quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Não sei bem porque principiei a transpor os pensamentos ao papel. Creio que não haja explicação. Não se decide escrever como não se decide falar. É simplesmente uma maneira de se expressar, porém a palavra falada se perde quando acaba de ser dita, persistindo somente na memória de quem ouviu e sofrendo alterações quando o conteúdo é repassado. O texto não.

Peregrinação

Procuro. Procuro por um caminho.
Caminho que sequer existe.
E se não bastasse, não sei o caminho.
Não sei o caminho e inda sigo o errado.
O errado porque também não existe.
E, na trilha, não encontro as coisas.
As coisas que tenho e sei quais são.
Sei, porém não posso mostrar
Já que não consigo ver, mesmo vendo.
Vendo a todo tempo, sempre!
E choro todo dia,
Mesmo que não role por meu rosto
A lágrima. A lágrima
Pelas coisas que não são nada
Embora sejam tudo,
Pelo caminho pelo qual corro parado,
Por tudo, por tanto, portanto.
E para quê? Por quê?
Um sonho.
Sonho que sonho sem sonhar.
Mas sonho a todo instante
Porque amo e desejo, todavia,
Não... não quero.
E para quê? Por quê?
Por uma vida,
Um sonho, uma lágrima.

Minha terra

Minha terra tem tiroteios
Onde canta o HK;
Os pivetes que aqui saqueiam
Não saqueiam como lá.

Rancor

Faz um favor?
Diz que eu pedi para avisar:
Que o tempo passa.
Discreto e sorrateiro, segue
E não nos damos conta.
Até que a certa hora
Se lembra de olhar para trás,
Mas, é tarde.
Não há, nunca há retorno.
E continuar olhando
Só faz sofrer.
Quem disse que não mata?
O arrependimento mata.
Mata de desgosto a quem
Distraído não viu chegar a hora.
Agora?
Agora, cuidado para ao fechar os olhos
Não se ver no passado lá dentro deles,
Pois assim se definha.
E... Você olhando para o futuro,
Distraiu-se, esqueceu...
Enquanto isso...
O tempo, que não para,
Passou.”

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Inércia do Tempo

Hoje, há quatro anos atrás,
Eu – sim, eu – tinha toda a certeza
A mesma que ainda em mim mora; jaz.

Naquela época doía-me o peito
Tão fundo que não mais sinto,
Pois dói-me a existência por inteiro!

Eu dormiria numa hora como esta,
Mas corre amarga e quente, não minto,
Aquilo que minha vida gesta.

Ah, mas há muito já passou isso...
Queria poder chamar tristeza!
Decerto já passou disso.

O que será então que espera?
O que sucede à ânsia de morte?
À ânsia sincera?


26 de novembro de 2008

Lamúrias de um proto-pseudo-poeta

Quantas perfídias a vida nos traz!
Só de pensar em olhar para trás
Já se me escurece a torpe vista
E a alegria de mim sempre dista.

Por que um dia sequer eu consigo
Distrair-me do passar do tempo com amigos,
Voltar-me para o sol impossivelmente real e sorrir
Sem pensar em deixar-me para sempre partir?

Cansei de meus olhos sempre secar, como vês,
Com espera de anseios irrealizáveis.
O céu foi-se de vez embora.

Vagueam na mente diversas confusões
Despertando centenas de emoções
As quais não dá mais para conter.
Veja quem quiser e puder ver!

Tento repor as fibras do coração
E vejo, não é possível mais não.
Deixe-me deitar aqui sobre o chão.
Tentar pegar a vida com a mão...

O sino bate agora a hora zero
E eu confiantemente lhe espero.
Juro não titubear.

Quando na praia rebentar a vaga
Nunca pense ser isto uma praga.
É o meu sempre querido destino
Que tenho sonhado desde menino.

Se na hora da alvorada eu lançar
Confiante meu corpo duro ao mar,
Não se admire pois estou certo
De que meu fado é qualquer deserto.

Apenas deixei de jazer na alma
Para, dotado de imensa calma,
Eu abraçar a tenra negra nuvem
Que acima paira, mas vocês não vêem...


Comigo, por favor, não se irrite
Este foi meu longínquo limite.
Não posso mais um dia suportar
Passar o meu tempo em qualquer lugar.

Meus sentimentos são cacofonia!
A mais terrível que ninguém quereria
Se quer por um só segundo ouvi-la

A criatividade também morreu.
E agora? Nunca saberei quem sou eu?
Não saberão sequer que eu existi,
Que triste sentou um homem aqui.

O que foi?

O que é que foi? – você me perguntou.
Tudo. Agora tudo se foi.
A última estrela do céu se apagou.
Tudo o que eu vejo dói.

Uma infinidade de vidas eternas não seria suficiente
Para enxugar todas as lágrimas que descem
Molhando meu coração com seu sonho inocente.
O escuro de minh’alma do horizonte vai além.

Almejo um ensejo de reacender a caroável chama
Que bruxuleante ilumina um mínimo de futuro baço
Com talvez um bom dia e alguém que ama.

Todas as portas se fecharam e barreiras subiram
Os caminhos se obstruíram e sobre mim desabou o telhado.
Eu, soterrado alhures onde só os abutres viram,
Em minhas angústias e amargas lágrimas, estou afogado.

Desisto de tentar ver um inexistente futuro doce.
Tudo... Por isso, tudo se foi.

Mentira

A mentira é uma verdade em sonho.
Não é falso se digo que sou rei.
Nunca é errado o que digo que sou ou serei.
Afinal, à noite, num mundo onírico me ponho.

Talvez nada mais que um sonho seja a vida.
Pois se sonho nele vivo, e se nele morro; acordo.
Às vezes meu dia parece uma poesia lida,
Uma fantasia desperta da qual estou a bordo!

À medida que penso, mais me confundo.
Não posso provar que existe um lá a ir,
Se quando lá estou, lá é aqui!
Caio mais e mais num poço sem fundo.

Interrogações! Interrogações surgem aos milhões!
As quais nenhuma eu posso responder.
Pode ser que este monte de questões
Seja a grande razão para se viver.

Criar mentiras infundadas para lograr a mim mesmo;
Teorias das mais absurdas colhidas a esmo
De parte alguma com nenhum sentido
Fazendo, então, o mundo menos sofrido?

Talvez...