Se as árvores hão de ser verdes e copadas,
Eu, o que hei de ser?
A copa que possuo não tenho
E minhas folhas nunca foram verdes.
Elas dão flores e frutos. E eu?
São as árvores menos árvores
Se menos frondosas são suas copas,
Se o outono desbotou suas folhas,
Se o vento roubou-lhes as pétalas de suas flores
E o tempo apodreceu seus frutos
E os fez tombar ao chão?
São menos vivas, são existência decadente
As que são mais espinho,
As que os galhos se retorcem com o sofrimento
As que os frutos são venenosos,
As que se erguem melancolicamente sozinhas
No meio de vastos campos,
As que tomadas por pragas e ocas por dentro,
As que não conseguem crescer,
As que não se sustentam de pé?
Ora, a quem quero enganar?
Seja o que for, é preferível descansar
Sob aquelas que nos fornecem sombra
Nos dias de sol escaldante
E que são firmes o bastante
Para pendurarmos rede nelas
E que os frutos são doces
E as flores colorem a paisagem.
*Poema do Vida e Poesia