Num início de tarde eu passeava pelo Centro,
quando vi a feira da Praça XV, que ocorre todos os sábados, e decidi ir até lá.
As feiras de antiguidades são um incrível universo a ser descoberto. Alguém
pode caminhar por ela e ver um monte de objetos velhos, quinquilharias; outros
garimpam por algo específico; uma raridade. Há quem seja colecionador de
moedas, fotografias, relógios… O certo é que se pode encontrar de tudo, desde
vestidos a violinos; do capacete furado por tiro, que foi de alguém que morreu
numa guerra para defender algum motivo que o país já esqueceu, a uma caixinha
de música que alguma moça apaixonada deve ter recebido de presente – de um
admirador secreto, talvez.
Quem quer, pode facilmente mergulhar nas fantasias
das histórias que viveram aqueles objetos ou mesmo nas que eles viveram. É um
paraíso à imaginação e à meditação filosófica sobre o que serve nessa vida, o
que é, o que vale a pena, o que ela deixa e quem vê todo o potencial que ela
tinha. Mas, dessa vez, como estavam a desarmar a feira, pois eram quase três
horas da tarde, não a percorri. Parei na primeira barraca que vi. Ela tinha um
daqueles chamarizes mágicos. Um cartaz dizia: Qualquer livro a 1 real. Pronto! Adentrei
aquela montanha e ali fiquei a desbravar.
Nessas ofertas costuma-se encontrar livros muito
interessantes “solivrados” por tantos outros. É um pouco ruim quando um título
pelo qual se pagou dez, quinze ou vinte reais surge ali no meio. Tudo bem… Acontece.
Povoam o saldão obras em português, inglês, francês, espanhol, alemão e idiomas
que nem consigo identificar. São tantos trabalhos, de matemática, pedagogia,
sociologia, literatura, medicina… Estes tantos livros serviriam para contar a
história do mundo, o que se pensava na época, o que se lia e o que se esquecia,
com que se sonhava, a quem se dedicava e porque, já que em muitos constam as
dedicatórias. Aquela barraca é praticamente um sítio arqueológico.
Não foram contudo os Brechts, Clausewitz, Eças,
Resoluções do Partido Comunista, Limas Barretos ou Tolstóis que me chamaram a
atenção. Estes nós encontramos sempre. Vez por outra travamos algum contato e
quando os quero, sei facilmente onde estão. Olhei livro a livro e transformei
aquela montanha avalanchada em dezenas de pilhas identificáveis e facilmente
vasculháveis, à medida que eu os olhava. Ao fim, foram dois os livros que
peguei. Dois reais gastos – o que não daria, diga-se de passagem, nem para a
passagem de ônibus – e encontrei sonhos. Um publicado em 1985 e outro em 1991.
Há, portanto, respectivamente 27 e 22 anos que alguns autores depositaram ali suas
ilusões e expectativas. Saí com duas antologias de poesia.
Quando as vi, estas que são daquelas antologias
que publicam autores que não se publica, autores sem patrocínio, que ficam
felizes de terem seus textos em letra impressa, como temia não poder ver
inclusive Alberto Caieiro, tive de levá-las. Vi que dali eu poderei extrair meu
próprio futuro. São como meu mapa astral para quem crê nessas coisas. Quanta
esperança as páginas amareladas destes volumes não terão dado? Quantos sonhos
não terão alimentado? Pergunto-me: Depois destas quase três décadas, o que terá
acontecido a esses escritores? De que terão vivido a vida? Terão publicado
outros livros? Terão sido premiados? Lidos para além dos amigos? O que terá
acontecido com o sonho literário? Que profissão terão?
Uma coisa porém acredito poder deduzir com
tranquilidade, ao menos para a maioria daqueles poetas. Sonhavam algum dia ser
descobertos, que lhes sacassem a poeira de cima e os lessem. Que fossem reconhecidos
algum dia. Por isso eu queria dizer aqui que o sonho de vocês em alguma medida
foi realizado. Com isso, deixo-lhes minha humilde comeagem. Alguém os encontrou
e eu fui o felizardo:
Léa Guidi de Miranda
Leila Rodrigues Bezerra Timóteo
Luiz Mário Cardoso
Maria Anita Miranda
Maria Cunha Lima
Maria das Dôres Barros de Oliveira
Maria da Glória de Souza
Maria Ivone Rodrigues
Marise Soares Guimarães de Souza
Napoleão lisle Soares e Silva
Nilda de Azevedo
Omar Carline Bueno
Paulo Fernando Fortes Rei
Paulo Roberto Botelho de Moura
Paulo Salles Cavalcanti
Pedro Rosa Carriel
Raimundo Carvalho
Raimundo Melo
Ramisued Arres
Regina de Paula Souza
Ricardo Lima dos Santos
Ronaldo Brandão Brochado
Rosamaria de Arruda
Roseli Aparecida Herrerias
Sandra Elena de Castro
Severino Manoel Honorato
Sueli Izilda Annunciato
Tzípora Fann Zisman
Ulisses Átila Arrais e Moura
Valdeci Camelo
Vera Lúcia de Almeida
Vilma Kruse
William da Rocha
A. B. Moura
Alberico S. Rodrigues
Alexandre Medeiros de Andrade
Ana Cristina Mortensen
Ana Maria da Silva Brito
Ana Maria de Pádua
Antonio Caros Siani
Antônio Sessa
Aristóteles Lacerda Junior
Bárbara C. H. Cardoso de Almeida
Benito Schmidt
Carlos Gilberto Pessoa da Silva
Carlos Gomes
Claudia Maria Secron Bessa
Cláudio Wolff
Climater Mariano de Souza
Denise Costa Felipe
Diogo Fontenelle
Edela Feldmann Uhry
Edméa A. Carvalho
Edna Ribeiro Nascente
Edson Carino
Élio Luiz Secchi
Elizabeth Margaret Schwab da Silva
Elisabeth Maria de Souza Duarte
Elson Alegretti Rodrigues
Estavão Keglevich
Faride Chaiber
Francisco Quintiliano Ribeiro
Frederico Cezario C. de Souza
Fúlvia Carvalhais de Freitas
Geraldo Ferrer
Gerson Heidrich da Silva
Guilherme José de Mattos
Guithembergue Astolphi
Hele-Nice Francisco Poli
Heloísa Corrêa Moura
Ismael Gomes da Silva
Jairo de Britto
Jean Bitar
João Batista Machado Vieira
Jõao Luis Cardoso
Jaílson de Porto Calvo
Jorge Alberto da Silva Santana
Jorge Domingos de Freitas
Jorge Miguel Theodoro
José de Jesus Moras Rêgo
Katia Regina Vieira
Leda Andrade Tomich
Lêda Rau Costa Santos
Leonôr de Siqueira
Luiza de Mendonça Satim
Magali Vidal Domingues
Magdalena Maria Salati de Almeida
Marcia Lippe de Camillo Prazeres
Marcio Fuchida
Maria Cristina S. F. Bastos
Maria Cristina de Souza Soares
Maria da Penha Patrício
Maria de Lourdes Ramos Gayoso
Maria Eliza Nappi
Maria Flávia Martins Patti
Maria Geralda Santos
Maria Helena Macchia
Maria Ignez Nogueira
Maria Inês Silveira de Carvalho
Maria José Scaccabarozzi
Maria Lúcia Garcia Meireles
Maria Pureza Moreira
Maria Socorro Gomes de Freitas Rocha’
Maria Susana Lopes Rheinschmitt
Maria Theofila da Silva
Maria Terezinha da Cunha
Maria Zelia Correia Lima Brandão
Mariete Alves Neves
Marinalva Silva Caldas
Marlos Machado
Marylena Salazar
Nike D’Enoch
Nilson Petronilo de Souza
Nilza Tirapelli de Barros
Nina Maria Harres Tubino
Patrícia D’Oliveira Pinto
Paula Ramos Vinagre
Renivaldo Costa da Silva
Ricardo Uhry
Roberto Lima
Robson Moura
Rosângela Rosas Gomes
Sara Martins Franco Bueno
Sérgio da Silva Sobral
Silmar Bohrer
Thaís Russomano
Thelma Pozzi Barreiros
Vânia de Barros
Vera Lúcia Machado Fernandes
Waldire Laureano
Yolanda Barbosa Dias
20-out-12