sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Havia esquecido

Ontem me lembrei do meu blog. Há algum tempo o criei. Pouco depois o divulguei e postei uma série de coisas, incluindo todos os poemas que estão nos meus livros e outros textos em prosa, os quais alguns estão nos meus livros e outros não. Estão apenas aqui no blog. Outros textos, em compensação, não estão nem nos livros nem nos blogs e ficaram por aí, perdidos no Facebook ou sem indicar meu nome.

O que me chamou atenção quando eu me lembrei do meu blog foi que a última postagem data de 22 de maio de 2013. Duas semanas depois, os protestos contra os aumentos das passagens dos transportes coletivos cresciam e, tanto aumentava a repressão policial por medo daquele crescimento, tanto maiores eram os protestos e novas demandas surgiam.  Até que no dia 20 de junho um milhão de pessoas tomou a Av. Presidente Vargas no Rio de Janeiro e a policial massacrou os manifestantes com blindados, bombas, cacetadas, balas de borracha, inclusive dentro de hospitais. Ali nasceu uma polícia em reprimir protestos e essas cenas passariam a fazer parte do cotidiano brasileiro. Ao mesmo tempo, surgiram diversas outras organizações da população para lutar por uma mudança radical na sociedade no sentido de se libertar da opressão que constitui o cotidiano do povo.

Hoje, mais de 70 coletivos são investigados pela polícia política, que não tem oficialmente este nome, mas não deixe de ser, pois se esforça em combater a crítica e os protestos de rua enquanto os índices de criminalidade aumentam na cidade, apesar da militarização das favelas, e as bilionárias vigas da perimetral, apesar de imensas e das dezenas ou centenas milhares de câmeras espalhadas pela cidade, nenhuma gravou a fuga delas. Aliás, filmar, fotografar, registrar, etc. de nada serve, pois é incontável a quantidade de abusos cometidos por policiais dentro e fora das manifestações ao longo do último ano, entretanto nenhum policial foi considerado culpado por elas. Foram tiros de munição letal disparados diversas vezes, registrados em diversas imagens, ferindo manifestantes; foram flagrantes forjados, foram postagens no Facebook se vangloriando de agredir manifestantes, foram objetos arremessados do alto da Câmara dos Vereadores do Rio, foram manifestantes e jornalistas agredidos, câmeras roubadas, prisões arbitrárias sob o manto do famigerado “desacato”, que engloba qualquer espirro não autorizado, foram mortes, sequestros, torturas, estupros ocultação de cadáveres, arrastamento de pessoa por asfalto, assassinato em manifestação de moradores de favelas, todos cometidos por policiais, registrados. Entretanto os casos não resultaram em nada contra os policiais. Aliás, o caso do capitão da PM-DF resume bem a história. Ao ser perguntado por que atacou os jornalistas com spray de pimenta, o policial respondeu “Por que eu quis! Pode ir lá denunciar!” Essa frase resume toda a história, explica completamente como funciona a sociedade brasileira e seu autoritarismo. Algum tempo depois, coroou-se a história para deixar ainda mais claro o que acontece. O policial foi absolvido.

Hoje é só convocar uma manifestação que aparecem centenas ou milhares de policiais, normalmente em número maior que o de manifestantes, são efetuadas dezenas de revistas aleatórias onde até bateria de celular na mochila é motivo para detenção. Surgem dezenas de motos, diversas viaturas e uns pares de ônibus para trazer policiais ao local e levar embora manifestantes. Nesse terrorismo do Estado onde participar de um protesto pode levar a graves ferimentos e se organizar politica ou socialmente pode ser enquadrado como organização criminosa, os protestos diminuíram de tamanho, pois a população ficou com medo de participar. Era o que o Estado queria. A CPI dos Ônibus não saiu do papel, o Governador passeava de helicóptero e nada aconteceu, a linha 4 do metrô teve seu traçado alterado para estender a linha 1 e continuar sem licitação, as vigas continuam desaparecidas, as mídias não pagam os milhões que devem, no local das casas demolidas restaram os entulhos e nada foi construído no lugar, as milhares de pessoas removidas foram parar bem longe do centro, ou ficarão tão próximas que ocupam as ruas, fazendo-as de moradia... mas o lucro dos bancos continua crescendo.

Agora vêm as eleições. Eleições de pessoas. Pessoas-mercadoria. Rostos acompanhados de números. E chamam isso de festa da democracia. Ou será festa dos bancos e dos megaempresários? Segundo jornal gratuito, as campanhas eleitorais custam três vezes mais que a Copa. Sinal de que dá lucro. Mas, para quem? Realmente governarão para a população? As empresas não doam para campanha, investem em suas expectativas de lucro.

Esses são apenas alguns exemplos do que encontramos por aí. Imerso nisso tudo fica difícil sobrar tempo para escrever poesia, infelizmente. Aliás, tinha me esquecido até mesmo do meu livro. Pouco após seu lançamento veio toda essa história (que não é nova, mas se tornou muito mais intensa) e acabei nem o divulgando tanto. Algumas postagens ali para baixo tem mais informações do “Livro de Um Desconhecido”.