quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pretérito mais que presente

As pessoas nunca sabem o quanto são importantes para as outras,
Mas não é culpa delas nem das outras.
É culpa de todo mundo, mas não sendo este mundo como todas as pessoas,
E sim como o mundo todo em si, com ou sem pessoas.
A existência é a culpada. É condenada e triste.

Cada minuto que passa morremos e sabemos disso.
A humanidade cínica e pérfida envenena,
Faz-nos viver num mundo à parte
Quando tentamos ingenuamente ser felizes.

Não consigo permanecer de pé como deveria.
Todas as coisas estão invertidas.
Eu estou doente! Eu estou doente...

Não quero dizer o que penso, só escrevo...
Assim é mais fácil; o papel não tem olhos acusadores,
Não quer me dar lição de moral, apenas ouve.
Passo, mas não fico como o universo, como o fez Fernando Pessoa.

Filosofo e ninguém lembra, até porque ninguém sabe.
Bem, passo despercebido e é o que quero, é o suficiente.
Espero a morte triste e só enquanto isso.

Ser

O vocábulo ser em ser humano, faz sentido só
Quando este se entende como tal e tenta
De alguma maneira mudar o que acha errado,
Ainda que não o consiga.

O fracasso em sua intentona causa
Decerto uma tristeza. Contudo, com isso,
Mergulha-se em si mesmo, assim aprimorando
Suas idéias e seu ideal, e entendendo-se
Como um ser cada vez mais no mundo.

Se não se sonha, não se cresce.
Mais quando se perde, se aprende.
Quando sobre si se tem mais dúvida,
Significa que mais se entende.
Entender o subjetivo é por um ponto final
Naquilo que não se pode compreender;
E prejudica o engrandecimento do ser.

Eu sei o que sou, por isso, sou o que sonho ser.
O que os outros pensam? Sei lá!
O importante é eu trabalhar em meu sonho
Que se mostra sempre, alegre ou triste, meu prazer.

O que da vida é morrer
Tentando alcançar o inalcançável.
Este é o fundo da sua alma, do seu ser.
Dos outros?
Tenho só pena, pois eles têm
Alma pequena, e não aprenderam - de viver - o prazer.

Até aqui, tudo bem

Há algo de errado no mundo
Ou então o será em mim
Posto que há estranheza em tudo.

Vago pelas ruas com a sensação de figurante; oco
Como se eu e o mundo agora desse-me o
Já não sermos mais o mesmo
Imersos em uma relação de Parte e Todo.

Tenho a impressão de que poderia
A qualquer momento esbarrar em mim mesmo
Desde que eu o encontrasse nesta romaria.

Talvez, na perfeição da harmonia que não vejo,
Um mundo exista, igual ao outro, dentro de mim.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O drama de um homem só


O Drama De Um Homem Só

“O próprio acontecimento que o lança no desespero, imediatamente revela que toda sua vida passada tinha sido desespero.”
Sören Kierkegaard

Neste quarto iluminado a meia-luz pela lua que se reflete sobre a madeira da mesa, de modo que tudo toma uma tonalidade melancólica, em preto e branco, jaz deitado, composto quase que somente por carne, afastado da possibilidade de sentir vontade, o corpo de um homem: eu. Abandonado por qualquer esperança, a parca restante força que possuo é capaz de permitir-me refletir e fazer com que eu me levante em direção à minha querida escrivaninha, situada no lado oposto ao que me encontro do cômodo. Após imenso sacrifício chego lá e, fazendo um barulho estridente que fere tudo que há dentro de mim, doendo-me os olhos secos, abro a gaveta onde descansa a vida e o que vier depois. Seja lá o que for não será pior do que agora neste lugar opressivo. Sem medo, com sonhos, com visão de uma talvez única saída ignoro o que poderá vir.
Vida? Não sei o que é. Nunca vivi. De qualquer forma acho que não é necessário ter vivido para saber o que é vida. O conhecimento não precisa ser empírico... Apenas aprecio o sangue correr pelas minhas veias, mas a vida já se esvaiu pelas lágrimas há tanto tempo que me é impossibilitado, o ato de voltar atrás para contar. A luz do sol que brilha em algum lugar lá fora há muito não conhece o meu rosto que não consegue mais ter qualquer sinal de um semblante de júbilo. Conte, como eu contei, os momentos tristes da vida e compare com os momentos felizes, e se não bastar para você, que tal testar a grandiosidade e a influência destes em sua vida, e note; os tristes são e sempre serão maiores. Quem sabe se por beleza ou por outra coisa qualquer. Talvez minha alma seja pequena (ou não), porque nada, ao que parece, vale a pena. Agora eu estou aqui, preparando minha arma para a liberdade.
Onde foram parar as tão desejadas boas notícias que alegravam todos que a ouvissem? Os amigos de verdade? Onde e em que momento do passado enterramos o sorriso? A felicidade? Por que nos deixamos aborrecer pelo que nós mesmos fizemos? Não deveríamos tê-lo feito certo? Então por que não consertamos se achamos que está errado? Será por querermos sempre culpar a outrem? Onde foi parar a emoção que envolvia as massas em sentimentos uníssonos e embriagava de exultação, como vemos nos filmes e livros de história? Estão todos mortos, ou apenas fingem-se assim? Alguém, diga-me! Por favor... É certamente em vão... Caso soubéssemos voltaríamos para buscá-los, entretanto, ninguém faz idéia de onde eles estejam. Ninguém se deu conta de que vendemos nossa liberdade, felicidade, entre outros, por futilidades que sequer individualmente almejamos. Sendo que destas tolices que adquirimos nunca usufruímos porque estamos sempre lutando para conseguir mais delas. E os que perceberam, entre eles eu, a terrível situação de desleixo na qual nos encontramos tornam-se infelizes e sozinhos e não fazem nada, perdidos cada um no seu canto protegidos sob o manto da friagem da noite. Tudo se tornou acre e vazio e monótono e entediante e taciturno e sei lá mais o que.
Eu agora te diria meu nome, mas, de que importa? Sou só mais um, como você que se esconde debaixo de uma falsa força e nos momentos íntimos revela a criança amedrontada que não consegue dormir e chora a madrugada toda a procura dos pais que não encontra presentes nunca e acaba dormindo de tanto choramingar. Igual a todos e mais nada! Não adianta fingir que contigo é diferente já que não pode enganar a si mesmo. Somos apenas a sombra vazia daquilo que esta a nossa volta, querendo abandonar a si mesmo para um modo de ver e de ser que não é nosso e impede-se de entregar-se a si mesmo. Todavia, nunca mudará, pois não se sabe o que realmente está além, aquilo que, talvez, verdadeiramente rege a este todo de seres sem face, sem alma, sem nada mesmo que tenham tudo... Se é que existe algo. Sinceramente sou despossuído de qualquer vontade de continuar minha existência compactuando com a vileza deste mundo hipócrita que finge ser cego ante suas próprias desgraças para tentar viver melhor... Arre! Tomo-me de profundo asco com tal circunstância deprimente, deplorável... Sequer consigo lembrar disto sem embrulhar-me o estômago!
Os românticos sonham e morrem e são tidos como loucos pelo senso comum por fugirem da realidade (realidade?) - entenda-se como românticos não apenas aqueles do período literário do romantismo, mas todos aqueles que navegam em devaneios e anseios impossíveis. E nós? Morremos e nunca sonhamos! Loucura é permanecer vivo sem poder sonhar, presos a uma necessidade de estar ligado intimamente à razão e passar grande parte do tempo, senão todo, tentando simplesmente manter-se vivo neste mundo sem fazer a menor idéia do porquê, se é que precisa haver um porquê também! Mas, pensar sobre tais questões parece-me o mínimo para entender-se como ser pensante. O primeiro passo para ser um ser completo é a inquietação e reflexão a respeito daquilo que está a sua volta. Ah! Termino meus miseráveis dias só, pois ousei sonhar e pensar... A lua e seu esplêndido fulgor não ofuscam a luz negra de desalento e tristeza da real liberdade e sua dor. Se é que não estou enganado de novo, se é que pode existir a extraordinária e eternamente idealizada real liberdade. Existem coisas que jamais poderão ser entendidas pela racionalidade. Quem sabe possam ser compreendidas apenas pela confluência de sentimentos surgidos e apreciados de maneira indescritível pela solidão? Ah se eu pudesse ter consciência de todas as reações misteriosas da natureza...
Eu acordei e fui capaz de compreender que não há sequer um homem livre a caminhar sobre esta terra erma, e creio não valer a pena viver sendo escravo do que se julga como si mesmo e do mundo ausente de fantasias que o cerca, destruído por desejos pequenos e pela tremenda pressa sob a égide da qual se encontra a humanidade de hoje e, quem sabe de sempre? A ciência e tecnologia, com a ambição insana apagaram o fogo da magia da beleza da arte da poesia da esperança de viver em um mundo que pode fazer você se sentir bem. De maneira nenhuma sou contra avanços tecnológicos, desde que não atropelem a individualidade e nossas doces quimeras que amenizam o desproporcional amargo de durar.
Nesta vida insignificante de sentido algum, senão de reflexão sem importância, pensei que não agüentaria compactuar com essa destruição que se estabelece à volta de todos nós até que eu completasse trinta anos de velhice (Isso mesmo! Desde sempre velhice! E no sentido mais pejorativo possível, talvez até mesmo além do imaginável). Agora com a arma já pronta, lembro desses fatos e vejo que eu estava errado, uma vez que agora, pouco depois dos vinte, sei que de agora não passarei... O tempo corre como uma lesma e o pensamento como jato e quanto mais você pensa, descobre que o tempo só existe para aquilo que acaba (não quero que meus sonhos e minha alma acabem! Se pudéssemos ser só pensamentos.... ah!). A cada pensamento o mar de tristeza afoga-te devido a sua paciência já, há muito, ter se exaurido e sua garganta cansado de tanto gritar surdamente aquilo que te aflige e ninguém da atenção; sua decepção... apenas sua...
Embora sintam-na todos, a desilusão, eu percebo, tento entender como ela faz para agir sorrateiramente em todos nós. E tenho o direito de escolher fugir da escravidão, arriscar tornar-me livre pelo menos uma vez, batalhar pelo que realmente acredito... Sim! Eu posso o que quiser comigo mesmo já que não sou de ninguém, senão de minha alma extremamente esgotada pala lassidão... e você também é provido deste direito pelas leis da natureza. Não se deve nascer privado de direitos de liberdade individual, de pensamento e de ação acima de tudo. Já que falei em tempo um pouco mais acima, em tempo falo e faço-te compreender a velocidade incomensurável do pensamento. Pense em todas a sua vida, veja todas as tristezas, saudades do que nunca terá e até de alguma felicidade perdida e muito distante. E então? Acho que você não demorou nem um ano para lembrar de toda a sua vivência. Penso talvez ser melhor deste modo; uma estratégia da bela vida para diminuir a eterna aflição que sempre será viver. E eu apenas perco o meu tempo, já que sou covarde e terminarei no início e continuarei esse ciclo que se repete há longos e intermináveis anos (décadas? Talvez...), inteiramente só... com a arma ao meu lado na escrivaninha, lamuriando-me de tudo e de todos... espero que você tenha mais sorte... Com o sol que retorna agora ao amanhecer ou com a noite que o sucederá como de costume, se é que você consegue acreditar nisto de que o dia inevitavelmente surge posteriormente à escuridão noturna. Eu desisto.


***

Quem sou?*

Sou a amarga lágrima última
Que verte dos olhos da esperança,
Que silenciosa e triste e súbita
Ruma ao solo, vagarosa e mansa.

Eu sou da alegria o derradeiro suspiro
Exalado com pesar e sofreguidão
Antes de apagar-se o círio
Que a faz tombar ao chão.

E sou, de jazer, a vontade
Residente em cada alma muda.
Desgraça que em todos bate.

Sou o aceno de partida
Que de pranto o coração inunda.
Sou a existência absurda.


*D’O Eu Mais Íntimo

Soneto do sentimento

A chama arde agora e sempre tremeluzente
Sem vento nenhum e com lenha inexistente.
Que fogo é este que existe em todos os seres
E, ao mesmo tempo em que amaldiçoa, traz prazeres?

A distância física do seu grande amor
É a desgraça que traz a você a dor.
Já a ardência conjunta desta bela chama,
Providência as volúpias na alma que ama.

Mas, às vezes, queima dolorido o espírito
E faz-te tornar-se profundamente lírico
Co’a pureza da deveras triste beleza.

A maldição que vem desta chama é bendita,
Pois, os profundos sentimentos, sempre dita.
Alegre ou triste, o sentimento sempre existe.

Despedida

Quando da corrente o elo quebrar,
E sumir o sol por detrás dos montes,
E o vento encher por completo teu lar,
Que isso não seja, de tristeza, fonte.

Não há no mundo melhor moradia
Do que a que tu vais encontrar!
Preencherá minh’alma de alegria
Com a tua nova morada lá!

De nada adianta teu corpo físico
Se não habitares meu coração.
E lá sempre estarás, quer queira ou não!

Se a tristeza profunda te abater,
E o frio acre da alma te oprimir,
Lembra-te de que sempre penso em você!


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Presente

Não tenho esperança de ficar conhecido,
De ser aclamado e lido pelo mundo,
Até porque esperança espera
E eu definitivamente detesto esperar.

De qualquer forma, meu livro não é mesmo meu.
Não fui eu quem o escreveu.
Chamá-lo de livro também é mentira,
Pois são somente uns poemas.

Dizer que é meu não é verdade.
É obra da vida que me usou
Para transpor-se ao papel,
Pois queria presentear a humanidade.

Devolver-lhe de Prometeu a luz;
Contribuir com o prazer, a reflexão,
E compreensão de si e do que sente.
Dádiva que ao ser bem conduz.

Mas...

Nem todos gostam dos presentes que recebem.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Rio de Janeiro

Tudo permanece igual, sempre.
Nos últimos quatro anos que passaram
Parece que o tempo só correu para mim
E aqui não passou nenhum dia.

As estrelas que inda brilham onde não se pode vê-las
As nuvens correm pra tentar ficar paradas
O céu que se curva ante a dor humana...
Tudo da mesma forma.

O vento não sopra nada novo.
As paredes não contam nenhuma história
Além daquelas que já outrora li nelas
A chuva; as ondas do mar são as mesmas.

Porém, hoje já sou um estranho
Apesar de tudo permanecer igual
A casa onde morei não é mais minha.
A terra onde vivi, continua jovem.

… e eu envelheci.

O tempo só passa para aquilo que morre...
Mas só morre o que tem vida.

O tempo passou para mim.
Talvez só pra mim.

O tempo passou...

O tempo passou e sobre os trilhos,
Ao largo da estrada, nada mais resta
Que o corpo da Quimera. Silêncio da desilusão.
Saudade.

Toda minha obra é um poema só.
Apenas uma coisa eu sinto:
Tristeza.

Olhei minha vida.
À volta o abismo
(que teme olhar para dentro de mim).
Dei um passo à frente.

E, de repente...

Ao ouvir a música;
Ao respirar fundo o ar;
Ao ver os pássaros a voar
E as nuvens a caminhar no céu
Os olhos umedeceram...

Naquele momento,
A alma que não cabia em mim
Explodia num grito.
Tive a certeza. Sentia-me livre.

Sonho é o desejo que mora em mim

Sonho é o desejo que mora em mim,
É a realidade dos meus pensamentos.
Quero-te comigo neste momento
Momento que não deve ter fim.

Não há sonho que eu tenha
Sem que tu estejas nele.
Se não estiveres não é sonho.
Da chama da esperança és a lenha.

Quando me deito e olho para as estrelas
És tu quem está lá
Se não estiveres é porque estás ao meu lado.
Com isso, nós estamos nas estrelas.

Quando olho em volta e não te vejo,
Quando procuro por toda a parte e não te encontro,
Quando não há mais lugar no universo para vasculhar
Significa que tu és ele inteiro.

Então, se os pássaros cantam és tu quem fala
Se eu respiro e o vento me toca,
Se o sol me esquenta e a noite me cobre,
Estamos juntos a todo tempo.

Chovia

Tantas pessoas estiveram já ao meu lado,
E todas elas... afirmo que passaram, sempre.
Você ficou, contudo, sem nunca ter estado,
Talvez seja simplesmente para que eu me lembre.

Lembre do que poderia ter acontecido,
Do que apenas imaginação pode ser,
Do que poderia (deveria) ter pedido
Do que poderia ter passado com você.

Resta unicamente distância pelo que vejo
E adiante provavelmente o esquecimento.
Tudo que pode resistir agora é desejo...

Nunca se pode certificar por quanto tempo,
Entretanto, importa-me que, neste momento,
É a mais legítima verdade isso que eu sinto.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Confusão e nostalgia

Por entre as montanhas da sociedade
Ecoam os sons e vozes da mente
No escuro vale da insanidade
Que, aos homens, deixa-nos tristes e doentes.

As sensações que já me são diárias
Ora me atraem, ora preocupam.
Soam violinos desafinados,
Reverberam cheiros de flores mortas.

Destroem-me sem métrica ou rima,
Sufocam-me sem qualquer versificação!

Perdeu-se a triste beleza do início
Para terminar sem nenhum fim...
Janemseimaisondeterminameondecomeçamascoisas.
Sequer como se fazem as concordâncias!
Minh’alma, do mundo é dissonante...

Os sonhos são como gotas ao bater no chão,
A vida é melódica como vidro que estilhaça,
A lembrança já tem um cheiro azedo...
Com todos esse sons desarmônicos se faz a existência.

O dia perde sua pompa quando se pensa na noite,
A noite que aquece quando seu frio é ainda maior.
E ela te abraça quando não mais se quer
E mostra-te todos os sonhos que foram perdidos,
E o pior, não se pode voltar... NUNCA MAIS!

Chega então o momento em que seu cobertor
Torna-se unicamente a chuva...

Minha poesia (poesia?) já parece mais
Como apenas uma carta de despedia, e só!

O mundo e o pensar são tão incompatíveis!
Não compreendo por que...
Não compreendo nada! Se é que há algo a compreender!
Mas mesmo na dúvida eu tento... Sem sucesso...

As rosas de plástico murcharam!
Meus olhos nadam em nostalgia,
Nostalgia de algo que nunca existiu.

Por que tudo é efêmero
Menos a tristeza que parasita
Oportunamente a alma?

A alegria, como a fumaça do cigarro,
É bela, mas logo se desfaz no ar.
Queria eternizar o momento que
Nunca experimentei a contento...

Não tenho certeza, mas acho que
Pensar destrói os prazeres carnais.
Por via das dúvidas, acendo outro cigarro,
Trago... Penso, e sem chorar, choro, mas...
Solto a fumaça e finjo que esqueço e,
Tudo volta ao “normal”.

Caminhar com o mundo

Às vezes os meus sentimentos,
Sinto-os na terceira pessoa.
Não sou eu quem diretamente os sente,
Mas um outro eu dentro de mim
Que volta e meia conversa comigo.

Hoje o eu que não eu, o outro,
Contava-me desejar profundamente
Algo que lhe era impossível conter
E era tudo que queria, porém somente que...

Que a única janela a se abrir
Sejam as minhas próprias pálpebras
Que mesmo fechadas, se as olho,
Permitem-me ver em sua escuridão.

Que se houver portas em algum lugar,
Sejam somente as da mente,
Sempre sem qualquer tranca,
Abrindo ao mero ensaio de desejo.

Que o sol nos dê bom dia,
Não por educação, mas por de fato desejá-lo.
Que um rio atravessado entre mim e o destino
Não seja um obstáculo, mas uma pausa para lazer.

Eu prefiro a terra ao asfalto,
As árvores aos edifícios,
As cachoeiras aos chuveiros de água quente,
O caminhar tranquilo à pressa dos carros e ônibus,
O som dos pássaros, grilos e sapos,
O sibilar do vento e o farfalhar das folhas
Ao silêncio da alma, da voz contida
No claustro urbano a céu aberto.

Direitos Autorais

Serviço ao profissional
Diz o atendimento
Da Biblioteca Nacional.
Pensei por um momento...

Deveria ser ao amador,
Pois de outra forma pra mim não é.
O escrito por amar tem valor.
O de profissão não lhe chega ao pé.

Faço o registro, de todo modo,
Pois são todos poemas meus
E poesia - às vezes me incomodo -
Só se lê de quem já morreu.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Silêncio no Estrondo

Sinto-me agora no mundo
Como uma criança que
Pela primeira vez dorme sozinha
No seu quarto e
No meio da noite acorda
E fica assustada, temente do escuro,
Põe-se toda coberta pelo edredom
E não dorme mais, mas
Não volta pra o quarto dos pais
Simplesmente para mostrar que já cresceu.