Ontem me lembrei do meu blog. Há algum
tempo o criei. Pouco depois o divulguei e postei uma série de coisas, incluindo
todos os poemas que estão nos meus livros e outros textos em prosa, os quais
alguns estão nos meus livros e outros não. Estão apenas aqui no blog. Outros
textos, em compensação, não estão nem nos livros nem nos blogs e ficaram por
aí, perdidos no Facebook ou sem indicar meu nome.
O que me chamou atenção quando eu
me lembrei do meu blog foi que a última postagem data de 22 de maio de 2013.
Duas semanas depois, os protestos contra os aumentos das passagens dos
transportes coletivos cresciam e, tanto aumentava a repressão policial por medo
daquele crescimento, tanto maiores eram os protestos e novas demandas surgiam. Até que no dia 20 de junho um milhão de
pessoas tomou a Av. Presidente Vargas no Rio de Janeiro e a policial massacrou
os manifestantes com blindados, bombas, cacetadas, balas de borracha, inclusive
dentro de hospitais. Ali nasceu uma polícia em reprimir protestos e essas cenas
passariam a fazer parte do cotidiano brasileiro. Ao mesmo tempo, surgiram
diversas outras organizações da população para lutar por uma mudança radical na
sociedade no sentido de se libertar da opressão que constitui o cotidiano do
povo.
Hoje, mais de 70 coletivos são
investigados pela polícia política, que não tem oficialmente este nome, mas não
deixe de ser, pois se esforça em combater a crítica e os protestos de rua
enquanto os índices de criminalidade aumentam na cidade, apesar da
militarização das favelas, e as bilionárias vigas da perimetral, apesar de
imensas e das dezenas ou centenas milhares de câmeras espalhadas pela cidade,
nenhuma gravou a fuga delas. Aliás, filmar, fotografar, registrar, etc. de nada
serve, pois é incontável a quantidade de abusos cometidos por policiais dentro
e fora das manifestações ao longo do último ano, entretanto nenhum policial foi
considerado culpado por elas. Foram tiros de munição letal disparados diversas
vezes, registrados em diversas imagens, ferindo manifestantes; foram flagrantes
forjados, foram postagens no Facebook se vangloriando de agredir manifestantes,
foram objetos arremessados do alto da Câmara dos Vereadores do Rio, foram
manifestantes e jornalistas agredidos, câmeras roubadas, prisões arbitrárias
sob o manto do famigerado “desacato”, que engloba qualquer espirro não
autorizado, foram mortes, sequestros, torturas, estupros ocultação de
cadáveres, arrastamento de pessoa por asfalto, assassinato em manifestação de
moradores de favelas, todos cometidos por policiais, registrados. Entretanto os
casos não resultaram em nada contra os policiais. Aliás, o caso do capitão da
PM-DF resume bem a história. Ao ser perguntado por que atacou os jornalistas
com spray de pimenta, o policial respondeu “Por que eu quis! Pode ir lá denunciar!”
Essa frase resume toda a história, explica completamente como funciona a
sociedade brasileira e seu autoritarismo. Algum tempo depois, coroou-se a
história para deixar ainda mais claro o que acontece. O policial foi absolvido.
Hoje é só convocar uma manifestação
que aparecem centenas ou milhares de policiais, normalmente em número maior que
o de manifestantes, são efetuadas dezenas de revistas aleatórias onde até
bateria de celular na mochila é motivo para detenção. Surgem dezenas de motos,
diversas viaturas e uns pares de ônibus para trazer policiais ao local e levar
embora manifestantes. Nesse terrorismo do Estado onde participar de um protesto
pode levar a graves ferimentos e se organizar politica ou socialmente pode ser
enquadrado como organização criminosa, os protestos diminuíram de tamanho, pois
a população ficou com medo de participar. Era o que o Estado queria. A CPI dos
Ônibus não saiu do papel, o Governador passeava de helicóptero e nada
aconteceu, a linha 4 do metrô teve seu traçado alterado para estender a linha 1
e continuar sem licitação, as vigas continuam desaparecidas, as mídias não
pagam os milhões que devem, no local das casas demolidas restaram os entulhos e
nada foi construído no lugar, as milhares de pessoas removidas foram parar bem
longe do centro, ou ficarão tão próximas que ocupam as ruas, fazendo-as de
moradia... mas o lucro dos bancos continua crescendo.
Agora vêm as eleições. Eleições
de pessoas. Pessoas-mercadoria. Rostos acompanhados de números. E chamam isso
de festa da democracia. Ou será festa dos bancos e dos megaempresários? Segundo
jornal gratuito, as campanhas eleitorais custam três vezes mais que a Copa.
Sinal de que dá lucro. Mas, para quem? Realmente governarão para a população?
As empresas não doam para campanha, investem em suas expectativas de lucro.
Esses são apenas alguns exemplos
do que encontramos por aí. Imerso nisso tudo fica difícil sobrar tempo para escrever
poesia, infelizmente. Aliás, tinha me esquecido até mesmo do meu livro. Pouco
após seu lançamento veio toda essa história (que não é nova, mas se tornou
muito mais intensa) e acabei nem o divulgando tanto. Algumas postagens ali para
baixo tem mais informações do “Livro de Um Desconhecido”.