domingo, 16 de outubro de 2011

Exagero

Escrever poesia
Ou fazer qualquer tipo de arte
É estar atento a tudo
E passar aos outros,
Seja sentimento ou fato,
Aquilo que sentem ou veem todos
Como se fosse a primeira vez
Que tal coisa acontecesse.

É ressaltar as nuances
Dos aspectos mais discretos
E presentear a todo mundo
Com aquilo que acontece
Na alma do artista.

Pinta-se belo o mar
E leva-o para quem nunca o viu,
Mas mostra um novo
Para quem já desacostumado
O vê todo dia mas não nota
Toda a magia que aquilo denota.

Uma obra de arte é sempre hipérbole,
Seja da perspectiva individual
Daquilo que se vê, pensa ou sente,
Seja hipérbole do “real”.
Não importa se critica ou admira.
O que se sobressai é o exagero
Ainda que contra a vontade.

Mesmo que se queira chocar
Resgatar o antigo, inovar, ser diferente.
É tudo sempre exagero igual.
Excesso de forma ou ausência dela.
Rigidez ou transgressão,
É sempre hipérbole de uma impressão
Para tentar demonstrar o inexplicável,
Para dizer o que não se entendeu,
Para cantar o próprio silêncio,
Para registrar a experiência singular
Da vida de cada um todos nós.

Risco de viver

Um universo frustrado.
Um corpo jogado.
Um ego sem desejo.
Uma alma sem ensejo.
Uma vida sem vontade...
De um sonho inexistente,
Uma grande saudade.
Quimera de um doente.
Uma incompreensível sensação
Compreendida pelos que não a compreendem.

Uma canção sem notas, sem tons.
Uma existência sem dons, sem voz.
Uma estrela sem brilho, sem céu.
Um eterno réu, ao léu,
Acusado e condenado por si.
Medo da prisão e medo de sair.
Um desejo de não tentar.
Covardia e medo de errar.
Querer o que não quer.
Desculpa para correr.
Não querer o que almeja,
Para assim nunca perder.

Estadia de tristeza sem pressa.
Um personagem sem peça.
Uma máscara sem rosto.
Fonte de imenso desgosto.
Um patife, um parvo,
De si mesmo escravo.
Um palerma, um vil.
Aquele que sonhou que sumiu.
Eu.



Tai Chi Chuan

A música mágica toca... linda!
E vem me encher o ser
Com uma leveza infinda
Que me faz alvorecer.

Vejo os movimentos suaves;
Daquelas almas, a leveza
Por não encontrarem entraves,
Pois possuem enorme firmeza.

A pureza que emanam aquelas mentes
Refletem-se em meus olhos
Criando lágrimas que, docemente,
Mostram-me o sentimento livre

Sinto o sentimento inefável
Por ser o máximo de puro!
Mais do que toda a beleza possível.
É alegria! É sonho, eu juro!

Já tive outras oportunidades
Mas hoje com minha alma livre
Aproveito a apresentação de verdade
Com o delírio que nunca antes tive.

Para o universo, saí de mim.
Sinto a volúpia de ver as cores
Desse novo mundo – refletido pelo espadim –
No qual só encontro amores.

E a eternidade do meu apreciar
Permite-me pensar sem usar a razão
E traz-me vontade de chorar
E imenso desimpedimento ao coração.

Enleiam-me e enlevam-me os movimentos
Que direcionam a mim o feérico,
A poesia trazida pelos ventos,
Os olhares, o mundo mágico, cênico.



Minuto de adoração*

Teu olhar perdido e pensante
Faz com que eu admire
Mais agora do que antes
O reflexo do teu espírito.

Teus olhos reprovadores
Do meu doce sonhar contigo
Brota em mim mais amores.
Aprazia-me só o teu olhar-me!

Tua delicadeza, teu jeito
Tua encantadora melancolia
Nasce dentro do meu peito
Como algo q’eu desconhecia.

Apenas permita-me que pela eternidade
Eu possa estar perto de ti.
Tenho muita vontade
De pelo menos estar ao teu lado.



Música à meia noite*

Estou completamente enlevado
Pela admirável doce melodia!
Meu coração é do peito arrancado
Mas com alívio que me aprazia.

Enche-se e incha-se meu espírito
Erguendo-se do corpo até o céu
Deixando de existir no mundo físico,
Não mais sendo oprimido como um réu.

Estou eu onde se pode sonhar.
Estou eu, de todo o universo, acima.
Posso estar agora em qualquer lugar...
É de ouro esta verdadeira mina!

Respiro forte do real amor
Que faz almejar viver para sempre;
Que não há lugar na Terra para pôr,
Que, infelizmente, ninguém por mim sente.

Não apenas talvez por não querer,
Mas por encontrá-lo ser rara sorte.
Pode ser para mim um grande azar
Não ter quem da mesma forma por mim se importe.

Porém é imensamente feérico
E de todo modo indescritível
O momento mais que quimérico
Que sei; parece a todos impossível!



Saudade Quimérica

Tenho a ti de mim tão perto
Contudo tu não és minha.
Ao teu lado o pesar é certo.
Tu tiraras a esperança que eu tinha.

O sonho de haver amor sincero
De poder não passar a vida só
Não mais que se realize eu espero.
A luz que eu via tornou-se pó.

O teu macio afago me congela.
Este teu alento me desespera,
Pois apesar de ser tão bela
És apenas uma grande quimera.

Infeliz foi o feliz momento
Que me tocou a tua aurora.
Atormento-me a todo tempo
Por não te ter comigo agora.

Mas este agora é presente e futuro,
É interseção entre o que foi e será,
E nunca me sentirei vivo e seguro
Sem tua presença (só para mim) em meu lar.

Tu me amas, apenas não sabes!
Ah! Como eu queria acreditar...
Eu poderia voar como as aves
E ver a terra além do mar.

Suspiro em vão*

Sempre que choro não sei o porquê.
Mas mesmo assim tento escrever
Estupidamente que tudo é desagrado!
A capacidade de pensar...

Não sei se já vivi tudo da vida
Ou se toda nova é repetida
E na verdade não sei é nada!
Meus medíocres poemas são maçada...

Preciso acordar de meus sonhos
Descer das estrelas porque...
As coisas todas vêm e vão,
Mas quem sabe um dia...

Não é só porque estou só
Em minhas idéias escusas
Que significa que elas estão erradas.
Grandes idéias só surgem para poucos.
Mas... Eu as quero para mim...

Por que não?!

Desapontamentos a todo tempo
Comigo mesmo e com tudo
São tantos, tantos que...
Quem sabe o que vem depois da morte?

1,2,3...
Não muito mais que três.
Assim farei eu mesmo a minha vez,
Talvez só por curiosidade
E não tristeza de verdade.

Falta a existência de um objetivo,
Falta a existência de um afinco,
Falta tudo o que pode faltar.
Eu não sinto...

Que bosta é esta minha poesia!
Fala só dos próprios problemas!
De que interessa isto ao mundo?
Ninguém quer saber o que acho!
Ninguém quer saber...

O vento vem de encontro a mim.
O vento vem de todo deserto.
A força que a onda rebenta em meu coração...
A onda vem de todo mar.

Não posso suportar dar meu fígado
Durante o dia como comida
Para que a noite eternize meu sofrimento.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Aniversários*


Após passada certa idade,
Não faz sentido comemorar aniversário.
Quando criança festejamos os ganhos
De força, vitalidade, inteligência...
Mas já agora...
Comemorar aniversário é festejar
Os anos que passam, a vida que fica.
É dar graças pela força que se esvai.
É, sem perceber, enaltecer a chegada da morte
Que, tal qual a grama no jardim,
Ao se olhá-la todo tempo
Não se dá conta.
Somente depois de muito sem pensar nela
Se nota o quão grande ela está ali
Bem na sua frente discreta e silenciosa.
Por isso, celebro a vida diariamente,
Inclusive na amargura e tristeza,
Posto que não sei o quanto cresceu a grama
Sobre a qual piso com os pés descalços.
Contudo sei que há de ter crescido.
Quando ela estiver ali imensa,
Não deixarei de adorá-la
Da mesma forma que quando acariciava-me os pés.
A vida é cada instante
O aniversário é só a virada de um ano individual
E não há nada especial nele
Além do que há em todos os outros dias.



Brisa*

Sinta agora esta brisa que passa!
Sua refrescância, formosura e graça.
Deixe-a o seu rosto acariciar
E a sua lágrima suavemente levar.

Faça-a confortar sua oprimida alma
Com sua velocidade sempre calma;
Afagar o seu amargo coração
Trazendo-lhe uma bela canção.

Lembre-se que esta brisa é o sofrimento meu
De uma alma que já morreu
De um corpo completamente fraco.

Mas este estado triste e lasso
É a liberdade de meu ser
Que se tornou natureza para viver.


Só núpcias só

Minha alma, de tristeza, inundo
Das angústias trazidas pelo mundo.
Mergulho nessa imensa lassidão,
Todo tempo... nauseabundo.

As flores tristes desfalecem,
Das derrotas que de mim brotam.
Ó vida! Porque adoeces também?
Para todas as perdas... Amém.

Que gigantesco amplo deserto!
Eu... sempre reles, vil.
Nada está por perto,
Pois meu medo tudo consumiu.

Há felicidade em estar
Nessa jaula-mundo que é meu lar
Frio e tétrico é tudo a todo tempo
Sorte foi perdida; levada pelo vento.

Sou o pior daqueles
Que em vida morreu.
Pela desistência estou vagando
Sem nunca ter descoberto quem sou eu.

Não estou triste por estar só,
Estou só por estar triste.

A dizer*

Já não posso mais esconder
Que quero muito te beijar,
Dar-lhe um imenso buquê
E admirar seu lindo olhar.

Sonho todo tempo em te amar!
E se sonho decerto faço.
Viajaria até o sétimo mar
Para encontrar teu abraço.

Dói-me no peito não ter teu amor,
E ainda ser covarde e não dizer
Que tudo é frio sem teu calor,
Que o mundo é nada sem você.

Na sua perfeita imperfeição
É a mais profunda paixão
Que jamais habitou meu coração!
À sua ausência, apenas deito no chão...

No fundo da minha alma
Jaz a incessante tristeza
De não me olharem com firmeza
Seus belos olhos de safira...

Não os direciona-me assim
Como eu sonhara ter para mim.
Por quê?

Para minha alma se clarear
Só de uma coisa preciso:
Vislumbrar o seu sorriso
Tendo-a aqui, e não lá.

Queria saber se é doce
Como se mel fossem,
Os seus lábios lindos
Que estão sempre rindo!

Não há brilho maior que o teu!
Mas pena que não sou eu
A origem de sua imensa alegria
Que a todos enleia como ninguém faria...

Vou construir a torre de babel!
Não hesitarei um minuto
Já que quero chegar ao céu.
Contra tudo, por ti, luto.

Pela primeira vez lhe digo:
Quero ser mais que um amigo,
Quero poder ao menos contigo
Encontrar um aprazível abrigo.

Abrigo das tristezas do mundo,
Das dores de cada segundo,
Para na sua alma, lá dentro,
Repousar um longo momento.