quarta-feira, 22 de maio de 2013

25 de abril de 2013

Por mais que seja sempre distante de nós,
Nas raras vezes que nos faz uma visita
Assola-nos, sobretudo quando a sós,
E despeja de todas a dor e a desdita.

Ao fazer-se rumar de presente a pretérito
Se perpetuará presente na memória
A carregar dos ensinamentos o mérito
Legados a nossa particular história.

Neste passamento que não passa, mas fica;
Que livra da vida pra liberdade alguma;
Que um imediato desalento fabrica;

No qual simplesmente apenas não se é mais,
Será sua existência da alegria a suma
Pois que bem sempre fez. Que você reste em paz.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Outra História do Paraíso


Há quem diga que homossexualidade é condenável, que a Bíblia diz que Deus falou que era reprovável. A bíblia foi escrita em um contexto histórico machista e homofóbico, onde tudo que lembrava o feminino era inferiorizado.  Naquele momento direitos humanos não era conhecido. Inclusive a própria noção de humano como algo universal. Os conceitos eram diferentes. Essas concepções que nos são tão arraigadas e vistas como inerentes à própria existência, são modernas, o que é um bom sinal. Mas, e se a Bíblia tivesse sido escrita em outro contexto? As representações de santos, anjos, jesus, são europeias. E se tivessem sido feitas na África? Seriam todos brancos e loiros? Como seria a história da criação do mundo e do ser humano?

"Divertiam-se e começaram a, distraídos,moldar o nada com as formas e cores que lhes enchia o coração naquele momento deslumbrante de pureza da alma. Desenharam um vasto gramado onde pudessem se deitar e árvores para que se recostassem, formando maravilhosos bosques, lagos de águas azuis, verdes, negras, todas transparentes, cristalinas como o prazer verdadeiro que os elevava naquele entretenimento pueril. Juntos  coloriam também os campos com flores vermelhas, laranjas, amarelas, verdes, azuis e roxas bem como, da respiração enlevante que lhes enchia o peito, ergueram montanhas para que se refletissem sobre as águas. 
Foi então que, ao admirar o espelho das águas dos lagos, rodeados por aquela paisagem paradisíaca, não puderam mais dissimular, fingir ou negar a si mesmo ou ao outro o motivo daqueles instantes de desligamento dos diálogos e simples admiração mútua sem palavras.Amavam-se. E com isso, amaram-se.

Como mágica,fruto do inocente amor sem conceitos, inteiro, sem regras ou determinações,fantasticamente real e
sublime, dos espaços ainda de nada brotaram seres angelicais cujos sons emitidos soavam-lhes como cântico da mais admirável melodia que jamais pudera ser reproduzida, a qual reverberava suave em celebração à conjunção feérica dos dois. Deus fez-se todo amor e uma luz irrompeu do horizonte a iluminar o casal que se tornava apenas um e Deus disse: – Faça-se a luz! Faça-se a luz para iluminar o sentimento que me aflora por todos os poros, para que qualquer um possa ver e compreender que é no amor que mora toda a felicidade, amor que toma conta de mim e posso amar absolutamente todos, pois – parou um pouco, respirou profundo e prosseguiu orgulhoso – Eu sou Amor!

Ao som indescritivelmente criador que carregavam estas palavras francas, sinceras, o casal se abraçou e 
furtivamente correram-lhes dos olhos lágrimas de vida e escorreram-lhes pelas maças dos rostos até estacionarem nos sorrisos que irradiavam seus lábios. Um com os polegares suavemente colocados abaixo dos olhos do outro, as pontas dos outros dedos a acariciar o rosto e as orelhas, fizeram, sem querer, com que as gotas das lágrimas de felicidade se encontrassem.Daí, da união de dois infinitos, da comunhão das almas divinas naquelas lágrimas a formar uma só, embebida em vida pura, gotejou à relva e por vontade própria afastou-se um tanto para poder desenvolver a nova mágica. Daquela gota que corria pela grama e se expandia suavemente
e como balé se abria dela mesma, nascia Ivo, alto, forte, robusto, de tez negra como Deus e olhos brilhantes e vivos como Lúcifer. Em sua pele refletiam as gotas de lágrima que ainda repousavam sobre seu corpo."

Trecho de "A Outra História do Paraíso" in:Livro de Um Desconhecido.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Notícias do Livro de Um Desconhecido


Aos poucos cresce a divulgação do Livro de Um Desconhecido em diversos meios. Recentemente breve resenha foi publicada no JEN - Jornal de Empresas & Negócios:

http://www.jornalempresasenegocios.com.br/pagina_14_ed_2395.pdf

http://www.jornalempresasenegocios.com.br/livros_revista.html


"Diego Mileli – Chiado – Contos ficcionais para todos os níveis e sabores. Eróticos; perniciosos; históricos, até um sacrílego, todos com um perfil deliciosamente irreverente, todavia, honestos. Há
uma aura de alfinetada social, donde nada escapa à arguta e ágil pena do autor. Textos lancinantes, com certeza, trarão momentos de prazer reflexivo."

O livro está disponível em diversas livrarias no Brasil, segundo a Editora Chiado de Portugal, mas as distribuidoras não passam lista das livrarias. Online, como já anunciado, pode ser encontrado no site da Saraiva, Siciliano e Só livros (ainda não o cadastraram, mas será em breve). Abaixo lista informada pela editora dos locais físicos que disponibilizam o livro.


Rio de Janeiro (São Pedro da Aldeira): Livraria Sabor & Saber
Paraná: Distribuidora Livraria do Chain
RUA GENERAL CARNEIRO, 441 CEP 80.060-150. CURITIBA PARANÁ

Goiás, Goiânia: Livraria Didáctica - Setor Central
Rua 4, 789 - Setor Central, Goiânia - GO, CEP 74020-060, Goiânia, Goiás


Em Portugal a lista está em postagem anterior deste blog. Acesse e confira o local mais próximo.

domingo, 5 de maio de 2013

Rio: capital da bicicleta


Sei que esse blog é literário, mas, outra questão tem me incomodado recentemente. Poderia escrever na forma de crônica, como de costume, mas, opto agora por um arrazoado. 


Se tem propalado constantemente na mídia, depois dos atropelamentos de ciclistas, que o Rio de Janeiro tem mais de 300km de ciclovias. O Copenhagenize considera o Rio de Janeiro como a 12ª cidade mais "bike friendly" do mundo, ou seja, mais amistosa para ciclistas e o uso da bicicleta. Será que a opinião de especialistas estrangeiros é capaz de desfazer a realidade e conhecimento construídos pela experiência cotidiana? Os critérios utilizados para dizer que o rio é tão amistosa às bicicletas está no link. Leia e avalie você mesmo. 


Olhando o mapa cicloviário do Rio de Janeiro, a situação parece bem melhor do que é. Muitas "ciclocalçadas" são chamadas de ciclovia. Aparecem ligação que na prática não existe como a da praia de Botafogo à Lagoa, que para sair da ciclovia da orla naquela direção, há que se descer da bicicleta, descer a escada, passar por uma passagem subterrânea, que pode estar alagada, seguir por uma ciclovia de terra batida (sic) - não acredita? veja pelo google street view - e depois pegar essas ciclocalçadas. Há também problemas de iluminação como no túnel de Botafogo ao Leme, cuja iluminação da ciclovia depende da posição do sol, já que as luzes são exclusivamente pensadas para a via de automóveis, fora o risco de assaltos. http://oglobo.globo.com/zona-sul/um-velho-problema-no-tunel-novo-6662772

Quando se retira espaço do pedestre para ciclovia, me parece não incentivar a bicicleta como alternativa ao uso de carro/ônibus, etc. mas como alternativa ao passeio a pé, tão saudável e ecologicamente correto. O ciclista tem de desviar do pedestre, o pedestre do ciclista, pessoas param para conversar na ciclovia (ou seria na calçada?). Isso sem falar que há buracos, desníveis de terrenos, etc.

Vale lembrar ainda que as ciclocalçadas são tinta vermelha no passeio de pedestres. Daqui a três ou quatro anos é capaz de essa tinta se apagar - não sei a durabilidade dela - e o rio perder centenas de quilômetros de "ciclovias".

As ciclofaixas são interessantes. Eu preferiria que em vez de separadas por olho de gato fossem separadas por meio-fio. Elas também tem um problema encontrada nas ciclocalçadas. Ziguezagueam. Uma hora se está na faixa da esquerda, noutra na direita, a cciclofaixa sobe a calçada, passa por trás de ponto de ônibus e volta para a rua. Por falar em ziguezague, naquela ciclocalçada-terrabatida-escada de botafogo, a "ciclovia" segue ainda pela rua e termina de repente, pois se deveria ter seguido pelo cruzamento metros antes, atravessado a rua e tomado outra ciclocalçada. Mas isso não tem uma sinalização eficiente.

Mas, existem ciclofaixas e ciclofaixas. Espantei-me ao ver a da Ilha do Governador. Li na manchete do jornal que o ônibus avançava em cima da ciclovia da praia da Bica. Procurei, procurei até entender que o borrão vermelho que parece ter no máximo uns 70 cm era a tal ciclofaixa de lá, apesar de ser recomendável 1,5 m para a segurança de uma ciclofaixa. Para não usar a imagem de um jornal, utilizo a do blog: http://www.caoquefuma.com/2013/03/pintando-ciclovias.html (foto abaixo). Em Pelotas vi isso a primeira vez. Achei tenebroso e pensei: "Ufa, ainda bem que não preciso usar essas no Rio." Até porque o trânsito lá é muito menos agressivo que o do Rio. 

Existem outras ciclocalçadas na zona oeste, mas por lá não conheço porque não consigo chegar de bicicleta nesses lugares. Porém, visitei pelo google street view e vi que são também tinta vermelha na calçada. Resta saber quanto tempo duram, volto a repetir. Essas ciclocalçadas às vezes ocupam a calçada inteira, como no Jardim Botânico, por exemplo (http://oglobo.globo.com/zona-sul/uma-ciclovia-estreita-demais-para-todo-mundo-3650863). Na Ciclocalçada Botafogo-Praia Vermelha, há um trecho, da praia de Botafogo até pegar a pista do meio em que o problema se repete. Não há calçada, só calçadovia ou ciclocalçada. Depois do posto de gasolina de um lado é um sentido, do outro o contrário e no meio árvores, espaço onde o pedestre se esconde quando vem uma bicicleta. Temos outras ciclovias contando quilômetros por aí. As da floresta da Tijuca - que não tem nem, por mais que se esforce, como alguém dizer que são para transporte - as no entorno do Maracanã, a do entorno do Engenhão...  Aliás, essas são praticamente as únicas da Zona Norte, região da cidade que tem o tamanho de uma cidade inteira.

Você, carioca, consegue usar ciclovias no seu dia-a-dia? Serve de transporte para o trabalho, faculdade, para visitar amigos, ir ao supermercado ou só consegue usá-las aos finais de semana? Quantos quilômetros são da sua casa para o trabalho? Daria para fazer de bike (ou você faz pelo meio da rua)? Esses tantos quilômetros de ciclovia realmente são para transporte? Por que estão na secretaria de meio ambiente? Você pode pedalar até a estação de trem, entrar com sua bike no vagão de bicicletas e ao desembarcar continuar o resto do trajeto de bicicleta (com ou sem segurança)? Aliás, se tivesse vagão de bicicletas no metro, o ciclista não conseguiria entrar porque as composições vem tão entupidas de gente que a finalidade seria revertida para desafogar os vagões de uma malha metroviária que ficou abandonada por anos (década) e cuja expansão insiste no erro de uma única linha, por mais que tenha números diferentes (1, 2 e 4 - sic).

Sem poder integrar a bicicleta ao transporte de massas ferroviário, sem ciclovias na zona norte, com as existentes na cidade inteira apresentando essas características mencionadas acima, sem a maior parte da população poder utilizá-las no trajeto do dia a dia, sem ciclovias no centro da cidade, com uma política de retirar espaço dos pedestres, transformando as bicicletas em alternativa à caminhada e não ao carro, é o Rio de Janeiro mesmo "bike friendly"?

Bem, ao andar pela cidade com certeza algumas vezes algum motorista já jogou o veículo para cima de você como para "dar uma lição", já teve de parar para não ser atropelado por um ônibus, desviar de corredores e transeuntes nas ciclovias (de lazer) da orla/pontos turísticos. Qual avaliação você faz do uso de bicicleta no Rio? É amistoso? As ciclovias atendem o uso diário? O trânsito é tranquilo? Que dá para usar, dá, mas existe mesmo incentivo e estimulo com segurança para quem optar pelas pedaladas?

Deixo umas sugestões.

1) Uma ciclovia beirando a linha do trem. No Ramal Deodoro já daria uma grande ajuda. Em muitas regiões há espaço entre o muro das estacões e o trilho. Aliás, todo esse sistema de muros merece uma revitalização. São antissociais e nem calçadas para pedestre possuem, apesar de abrigar pontos de ônibus. Integraria a zona norte à Central do Brasil e os bairros dessa zona entre si, afinal há uma comunicação grande entre eles, especialmente em regiões como Méier, Madureira e Bangu (zona oeste).


2) Ladear a Avenida Brasil com Ciclovias dos dois lados. A via corta a zona norte em outra região e permitiria muita gente chegar também ao Centro da Cidade, passando inclusive pela Rodoviária e poderiam aproveitar a bagunça da perimetral que já estão fazendo para uma ciclovia no local estendendo-se até a praça XV, talvez.

3) Da Central do Brasil até a praça XV(E essa poderia ser esticada até a do Aterro, já que é ali bem próximo e com um trajeto tranquilo em calçadas amplas que poderiam ser divididas, restando ainda espaço para os pedestres e passando pelo aeroporto. Olha que maravilha, já se poderia ir de realengo até o Leblon com uma cilcovia na Brasil e esta. Da central, sugeriria entrar em direção à praça da bandeira, subir o viaduto da av. Chile e pegar a Evaristo da veiga/ Araújo Porto Alegre até a praça XV. Um trajeto que não tem grande movimento comparado às demais vias do Rio de Janeiro e pelo qual se teria acesso à lapa, cinelândia, largo da carioca, e praça XV, aeroporto, integrando metrô, trem e barca, além de ciclovias da zona norte e zona sul. Haveria impacto no trânsito? Com certeza. Especialmente no aumento do uso da bicicleta como meio de transporte.

Haveria uma série de outras sugestões como ligar essa ciclovia da central/praçaXV via cinelândia, ao aterro pela Antonio Carlos (via de pouco movimento no sentido aterro) e Beira Mar (calçada praticamente sem uso) pelo vão do MAM, propiciando até mesmo uma integração cultural - CCBB, Casa França-Brasil, Centro Cultural dos Correios (acessíveis pela praça XV e MAM. Uma ciclovia de Vila Isabel ao Centro também, passando por Tijuca, Estácio e Lapa. Enfim... Se houvesse interesse, a bicicleta seria alternativa de transporte, mas hoje é apenas de lazer e mantém-se os estacionamentos nas ruas, espaços das vias que são incentivo ao automóvel em vez de ciclovias, que seriam incentivo ao trânsito, à bicicleta, à locomoção e à despoluição. As opções governamentais te sido tirar espaço dos pedestres, infelizmente. Tem melhorado? Eu digo que sim. Mas, ainda muito longe de ser convidativa ao uso da bicicleta e amistosa a quem se arrisca em usar.

Conclusão sobre o copenhagize? Ou bem há muita propaganda e pouca experiência de uso para análise ou bem o mundo vai mesmo muito mal no respeito às bicicletas.

OBS: Em Porto Alegre, também pouco amistosa, a ciclovia vai em passos bem lentos, mas pela Av. Ipiranga, R. José do Patrcocínio, 7 de setembro, serão úteis não apenas por lazer e estão sendo feitas nas vias, o que acho bem interessante. Infelizmente vai bem devagar, mas com uma durabilidade maior, que não pode ser apagada simplesmente ao par de alguns anos pelo desaparecimento da tinta sobre a calçada. 


O objetivo dessa crítica não é desmotivar a política de implementação de ciclovias, mas ampliar as discussões e abrir os olhos de quem os tiver fechados para que ela seja de transporte e permanente, alternativa aos carros, não às caminhadas, funcionais e não de lazer. Em resumo, contribuir para a discussão. No Brasil, nenhuma grande cidade é verdadeiramente "bike friendly", ainda.



OBS2: Os links são para matérias d'O Globo porque foram as que apareceram mais facilmente na pesquisa pelo Google.