terça-feira, 15 de março de 2011

Estou só olhando...

Estou tão não sei que nem um poema
Por mais estúpido ou medíocre que seja
Sairia da tinta de qualquer pena
Sem o embalo de nada como cerveja.

E não há álcool em minha morada
E é só vazio o que eu sinto agora.
Não passo de uma idéia não pensada.
Sou somente vontade de ir embora.

Minha poesia, decerto, nada hoje diria,
Pois em seu sentido íntimo eu sou a fraude.
E está é, da minha alma, a fotografia.

O que da vida quero eu?
Nada. Estou só olhando...
Pois sou alguém que o destino perdeu.

Assédio moral*

Não me importa o brilho da aurora,
Pois os ventos cortantes de outrora
Fecham-me os tristes olhos à luz
Por eles a esta não fazerem jus.

É pífio o ar aconchegante e quente
Se mesmo em meio a tanta gente
Há de persistir dentro de mim
Este pavoroso frio sem fim.

Mas, cair ante a pressão eu não hei.
Contra a podridão não fenecerei,
Pois insiste em brilhar a chama insana
Deste fogo que esperança se chama.

Posso este mundo a mudar jamais vir,
Mas nos que me cercam aqui e ali
Deixarei a brotar uma semente
Para não desistir sem que se tente.

Do mútuo respeito há de ser a glória
De escrever bela história sobre a escória,
De gritar aos quatro cantos
Que limamos os motivos de pranto.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Expressão de uma impressão

Quero permanecer aqui e agora
Para sempre mergulhado neste instante
Com essa dor que não dói, mas é dor;
Sem saber do dia, sem saber da hora...
Sensação estranha de um perdido infante...
Penso que seja lá o que isso for,
É uma dúvida que não sei qual é.
É minha existência ante o júri uma ré.

Que diabos é isso que sobe a garganta,
Pressiona-me os olhos por dentro
Que se fecham para se abrirem depois
Por achar ser só sonho isso que janta
Toda vontade ou esperança que tento,
Definitivamente eu tento ter, pois,
Quero, espero, não sei bem o porquê
Vê-las em meu pobre espírito nascer?

E na escrita destes versos confusos
Almejo compreender posteriormente
O que haverá de estar escondido
Nas letras deste papel que eu uso
Para me deixar menos descontente
Desta ambigüidade do momento querido.
É somente esta rima esquisita que expressa
Minha interrogação que não se expande ou cessa.

Logo Quando eu Nasci

Logo quando eu nasci
Mamãe alertou: Espera!
Mas papai não escutou
Sonhou: Meu filho... Doutor!

Ah, Pilotar avião!
Desejava eu em vão.
Pensei ser marinheiro;
Conhecer o mundo inteiro.

Por que não ser um poeta?
Mas minha sorte a vida veta.
Serei músico então!
Mas quebrei meu violão.

Sonhei ser socialista...
...Meta a perder de vista...
Pra salvar a humanidade
De tanta desigualdade.

Mas já que sonhou papai
O meu Eu em mim se cai
E lento olha em volta a vida.
Mas não vê qualquer saída.

Eu não posso ser doutor.
Ser humano? Mas, de repente
Alertou-me a serpente...
No máximo servidor.


Tempo

O tempo passou
Os brincos na orelha, as calças rasgadas
E a rebeldia revolucionária adolescente
Deram lugar ao conformismo conservador idoso
Conformismo passivo da covardia.
Covardia pela fraqueza sabida.

O espírito de sonhos de mudança
De mundo melhor e harmonia com a natureza
Sucumbiu prematuramente à solidão,
Aos cruéis atropelos desesperados
Dum mundo que devora a si mesmo;
Destrói a tudo que vê pela frente
Sem perceber que o tempo mantém tudo perfeito
E só destrói o que é humano,
O que é deturpação depravada
Filha das Nações e seu progresso.
O resto, que na verdade é o todo
Só se recupera com o tempo.

O tempo só corrói impiedosamente
Aquilo que é da humanidade
O tempo é tudo que sempre sonhamos ser.
É livre, impávido e certo.
O tempo é totalmente humano...
Principalmente no subjugo do homem.

O tempo fica...