segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Resposta Ao Espelho


Mas, e se eu não houvesse parado e sonhado?
Digo-lhe, eu do espelho,
Que não me importa seres o horizonte,
Pois enquanto caminhava penosamente,
Eu alçava-me aos céus
E deitava-me nas nuvens,
De onde pude ver que seu horizonte é nada.
Daqui, do cimo da existência!
Ainda que não toque o físico,
Alcancei o universo inteiro.
Avistei todos os campos e mares,
Perpassei todas as muralhas,
Desbravei os bosques da vida,
Visitei o fundo dos oceanos
E sem usar meus pés ou pernas.
Estive, livre, em todos os lugares.
Lancei meu olhar, e com ele, a mim mesmo,
A tudo que a mente consegue,
Ou nem sonha conseguir, imaginar.
E se hoje me olha com desgosto
Como a um ente imaginário esquecido,
Lembro-o que em rudeza ultrapassa-me
Quem nunca soube sonhar.



Minha alma sai de mim


Minha alma sai de mim
E se infla e se ergue e voa
E se parte em mil pedacinhos.
Cada pedaço em parte alguma
Em toda parte começa a formar
Um novo eu para...

Meditação


Ouça o silêncio!
Shhh!... Shhh!...
O vento, a consciência...

Traga-me noticias de além.
Sussurra ó vento e conte-me
O que tu sabes bem.

É frio? É triste?
É certo, medo existe.
Mas... Vem, noite!

Abra os braços
E faça sangrar meu coração!

A árvore... É outono.
É sempre outono...

Luz do crepúsculo


Quero morrer! Não aprendi a viver.
Não aprendi a ser fútil
E viver por viver sem tentar entender
O que se passa à minha volta.

O firmamento mostra-se taciturno.
As pedras andam sempre frias.
As flores desfolham-se ao vento;
Vento cortante que nunca cessa.
E o que eu posso fazer?

O homem ignora a angústia alheia
Por fingir para si mesmo
Que, ele próprio não a tem. Nunca!
A ignorância traz felicidade.
E o que eu posso fazer?

Pensando poder ser livre
Quando quiser, ata-se ainda mais
Aos imensos grilhões dos porões
Da humanidade.
E o que eu posso fazer?

Não sei se ainda estou amarrado
Ou se não encontrei a chave.
Esta, talvez sequer exista...
E eu nada posso fazer!


O adeus

 Fulgure tênue luz cintilante
Que ilumina meu triste semblante
Com um inalcançável dia.
Ah! Quem dele não gostaria?

Porém nunca hei de ser contemplado
De tão lúgubre que é meu fado.
A luz eu vejo! Vem da vela...
Pequena chama embora bela.

Mas, ainda, esta, assopro merece.
Ah! Se um sucesso me viesse...
Crepúsculo no firmamento...

A escuridão eu aumento
Quando deixo que venha este vento.
... A fumaça sobe sem tormento...

sábado, 27 de agosto de 2011

Espelho


Olho para o espelho e penso:
- Quem é este que me observa?
Definitivamente não me reconheço.
Aquele do outro lado não sou eu.

Mas por que o espelho mente para mim?
O rosto, os olhos, a expressão
Que outrora me foram tão familiares
Já não são mais meus rosto, olhos, expressão.

Por que toda esta estranheza?
O que terá me feito tão diferente
A ponto de doer-me no peito
A mentira do espelho?

Por dentro daquele olhar lânguido
Percebo não mais dentro de mim.
É outro que habita o corpo
E sem ter me pedido permissão.

O tempo que lhe castigou,
O mundo que lhe erodiu o espírito
Moldou-o num ser distinto
Que não posso aceitar ser eu.

Não posso aceitar ter meu espírito rijo
Sido amolecido, talhado sem esforço
Ao bel prazer do seguir dos dias
Como se não houvesse vontade.

De que me terá valido
Todo o esforço de pensar
Se nem mais eu mesmo
Consigo acompanhar minha caminhada?

Temo ter iludido a mim mesmo
Ao ousar crer poder ser.
E agora me é jogado à cara,
Sem a menor piedade, o que não quis.

É-me mostrado o retrato exato
Daquilo que, apesar dos esforços,
Na verdade é o que me tornei.
Todo o árduo trabalho; vão.

Ludibria-me a luz
Que chega aos meus olhos,
Porém também a que
A que arde dentro de mim!

Perdi-me ao olhar o sol
Que descansa sobre nossas cabeças.
Cria poder compreender algo...
Enquanto isso meu corpo seguia.

Não me acompanhei na estrada.
Sumiu-me da vista atrás da poeira
O destino que a vida tomou
Enquanto eu colhia flores.

No caminho agora deserto,
À margem de mim mesmo,
Resolvi lavar-me o rosto
Nas claras águas de um lago.

Este impiedoso e certo,
Na sua superfície estática
Suspirou fundo, chamou-me,
E como quem sabe da verdade, disse:

-As idéias e pensamentos dão o rumo,
Mas o caminho sinuoso
Se faz com as pernas e pés
Que não questionam a si.

Busquei ser algo mais
E pensando inflar-me, esvaziei.
Indiferente a mim, prossegui
E lá atrás abandonei eu mesmo.

Hoje carrego sobre os ombros curvados
O peso do tempo à existência oca.
Defronte de mim, com piedade, olha-me o outro.
Aquele que sem pensar alcançou o horizonte.

Eu, crítico e austero,
Fiz-me quadro vetusto.

Com essa dor eu me deito
E tenho que dormir.
Amanhã é terça-feira
E o mundo não me espera.

Se ao menos seguisse o rumo
Que lhe é caro e me deixasse!
Mas, em vez disso, me arrasta;
Me empurra e me leva com ele.

Não, Não quero! Deixe-me!
Não posso passar sequer um dia
Espiando-o de fora
Ou simplesmente ignorando-o?
Talvez eu tenha feito
E hoje, ao olhar meu reflexo
Afirme que decerto não é meu.
Mas, ou ele ou eu mentimos.



Memento mori


São numerosas as construções e planos,
E diversos e incessantes enganos.
De nada adianta se ter um afã
Quando se pode morrer amanhã.

Tudo será com você enterrado!
Este é o nosso inevitável fado
Que temos que aprender a aceitar.
O mundo irá com você acabar.

Afundar-se-ão os seus objetivos
Juntamente com seus amigos queridos.
E o que nos é possível fazer
Senão esperar o dia de morrer?

Trabalhar, ter um filho, uma vida!
Alcançar a grande meta seguida!
Ver o jardim de dia florescer
Sem nunca sê-lo para você...

Tantos objetivos e sonhos...
De que terá servido isso
Se você morrer amanhã?

Sonhos sem esperança


Não acredito em meus sonhos.
Nenhum poder é capaz de realizá-los.
Nada tem poder de torná-los reais.
Meus sonhos para o mundo são fatais.

A vacina ardente que me percorre,
Arrasta-se em minhas veias,
Domina minha pobre mente
E meu organismo debilitado morre.

Agora estou em suas mãos.
Minha expressão inundada em lágrimas.
É tudo o que me restara.
Afogo-me com minhas lástimas.

Ninguém se importará com meu passamento.
A vida é feita toda de momentos.
A lembrança será soterrada,
A tristeza facilmente superada.

Tristeza?! Provavelmente nenhuma.
Não para aqueles que condenam
O que sinto sempre.
Vozes de solidão me aconchegam.

Abraço a única coisa que restou.
Só tenho minha ardente e doce heroína,
Que me ajuda nos difíceis segundos
E destrói-me neste maldito mundo.

Sinto ódio e pena dos senhores
Que me trouxeram combalido,
E tem um miserável filho
Sem esperança, sem louvores.

Lanço minha vida à lama
Sob lágrimas de meu coração.
O suicídio bate em minha alma
Como uma triste e clássica canção.


Desgraça


Maldita desgraça
Devora e destrói.
Agora me abraça
Como um herói.

Pára e me conforta
Com seus sentimentos,
Suas palavras mortas
Mostrando-me tormentos.

Esconde-me a fuga...
O tempo passa...
E detrás da ruga
Vive a desgraça.

Minhas lamúrias
Choram com medo
De calúnias
Que crispam meu coração.


Nada restante*


Meu corpo está frio
Devido a todo o meu pesar.
Beleza não tem mais graça.
Não adianta lamentar.
O tempo passa...

Não sei se ainda vivo
Nesse mundo esquisito.
Tudo que sei é que nada sei.
Tudo que penso já foi dito...
Lembrança de algo que memorizei.

Misturo algumas palavras,
Faço delas parte de minha alma.
Teoria eternamente sagrada
Em minha mente nada calma.

Minha pessoa conturbada
De sanidade arranhada.
A gota caiu sobre o lago
Em que a água estava parada.
Todos os caminhos já foram trilhados...

O destino que sigo está oculto;
Escondido num caminho nunca visto.
Para onde vou? Estou longe disto.
E perto disto sempre ando.
Meu cérebro responde o que almejo tanto.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Metapoema da Tristeza


Escrever sobre tristeza
Não é nenhuma proeza.
Fale de lágrima, frio.
Junte silêncio e vazio.

Misture vento e noite.
Adicione o açoite
Para representar a dor.
Tire da vida o valor.

Uma pitada de medo.
Talvez um passado ledo.
Diz que o sofrimento é eterno.
O destino não foi terno.

Só subsiste escuridão
E se está numa prisão.
Chore que acre é a vida
E a existência perdida.

Se for um ultra romântico,
Lembra da donzela e pranto.
Também cai bem nostalgia
E termos 'de poesia'.

Jogue fora a esperança.
Adoce com infância.
Fale de tédio e morte e
Dose tremenda má-sorte.

Pronto!

Tem um poema na mão.
Vê a versificação.
Esmere-se bem na rima.
E far-se-á obra prima!

Mas é tudo besteira.
Triste é essa barulheira,
Calor, multidão e sol...
O trabalho e futebol!