terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ainda há exemplares!

Ontem à noite, indo ao supermercado com o César, acabei encotnrando a Amalyn e paramos para tomar uns chopes e conversar um pouco antes de continuar a seguir o rumo. Seguindo orientação da Amalyn, considerando a velocidade do esquecimento nos tempos atuais, ainda que brevemente pois não consegui parar em frente ao computador, faço um apelo: LIVROS!

Como estamos próximo ao Natal, época em que se compram dezenas de presentes, Livros são uma boa alternativa. Principalmente se forem os meus (ao menos para mim). Sei que já está um pouco em cima da hora, afinal falta menos de uma semana, mas só agora fui iluminado com essa ideia. Antes eu me esforçava para lançar o Livro de Um Desconhecido em tempo hábil, mas não foi possível e ele deverá chegar ao Brasil apenas em fevereiro, pois está na gráfica em Portugal.

Mas, queria lembrá-los que ainda tenho exemplares dos três livros de poemas. Os que ainda não adquiriram nenhum tem essa oportunidade. Os que leram tem agora chance de presentear amigos e parentes com a literatura. Caso ainda não conheça as obras, para descobrir qual mais o agrada, consulte no blog www.mil-l.blogspot.com à direita, na página dos títulos: O Eu mais íntimo, Pretérito Mais Que Presente, Vida e Poesia
Os livros foram publicados nessa ordem e o preço é, na contra-mão do costumeiro, definido pelo comprador. Apenas a título de parâmetro para se calcular um preço justo, conforme muitos pedem, informo que o custo de cada um deles foi de, respectivamente R$13, R$15 e R$15.

Dê livros de presente e ajude a salvar o livro do abandono em que se encontra, demonstrado na crônica do Dia Nacional do Livro. Estimule o prazer da leitura e o pensar e sentir pela literatura.

Escolha o livro que quiser no blog e me contate para que eu entregue os exemplares, pessoalmente ou por correio.

Ah, toda ajuda de divilgação será bem-vinda. Sigam o blog em "participar deste site", à direita na página do blog ou clicando aqui e curta também a página de autor no facebook acessando pelo endereço www.facebook.com/DiegoMileli1

Espero pela encomenda!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Apresentação do Livro de Um Desconhecido

Infelizmente não tenho podido escrever tão frequentemente como gostaria. Essa rotina de estudar e trabalhar é cansativa e pouco tempo sobra para atividades fora dessas obrigações. Fui inventar de voltar a estudar... Pior que até agora não consegui terminar a novela que já há muito concluí, só falta passar para o papel, nem pude dar andamento a outros projetos ou sequer lembrar como se toca violão. Mas isso não importa.

Vim aqui tentar amenizar esse silêncio, se é que é possível amenizar um silêncio. Pois bem. O Livro de Um Desconhecido, tão prometido, já deve estar a cansar muita gente. O tempo todo falo dele, digo que ele existe, que está por vir, mas nada de concreto. Onde estao os exemplares impressos?!

Muita calma! O arquivo já foi enviado para a gráfica! Ainda no primeiro trimestre, quiçá fevereiro, estará disponível para leitura, compra, etc. Como ainda faltam dois meses até lá, creio ter quase um dever moral de antecipar mais um pouco. Então, compartilho as palavras do Poeta, comunicólogo, mantenedor do Prosa em Poema, que presta um grande trabalho de divulgação da Literatura contemporânea, mormente lusófona, sem faltar com textos consagrados e homenageia os mais diversos autores. Logo nas primeiras páginas do Livro de Um Desconhecido, figurará a opinião de Paulo Sabino, apresentando-o, que tive a horna de poder fazer constar da minha futura obra (que já é até passado, quase). Enquanto aguardam, podem criar ou desfazer expectativas com a Apresentação. Eis:

O livro de estreia de Diego Mileli como contista mostra, já no prefácio, que o escritor não veio para brincadeiras.

Arte, aqui, é assunto sério e, como tal, precisa ser cuidado e trabalhado com atenção e sem meias verdades. O autor não admite concessões de espécie alguma quando se trata da abordagem e dos assuntos tratados nos contos que formam o "Livro de um desconhecido".

A começar pelo seu início: a desnecessidade da obra, para o próprio autor, é latente; é como se, para o próprio Diego, fosse um "erro" a existência da literatura. Mas a necessidade existente, no autor, de escrever a sua obra, fala mais alto. E essa necessidade de escrevê-la, de escrever a obra, ao invés de deixá-la inacabada, e essa necessidade de traçá-la ao invés de largar os escritos pela metade, acaba por transformar o ato da criação em um ato de cobardia. Pela falta de coragem para desistir de tudo, o homem escreve e faz literatura.

O ato de escrever como o ato de cobardia: a falta de coragem de homens, que podem achar-se corajosos porque escrevem, é desmascarada. Escrever, segundo Diego Mileli e Bernardo Soares (um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa), é um ato para os fracos.

Há, durante toda a obra, o interesse (ainda que implícito) de ir revelando, de ir desmascarando, de ir mostrando, que, no fundo, somos feitos de fortalezas porém de fraquezas muito mais, que, no fundo, somos frutos de um processo natural de seleção e que achamos que estamos "acima" desse processo natural de seleção. O homem pode terminar com as condições necessárias à sua própria sobrevivência e ainda não se deu conta disso, apesar de todas as previsões, apesar de todos os pesares causados por um processo desastroso de industrialização e produção de "riqueza". A dizimação do planeta que nos acolhe, pelo visto, está longe de parar.

Se, como propalado aos quatro ventos, somos feitos à imagem e semelhança de um ser superior a que chamamos "Deus", o conto "Gênese" deixa claro que esse "deus" que nos criou à sua imagem e semelhança sabia bem o que estava fazendo, mesmo que não imaginasse, bilhões de anos após a nossa criação, do que seriam capazes as suas criaturas de fazer com a Terra. No conto, "Terra" é a esposa de Deus Pai Todo Poderoso, a grande responsável pelo surgimento das belezas mundanas no planeta que é batizado com o seu nome.

Em "Breve história da humanidade", há um histórico resumido do modo como fomos arquitetando o conjunto de padrões comportamentais e de obrigações que denominamos sociedade, resultando nos valores e nas ações sociais tais como "roubo", "justiça", "propriedade", "exclusão social", "prostituição", "traição", "família" e "adultério". 

O encontro de sociedades diferentes culturalmente mais a destruição e os distúrbios ocasionados pelo etnocentrismo estão presentes em "Mitologias apócrifas", conto que narra a chegada de um estrangeiro em um povoado que tem o seu cotidiano totalmente modificado - para pior - depois das novas regras, dos novos conceitos e dos novos valores embutidos pelo estrangeiro na tal sociedade por ele descoberta. São reveladas as dificuldades que as sociedades humanas têm, desde sempre, em lidar com o que é diferente, geralmente destruindo aquilo que estranha e desconhece.

Há espaço também para as mazelas de uma vida moderna, onde as pessoas brigam com o relógio - porque não sobra tempo para nada, apenas para o trabalho e para as obrigações individuais - e esquecem de conhecer aquele que está ao seu lado, aquele que, de repente, passa todos os dias pela gente sem que a gente se dê conta - um vizinho, por exemplo. São tantos os afazeres de uma vida moderna e urbana que alguns valores são deixados para trás no meio de tanto corre-corre. 

Os contos realçam nuances de uma sociedade onde todos preocupam-se, antes e apenas, com os seus problemas e seu bem-estar, onde os valores incentivados estão embebidos, estão encharcados, de doenças sociais: os preconceitos, as injustiças sociais, a desvalorização da vida. 

A arte dos contos de Diego Mileli manifesta-se sem aspirações de adoçar a boca (e os olhos) dos leitores com linhas açucaradas, onde os sorrisos desabrochem no porvir das páginas. 

E é melhor que assim o seja. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Ontologia Poética



Alguns amigos, por um motivo ou outro, às vezes me atribuem o predicado de poeta. Terrível como isso pode conceder uma liberdade maior que a dos demais ou, por outro lado, nos prender a monstruosas obrigações, assombrosos, imperiosos obrigatoriedades e conheceres.
 
Em certas ocasiões, ajo de uma forma pouco convencional ou penso algo que seria reprovável ou estranho, distorço o idioma e subverto-lhe as regras para adequá-lo à minha vontade. Sou, porém, absolvido da agressão ao idioma, ou à moral, ou aos bons costumes. Se me desculpo pela mácula que derramei sobre tais regras, dizem: “Ah, mas você é poeta. Tudo bem!”

Noutras situações a condição de poeta é em benefício do outro. Se, por exemplo, discordo da forma de ver em algo e exponho outras nuances e aspectos que o outro interlocutor não se havia proposto, em vez de perceber que isto é apenas por uma perspectiva de observação distinta, ele identifica em mim uma qualidade especial, o ser poeta, para se defender de não ter visto da mesma forma – o que não é falta nenhuma – como se algo se manifestasse como graça divina para o poeta.

Entretanto, nem sempre são complacentes; nem sempre são bons os ventos que me sopram. Citam um verso de alguém que eu não conheço e espantados questionam: “Como você, que é poeta, não conhece?”. Em seguida, ao meu desconhecimento comumente vêm seguros em minha defesa: “Você conhece sim, só não está lembrado.”

Ou impõem essencialidades e afirmam confiantes: “você que é poeta sabe que...” Constrangem-me a concordar e obrigam-me a constranger se não condigo com essas características, com essa tal mente ou pensamento geral dos poetas que me impelem a saber ou concordar que.

Pergunto-me se há alguma espécie de estatuto do poeta, direitos e deveres fundamentais especiais, regras específicas para se ser poeta, uma essência do poeta que inclui uma série de exigências de conheceres e aceitação de sei lá quais dogmas e, em vista disso, gozar de concessões e garantias mais amplas ou de outra ordem. Pergunto-me se a poesia depende de classificações, determinadas leituras obrigatórias, escolas, correntes, etc. Se sim, chegaremos a um problema de “poesia original”, a primeira, sem nenhum desses pré-requisitos. Sinceramente, não compreendo.

Então, amigos, escrevo-lhes este recado:

Não sou poeta. Nunca me afirmei poeta. Já até, em vão, tentei descobrir o que seria. Drummond diz que não é poeta quem escreve por dor de cotovelo ou esporádico contato com as forças líricas; que se deve escrever com esforço, suor, trabalho e retrabalho, por ofício. Como vou discordar? Afinal, foi Drummond! Eu, todavia, faço tudo o contrário. Escrevo se me dói. Escrevo se me vem de repente uma sensação que me domina e me utiliza para imprimir-se no papel. Além disso, não tenho paciência para pensar em palavras, para trocar versos e não consigo levar mais que vinte minutos para aprontar um poema. Quando da publicação eu até dou mais uma olhada, é verdade, confiro a pontuação, mas são retoques, meros detalhes. Nada essencial.

Até hoje não li “Os Lusíadas”, “Ilíada” ou “Divina Comédia”. Confesso que acho extremamente chato “Espumas Flutuantes”. Sou suficientemente herege para, afastando-me dos versos, afirmar que Guimarães Rosa é enfadonho; que não prendeu minha atenção até o fim “Orgulho e preconceito”; que o tal Dom Quixote é intragável e que as partes boas dos dois volumes são poucas, preferindo eu, então, a versão resumida, para-didática, para crianças. Apenas acometeu-me o acaso de apreciar umas literaturas que nem faz sentido citar, pois não me absolveria do crime de ainda não ter lido “1984”, que acho deve ser interessante e seria o livro que as pessoas mais mentem que já leram. Lerei, pretendo. Mas ainda não li!

Ah, vocês que tiveram estômago e não se enojaram por completo até agora, preparem-se para, aliando-se aos demais, que já interromperam a leitura, decretarem-me a pena capital, aterrados por minha derradeira confissão. Não gosto de poesia. Isso mesmo! Não gosto de poesia!

Não gosto de poesia telegramática, que em palavras soltas quer esconder um ‘mistério’; que quer ser profética e camufla o que quer dizer, se é que há algo. Parece-me querer se atribuir um valor que não tem, uma qualidade de gênio incompreendido a quem escreve e uma tal capacidade metafísica a quem gosta. Quem crê não haver sentido naquelas coisas se envergonha por não ter conseguido entender e corre o risco de dizer gostar para não ser mal visto.

Além disso, não gosto de poesia prolixa ou pernóstica. Detesto aquelas que tanto se esmeram em palavras pomposas e termos de poesia; que muitas vezes por trás da beleza da forma, pela riqueza vocabular e pela série de inversões, penumbrado em métricas clássicas, esconde que pouco ou nada tem a dizer.

Entenderam? Não posso ser poeta porque poeta para ser poeta tem que gostar de poesia, não? Se não gosta, o que escreve é outra coisa. Escreve de outro modo se necessitar escrever, creio. Talvez eu tenha em algum momento escrito essas tais poesias. Mas, foi por acaso ou por não o saber ou poder impedir. Se o fiz, não gosto.

Por último, e sobretudo, tenho certeza que não gosto de poesia – às vezes detesto! – quando estou em um bar da lapa, na Cinelândia ou caminhando pela Av. 1º de Março e alguém com uma série de papéis recortados, com letra impressa neles, me interrompe e pergunta: “Você gosta de poesia?”

27-11-12

sábado, 24 de novembro de 2012

Um espetáculo salgado para se engolir



A população reunida às dezenas de milhares em organização e luta por uma causa comum, ocupando todas as faixas da rua, tomando as calçadas e se estendendo por quilômetros por não caber em menos espaço. É a consciência política da importância individual compondo um coletivo forte, ciente dos impactos econômicos e sociais que pode causar, onde cada indivíduo se vê como agente da construção da sociedade e, sendo assim, se manifesta para fazê-la tal como concebe melhor. É incrível! São os frutos da democracia impelindo a população à reflexão e à ação, à participação. Em plena segunda-feira, no meio da tarde tantos se ausentarem do trabalho para tentar um futuro melhor!  O aprimoramento do espírito democrático. É lindo!

Essa pode ser a impressão de algum desavisado que venha a assistir pelos telejornais ou quem vier a ler alguma notícia nos grandes veículos sobre o ato chamado de “Veta Dilma”. Pode até ser que este seja o viés a que se queira induzir quem não sabe o que acontece, já que normalmente os protestos são organizados pela população contra o governo, condenando-lhe atitudes ou exigindo-lhe outras. Porém, este tal “Veta Dilma”, sobre a distribuição dos “Royalties do Pré Sal”, foi organizado pelo Governo do Estado, em faixas, cartazes e comerciais na TV com uma propaganda milionária que sei lá quem pagou. O Governador é contra que os royalties – que grande parte dos participantes do protesto e da população em geral, certamente não sabe do que se trata – sejam distribuídos entre todos os Estados brasileiros. Seria Injustiça.

Para garantir a participação, as empresas de transporte – que nos roubam diariamente com tarifas absurdas – liberam as catracas (só no sentido centro e no horário do ato e depois de volta para casa) para garantir que todos possam ir, afinal, os salários que nos pagam para trabalhar nas empresas deles muitas vezes não nos permite arcar com custos extras de passagem, nem para lazer, quanto mais para protestos. Assim não tem desculpa. Todos podem comparecer.

Se fosse à noite, ninguém compareceria, pois já estaríamos cansados das longuíssimas e estafantes jornadas de trabalho. Com isso, voltaríamos todos para casa enfrentando as duas horas de trânsito para, com sorte, ter umas duas horas de descanso antes de dormir de novo para trabalhar no dia seguinte. Por isso, o ato é à tarde.

Mas, trabalhamos e não poderíamos comparecer. É em dia útil (para quem?) e em horário que se está preso ao labor. Todavia, o Governador e o Prefeito querem a qualquer custo mostrar que a população apóia o pleito deles, ainda que não saiba o que são royalties e como isso vai melhorar a vida dela, já que o Estado é um dos mais ricos do país, o país é uma das maiores economias do mundo – a sexta, acima da França, disse orgulhoso o Ministro da Fazenda –, mas a educação é uma das piores do mundo e a desigualdade social uma das maiores.  Governo Estadual e Municipal decretam ponto facultativo. A fim de não ter desculpa de não participar, patrões dispensam os empregados com a justificativa de que o ato vai complicar o trânsito e a volta dos funcionários para casa, mas provavelmente não haveria ato se eles não fossem dispensados. Não seria isso uma espécie do proibido “lock out” já que os empregados são proibidos de trabalhar pelo trancamento dos locais de trabalho em uma reivindicação? Mas, ah, agora sim todos podem comparecer.

Enfim... Serei eu também expulso do meu trabalho e irei para casa pelas ruas em meio às pessoas correndo para seus lares – diga-se de passagem, se enfileirando ante os cobradores do metrô, do trem e do ônibus para pagar suas passagens. Chegarei em casa sem saber o que são royalties, e qual percentual será cobrado pela exploração ou se está compatível com o resto do mundo; sem sequer imaginar onde irá esse dinheiro, quem o paga e com qual ontra-partida; e mesmo sem ter ideia do que é Pré-Sal ou de como se extrai o petróleo, do qual tenho uma noção imprecisa do que é, dessa camada tão profunda que eu não tinha notícia de existir. Assisto perplexo a este evento que, não fosse a luta por uma causa, soaria carnaval, já que tem shows, apresentações de “famosos” e trios elétricos. Quase todos, acredito, sem nem mesmo aquelas consciências as quais citei antes.

Este mesmo evento, usando o nome da Justiça (ela mesma, não o Judiciário), defende a concentração de riqueza na parte do país que mais possui – alimentando as desigualdades regionais que ocasionam em migração de pessoas e capitais dentro do país – a esvaziar umas regiões e inchar outras cidades até a explosão, aumentando o mar de problemas que decorrem dessa concentração, mas a população pouco e o governo quase nada se manifestam para solucionar. Entre os problemas, o transporte – caro, lento, insuficiente e restrito em espaço e horário. E com que qualidade! – que segunda, por deboche ou não, nos ofertarão com alguma gratuidade. Um espetáculo!

24-11-12

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Quanto cabe num dia


Quanto cabe num dia? Acordei me perguntando.  É possível se perguntar isso em termos de ocupação e resumir o que cabe num dia ao que se transcorre no tempo limite de 24h. Mas, tem de caber tanta coisa... O meu atualmente, por exemplo, precisa conter - não necessariamente para ser dia, mas para cumprir o que “preciso” ou me comprometi a precisar – jornada de trabalho, aula da faculdade, revisão de um livro, escrita de outro, leitura de textos acadêmicos, prática de violão, e uma série de outras coisas, incluindo ser, amar, pensar, essas baboseiras, além de dormir, arrumar a casa, comer, tomar banho, etc... Se eu somar as horas, tenho que meu dia precisa de mais de 24h. E nem é dos piores, talvez.

Eu diria, porém que o número de horas importa menos. Há dias maiores e outros menores. O cético cientificista diria que os dias sempre têm 24h. O que me preocupa, no entanto, não é a qualidade dos ponteiros (hoje os relógios em sua maioria nem ponteiros tem mais) em se moverem de acordo com um padrão baseado nos processos de rotação da terra e translação para definir o ano e parametrizar nossas rotinas, encontros e desencontros. 

Para mim há dias que nem existem. E outros que nem deveriam existir. E esses costumam ser longos, às vezes invisíveis e chegam até a ter a propriedade de existirem ao mesmo tempo que outro. Meu parâmetro é a vida. Quanto se vive num dia?

Os dias têm significados. Talvez sejam conceitos. Às vezes conceitos comuns à maior parte do coletivo, como 25 de dezembro como dia de festa. Mas sempre há quem não compartilhe ou outros para quem a mesma festa seja desgosto. Existem as datas comemorativas do calendário oficial que nos submete. No entanto, fora do nosso próprio mundo, dentro do planeta, são tantos calendários... E dentro do mesmo calendário, cada dia tem tantas que poucos as comemoram. Nesses casos, comemora-se de acordo com a identidade que se ocupe, ou seja, o médico comemora o dia do médico, a criança o das crianças, a mãe o das mães, o advogado o de sua profissão, o servidor público também o seu. Todavia médico, advogado e servidor público são pessoas além de suas profissões, apesar de ser comum responder com a profissão à pergunta: “Você é o que?” como se apenas pudéssemos ser algo dentro de uma lógica laboral-profissional. Ou apenas pudéssemos Ser por meio de uma profissão.

O significado de cada dia, porém, é um para cada pessoa. O dia em que conheceu quem ama, o dia em que nasceu, o aniversário de alguém... Esses dias podem assumir conotações diferentes a partir do aspecto pelo qual se os olha. O dia em que se conheceu alguém que se ama é um dia feliz, até o momento em que o relacionamento termina e ainda se sofre pelo fim. Mas o problema é quando um dia passa a ter mais dias. O que fazer quando um dia ocupa-se de tanto? Quando um dia contém, por exemplo, a alegria do aniversário de casamento, a saudade de ser o nascimento do filho que partiu, e a tristeza da morte do irmão? Ou se em meio à comemoração do reencontro com a avó, se é despejado? Nem sempre é possível repartir e organizar o horário em que as coisas têm direito de se manifestar? Os dias marcam e se somam... Ah, esses dias intrusos que se misturam, se encurtam e se prolongam, desaparecem e ressurgem quando há anos já haviam faltado. Quanto cabe num dia?

domingo, 4 de novembro de 2012

Cucaracha: Última semana

Escrever sobre uma peça de teatro é a primeira vez que faço. Acho difícil. Meu costume é de escrever no impulso, na emoção, quando a vontade explode em mim, e não pensada e arquitetadamente. Nunca assistimos a uma peça de teatro em casa, como um filme. Depois do espetáculo normalmente seguem-se umas cervejas, conversas, etc. Quando se vê, arrefeceu o pensamento sobre a apresentação, misturando-se com tantos outros e se fazendo imperceptível e irreconhecível lá dentro. Para permanecer por mais tempo com a própria identidade em meio ao mar de pensamentos, há que deixar marcas. E enquanto penso e transcervo essa introdução, ressoa dentro de mim uma parte da trilha sonora de Cucaracha.
Sexta-feira, fui ao CCBB. Nesse centro cultural costumam ocorrer excelentes apresentações a preços acessíveis a todos. O edifício em si, localizado na 1º de Março, próximo à Igreja da Candelária, Centro Cultural dos Correios, Casa França-Brasil, etc. é um prazer de se visitar. Comprei a entrada para a peça que Vinícuis Arneiro dirige, com texto de Jô Bilac e interpretado pelas atrizes Carolina Pismel (Mirrage) e Júlia Marini (Vilma).
Cucaracha esconde-se na relação entre uma enfermeira, Mirrage, e uma paciente há anos em coma, internada no hospital sem que ninguém a visite, Vilma. No decorrer da apresentação as duas desenvolvem um convívio de íntimo afeto e tornam-se confidentes e conselheiras. Digo “esconde-se” pois esse desenho é apenas o lugar onde ocorre um intenso debate sobre a vida e a existência em uma fluência incrível, transitando suavemente entre momentos de comedia e outros de profunda reflexão. Essa alternância alivia a tensão e o peso dos momentos em que a crueza da existência e sua finitude, bem como a frivolidade do cotidiano são expostas. Jô Bilac escreve sobre o isolamento do outro, a indiferença pela vida deste e a carência de afetos da sociedade atual em sua estrutura. Por meio da relação entre enfermeira e paciente, permite-nos ver que a vida muitas vezes carece de emoções e se estabelece em uma monotonia – covarde, talvez – sem gritos, sem lágrimas, sem extravaso de si. A direção de Vinícius de Arneiro explora as nuances do texto e conduz a plateia a rir de si mesma sem perceber. Descontrai-se nos diálogos que tratam da pequenez e puerilidade da existência humana, – e mesmo terrena – da provável falta de significado. Um trabalho de grande conteúdo, não um mero entretenimento.
A apresentação permeia um grande número de aspectos, possibilitando analisá-la sob diversas perspectivas. O dramaturgo constrói o texto em cima de um mosaico de questões como sobre viver-se a vida ou ela nos viver, a liberdade ou ausência dela, as expectativas e as frustrações, o abandono e o esquecimento, a escassez de afetos e o não se permitir dexar que aflorem e segui-los, a apiedação e sua construção interior. Por isso, pelo cenário simples e funcional, pela trilha sonora que ambienta e envolve com bela adequação ao momento, pela atuação das atrizes Carolina Pismel e Júlia Marini, sem a qual a peça não se faria, por isso ainda vejo o rosto das duas sob a luz amarela e ouço a repetição daquela melodia que, juntos hipnotizam a plateia do teatro lotado.
Cucaracha consegue fugir do destino comum de ser teatro para quem faz, estuda, pensa teatro e o tem como meio de vida e atinge o público em geral. A companhia Teatro Independente soube aproveitar as características próprias dessa arte. Quem tem dificuldade em ver o teatro como algo à parte e o crê um mero primitivo e ultrapassado modo de cinema conseguirá ver que são artes semelhantes, porém distintas e ambas ricas. Estão ali, próximos e enleiam. Não sei explicar como o fazem, mas fazem.
Dois momento apenas eu não achei necessários ou interessantes, mas nem vou comentá-los por serem pequenos ante o espetáculo e parecerem ter agradado o apetite dos demais.
Infelizmente assisti já no final da temporada. A peça estará em cartaz até o dia 11 de novembro, próximo final de semana, com apresentações sexta, sábado e domingo, às 19h30 no CCBB-RJ. Para garantir o ingresso é bom chegar com antecedênciam, pois a sala estava lotada.
A entrada? O preço de sempre do Centro Cultural: R$ 6,00 a inteira. Não tem porque não assistir.
Ah, Você talvez se pergunte o que Cucaracha tem a ver com a história. Quase no final você descobre, por isso não contei.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dia Nacional do Livro

Nesta semana foi comemorado o Dia Nacional do Livro. No dia 29 de outubro de 1810 herdando o acervo que compunha a Real Biblioteca Portuguesa, fundava-se a Biblioteca Nacional, que a princípio chamava-se Real Biblioteca, depois Biblioteca Imperial e Pública da Corte e só em 1876, Biblioteca Nacional. Por isso, 29 de outubro é o Dia Nacional do Livro, aniversário da Biblioteca Nacional, que hoje conta com um acervo de logo, logo dez milhões de títulos, e, depois de passar pela Rua do Carmo e Rua do Passeio, 60, onde hoje é a Escola de Música da UFRJ, desde 29 de outubro de 1910 fica logo ali na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores, ao lado do Museu de Belas Artes e do Centro Cultural da Justiça Federal, também na diagonal do pomposo Theatro Municipal, na desalojadora Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco. Permaneceu no Rio de Janeiro, apesar de terem tentado transferi-la para aquele edifício feio e sem graça, ao lado do esquisito disco voador do Museu Nacional no Eixo Monumental da hostil e “pouco convencional” Brasília.
Aos trancos e barrancos a Biblioteca resitste com suas inadequadas saunas para livros, infiltrações, quedas de rebocos, infestações de insetos e abandonos, como denunciaram este ano seus servidores em uma série de protestos, incluindo aquele interessante, em meio à greve dos servidores públicos federais que envolveu mais de trinta categorias. Neste protesto os servidores usaram capacetes de obra e panfletaram em frente ao majestoso prédio da Biblioteca, esclarecendo à população o descaso com que é tratado o tesouro que foi motivo de orgulho a ponto de relacioná-la no Brasil com o livro em si.
O Governo pouco se importou com as greves ou protestos e sob o argumento da democracia, manteve a sua postura irredutível e inegociável. Deixou os servidores no desamparo em reajuste “arrochista” por abaixo da inflação, e os da Biblioteca usando os capacetes durante o trabalho. Uma medida de segurança que deveria ser adotada! Mas, não. Não o fizeram, os servidores. Em outros tempos talvez houvesse fogo e rebuliços, mas hoje vivemos numa democracia. Nesse mesmo desamparo e angústia encontra-se o livro, coitado.
Não apenas o livro no Brasil é imensamente abandonado, como podemos ver pela média nacional de leitura de dois livros por pessoa por ano. Como quem lê costuma ler alguns livros por ano e um bocado lê às dezenas, realmente o livro está completamente esquecido, relegado à margem da maioria da sociedade. Não bastasse isso, há ainda o caráter duvidoso de muito do que é produzido. Não estou nem pensando na qualidade, mas no caráter mesmo. Enfim, há gosto para tudo.
Pior, esses são os lidos até o fim. Outros dois são abandonados pela metade. Por que os livros são tão chatos para serem abandonados sem terminar? E nem tudo que é lido é literário! Muitos dos livros são acadêmicos, científicos, consumidos no geral por pesquisadores ou estudantes e lidos, às vezes, apenas por obrigação. O que aconteceu com o prazer da leitura? O que buscam aqueles que buscam um livro? O tipo de leitura e não leitura refletem o tipo de sociedade em que vivemos e o tipo de indivíduo que nos fazemos. Mas, apesar de ter minhas opiniões a respeito, não pretendo responder nenhuma dessas questões.
Imprimir um livro hoje é até simples. Eu mesmo já vou para o quarto e tenho nem trinta anos. Fazê-los chegar às livrarias é mais difícil e ao leitor fora do círculo próximo do autor, quase impossível! Como não há uma cultura do livro, não o discutimos, não o idealizamos, não o compartilhamos e, até em razão do modelo de sociedade, não nos engajamos em movimentos com esse objetivo. Não dispomos de grandes jornais ou revistas literárias, apesar dos não sei quantos saraus. Por quê?
O livro não faz mais parte da nossa vida, da população em geral. O autor, talvez não busque literatura, mas sucesso individual. Outros países possuem trabalhos interessantes como a que gosto muito de ler e acredito na qualidade e potencial dela, Revista Literatas, de Moçambique. E nós, o que fazemos da literatura brasileira? Se mal lemos Drummond e se nossa experiência de leitura é a obrigação para passar de ano no colégio com o enfadonho e rebuscado O Guarani, de José de Alencar, aos 10 anos ou Espumas Flutuantes, de Castro Alves, aos 12 e desconhecemos qualquer outro tipo de literatura, o que se podia esperar? E a literatura contemporânea? Essa então…
Cada um que leu até aqui tem suas respostas, outras perguntas e talvez até discorde do abandono que digo sofrer o livro. Tanto faz. Inegavelmente os livros surgem de ideias e da organização de ideias, não importa de que ordem sejam os livros ou as ideias. As perguntas e respostas são informações, reflexão, pensamento e crítica. Estes são talvez a fonte da ânsia por conhecer, pela leitura. Fico, assim, satisfeito de ter ajudado um pouco o livro que em homenagem do dia nesta segunda-feira, ninguém comemorou. Ninguém fez festa.
Lembrei-me, como sempre, de Fernando Pessoa.

Na vesperá de nada,
Ninguém me visitou.
Olhei atento a estrada
Durante todo o dia
Mas ninguém vinha ou via,
Ninguém aqui chegou.

Mas talvez não chegar
Queira dizer que há
Outra estrada que achar,
Certa estrada que está,
Como quando da festa
Se esquece quem lá está.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Notícias do Livro de Um Desconhecido, concurso literário, Portugal e Mauá


Como nem tudo são flores, tenho de lhes dar uma má notícia. Estive incomunicável na semana passada - sequer dispunha de telefone, quanto mais internet - a desfrutar a Natureza. Sexta-feira, ao retornar, ainda no ônibus conferia meus e-mails e descobri que para o Livro de Um Desconhecido sair antes do Natal deste ano, eu precisaria enviar o trabalho final até o dia 25 de outubro. Era já 26.

No entanto, apesar de não poder aproveitar o espírito do consumo que caracteriza a grande data do cristianismo, terei mais tempo para os pequenos e quase intermináveis ajustes finais. Se não fosse pela falta de paciência, não fosse pelo desarrazoado e autoritário “Basta!”, creio que seria impossível terminar qualquer trabalho.

A tentar me convencer sobre os pontos positivos do atraso, cheguei em casa e vi um grande envolope passado por debaixo da porta. Notei que aqueles números do envelope eram estranhos: um CEP de sete dígitos e um número de telefone que começava com “256”…

Havia sido enviado pela Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, de Oliveira de Azeméis, em Portugal. Tratava-se de um convite para a Cerimônia de Entrega de Prêmios do XIII Concurso de Poesia Agostinho Gomes, lá em terras lusitantas. Não que eu houvesse ganhado algo, mas era convidado a estar presente.

Mas, nesse Yin-Yang, o evento ocorrera no dia 26 de outubro mesmo, às 21h do horário local. Olhei o relógio: 18h11. Onze minutos de atraso. Infelizmente eu não poderia cruzar o oceano em tempo hábil. Em pensar que meus planos eram de passar as férias lá, mas o custo do euro me fez deleitar com o destino que nos é próximo em Visconde de Mauá. Tudo bem. No próximo, esforçarei-me em comparecer. Poderiam ter postado um pouco antes dos 9 de outubro em que fizeram, mas…


Minha memória revolveu-se magicamente e me trouxe à lembrança um evento no qual eu, quando criança, ganhei num sorteio. O único que ganhei na minha vida. Seis meses de curso de espanhol grátis! Contou-me o amigo André no dia seguinte. Como ele era um brincalhão, perguntei ao Rafael, que me confirmou. Eu não compareci. Sortearam de novo.

Será que encontro na internet o resultado do concurso? E não estando meu nome no resultado, haverá uma Ata ou Memória de Reunião para que eu possa saber o que aconteceu? Terá sido o mesmo? Eduardo Martins, ó, Dudu, se tiveres algo a me contar do velho continente ou souberes d’algum meio de obter tais documentos, escreva-me!

OBS: Depois de escrever essa postagem, verifiquei na internet e - obviamente - não fui eu o premiado. Quero muito comentar sobre concursos e premiações, mas deixarei para alguma crônica mais adiante.


Os premiados foram, nesta ordem: Paulo Carreira, Lurdes Breda e António Accioly.

Caso tenham curiosidade, eu havia inscrito os poemas:

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