, no mesmo instante em que o casamento, ato que constituiu “família”, o “adultério”.

Desse modo, do egoísmo de “propriedade” no seu desejo por posse; do vínculo entre “roubo”, “propriedade” e “justiça”, gerando “exclusão social”, que encoraja a “prostituição”; do fato de “propriedade” acreditar que “prostituição” pode ser sua posse, criando a imagem da fêmea como objeto, desconsiderando todas aquelas que convivem com “exclusão social” e sobrevivem do fruto de seu trabalho; do anseio de mais posses de “propriedade” fomentando o surgimento de “traição”; da soma de tudo isso, nasce o que hoje conhecemos por “sociedade”.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Amanhã

Eu prefiro não olhar para frente;
Prefiro olhar para o céu enquanto caminho;
Prefiro não fazer planos para o futuro porque eles sempre dão errado.
Quero que vida passe da melhor forma possível,
Seja no claustro,
Seja a céu aberto.
No dia em que eu estiver vivendo o dia que virá,
Eu farei o que tiver vontade naquele dia.
Se eu tiver com vontade de sentar-me à praia para ver o mar,
Se eu tiver que me deitar no chão do quarto e chorar,
Se eu precisar beber até cair, se eu precisar amar,
Se eu precisar gritar, se eu precisar dormir, se eu precisar cantar...
Eu assim o farei. Não pretendo agora imaginar o dia que um dia vai chegar.
Se é chorar que você quer agora, então chore.
Se é sonhar, sonhe.
Se é amar, ame.
Esquece o que você quer amanhã
O que você quer hoje para amanhã pode não ser o que quererá quando acordar.
Quantas vezes já não se quis algo para um dia
E no dia seguinte se fez outra coisa com a certeza de que era isso somente que tinha que ser feito?
Importa-me que o sol se sinta sempre sol,
Que a noite saiba sempre sua hora de vir, independente da minha vontade.
O mais... Não faz diferença.