domingo, 25 de setembro de 2011

Caminhada

Em direção à cidade natal
Órfão
Chovia... chove
Mas não há guarda-chuva
Nem braço a segurá-lo

Depois de mais de um ano
Regresso
Até onde não se reconhece mais
Um ao outro
Nascituro ultrapassado
E nascedouro displicente

São na verdade quase três anos
Desde que o reflexo se deu conta
De haver corpo do outro lado
E terá ele notado
Que a superfície – e também o fundo -
Obrigatoriamente o reluz?

Serão cinco anos
Escravizado pela vida
Obrigado a tê-la?
A ser tido!

Não. O corpo não tem vida.
A vida o tem
Mas, às vezes, esquece.

Sou

Sou tudo o mesmo dos que estão,
Estiveram e estarão à minha volta.
Sou pedaço de todos eles
Mesmo sendo completamente distinto.
Sou o que fui e sonho ser.
Sou só sonho, mas sou real.
Sou tudo sem ser nada.
Sou todo em minha parte.
Embora pequena.

Acha mesmo?*

Como você pode negar o que eu sinto?
Eu não sou nada do que pensam sobre mim!
Mas, porque tenho eu de dar satisfação?
Não! Não sou assim!
E também não lhe interessa o que há em meu coração.

O mundo não me permite mostrá-lo.
Rejeito a lembrança da decepção.
E, por isso, sobre o que sinto, não falo.
O que sinto já até de mim escondo.
Quando procuro, não entendo o porquê
Da água no espelho de minha alma.
Pensa que pode me explicar? Justo você?
Já sei qual é o meu destino. Tenha calma!
Virá, porém, mais breve do que a noite segue o dia.

Ouça! O que diz aquela canção?
O que se disfarça por trás deste perfume?
Não pode ouvir? Não pode sentir?

Um dia estranho

Por favor, alguém... Me ajude!
Freqüentes são as lágrimas que correm
Dos meus tristes e vazios olhos,
Lágrimas que crescem e não morrem
Por favor, alguém ... me ajude!

Tenho medo da crescente loucura
De ser ou ter me tornado maníaco depressivo. (espero que não)
A existência é extremamente longa
E já cedo me tornei covarde e vazio.
Por favor, alguém!... Mostra-me ternura...

Sorriso cada vez torna-se mais raro
E menos abrem minha face.
A escuridão talvez tornara claro
Que eu estou sozinho e preso
E sempre abaixo de todos vocês.

Desespero nublou e tomou minha alma.
Por favor, alguém... me ajude!
A mosca pousa em minha fria mão,
Porém não mais perco a calma
E ponho-a para voar não...

O coração está excessivamente pesado.
O pescoço meu não tem mais força de erguer
Essa cabeça de triste fisionomia, e fazer
Com que eu esqueça o péssimo passado
Que me joga ao chão combalido e deitado.

Juízo

A guerra está passando,
Gente morrendo,
Tudo se perdendo,
...Talvez o mundo acabando...

Você com seu medo
Pede ao seu deus por sossego,
Mas nada consegue.

As mães se desesperam
Pois seus filhos e maridos foram à guerra.
Eu apenas durmo
E a noite nos espera.

Eu não ligo para o fim.
Você reza perdido
Querendo encontrar o caminho
E ficar junto de seu deus.

Não acredito mais.
Não haverá solução.
Haverá cada vez mais uma morte.
A humanidade é imunda,
Não importa quantas chances tiver.
Estamos num poço de ignorância...
Haverá alguma saída? Uma esperança?

Conflitos*

As pedras em chamas que caem do céu,
E perturbam meu lago lívido e sereno
Nas entranhas do recinto escuro e vazio
Onde o silêncio da solidão não é o veneno.

Gotas de chuva caem com lembranças
Do passado e fazem meu corpo desfalecer
Com angústias e tristezas do anoitecer.
Das desonras do mundo não se cansas?

Suave o gotejar da chuva de hoje
Não esconde o avassalador mundo de ontem,
Pois ainda esperam que elas, os corpos, contem.
Eu somente espero o deserto árido resultante.

As alegrias pelas tristezas brotam neste instante.
Nota-se, então, que não há monstros errantes,
Todos têm seus amigos na casa dos milhares.
Não os condeno... Espero a cabeceira de mármore.

Manhãs brilhantes não existem mais.
Saudoso sou da infância de alegria e paz,
Que hoje não mais parece ter sentido;
E eu com minha melancolia, apenas durmo.

E eu sonho com um outro mundo,
Com a lenda do vagante moribundo,
Maldições causadoras do temor ao homem,
Apenas por magia tais coisas somem.

Unicamente os sonhos amenizam o viver
A esperança que há é a de bem cedo jazer,
Desfrutar do álcool e dos prazeres carnais.
... Macambúzios, atolamos nestes imundos lamaçais.

Quando tudo passa espera o melhor.
Não tento enganar-me com lembranças falsas,
Tudo sempre tende a tornar-se pior.
Não há salvação, morrer parece a solução!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Farto

64

Sessenta e quatro é o número de corpos deitados invisíveis no chão da rua que contei hoje da janela do ônibus no trajeto de casa para o trabalho. Mas, de que importa? Afinal, o Rio vai sediar as Olimpíadas, o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol Sessenta e quatro moradores de rua porque fui ‘bonzinho’ com o Governo e contabilizei somente as pessoas que estavam deitadas no chão, sobre papelão, sob cobertores... Sessenta e quatro também porque eu vim do lado direito do ônibus. Sabe-se lá quantas não deixei de ver do lado esquerdo.

Resolvi fazer essa contagem depois de reparar um aumento na quantidade de pessoas dormindo na rua, gente sem esperança, sem futuro, sem presente e sem passado. Sessenta e quatro porque não passei pelo Largo de São Francisco, onde eu poderia contar mais umas quinze ou vinte, local onde mesmo a igreja pôs grades em frente à escadaria para impedir que os pobres, miseráveis necessitados chegassem perto do edifício da instituição sujando-o. Cidade maravilhosa...

Cidade sede de eventos internacionais que se crê alguma coisa, que almeja ser uma grande cidade, só tem chances de ser uma cidade grande, maior ainda, cada vez mais inchada. Péssima infraestrutura, ônibus, trens e metrô lotados e caros nas vias congestionadas. Brasil, o país do futuro... de novo! Hospitais e escolas precárias. Se você quer direito à vida, tem que pagar por isso. E caro! Altíssimos preços de venda e locação de imóveis, pura especulação imobiliária. Preço dos mais caros do mundo para viver numa cidade onde até talvez La Paz tenha uma estrutura mais adequada. Porém, para as Olimpíadas estamos preparados! Claro, corrida com obstáculos é o que mais se pratica no dia a dia de tentativa de sobrevivência na cidade. É como se com isso nos dissessem: Brasileiro, seu povo pobre, aqui não é pra você. Carioca, não compre, não alugue. Favelize, ocupe!

O que se precisa é somente UPP para conter a violência... não a policial, não a contra a mulher, não nenhuma das violências discriminatórias, não a violência do trânsito, do desrespeito, não a violência da exploração do trabalho, dos juros dos empréstimos dos bancos, das manutenções de conta a custos exorbitantes, não a violência de não se poder ter esperança ou de a esperança ser um sonho longínquo, uma quimera, que não se concretizará. Não só as obras para os grandes eventos internacionais, também os preços são para inglês ver (e comprar, porque para brasileiro não é possível).

E que problema tem isso? Nada é tão ruim que não possa piorar! E vai. Com o custo de moradia, com os despejos das casas próprias pelas obras da Copa, cada vez aumentará o número de pessoas a viver nas ruas. Parece que se decidiu combater a obesidade com a carestia dos alimentos, de todos os produtos básicos nas prateleiras dos supermercados, ou decidiu-se combater a pobreza matando-a de fome, condenando-a á morte por impossibilidade de acesso aos meios básicos de subsistência. Talvez a tentativa seja expulsá-la para o mais longe possível com os preços inacessíveis de moradia. De preferência para fora da cidade... Ê malandragem carioca, jeitinho brasileiro...

Já passou da hora de fazer uma marcha pelo direito à vida. Vamos fazer uma? Que não é uma daquelas caminhadas pela paz, mas um protesto contra a especulação imobiliária; contra a carestia dos alimentos e demais produtos de necessidade básica; contra a violência policial; contra a discriminação de raça, de classe, de sexo, de gênero, de nacionalidade, de origem, etc.; contra as intromissões na vida particular quando aquilo não causa prejuízo a ninguém; protesto contra o preço das passagens dos superlotados e, não raro, demorados ônibus, trem, metrô, barca; contra a exploração do trabalho, contra a desigualdade social, contra a corrupção também; contra a escravidão e péssimas condições de trabalho; contra a intocabilidade das empresas que nos roubam cotidianamente com péssima prestação de serviço – quando prestam de fato – com sonegação de impostos que poderiam ser investidos em educação e saúde pública, entre outros; contra o abaixar de calças do (des)governo antes interesses alheios ao da população; protesto contra os baixos salários que não dão conta de manter vivo meia pessoa; contra o salário mínimo que vale, quando muito, um aluguel em casa distante; contra o país do futuro, pelo direito ao presente. Por uma democracia real já (como o lema adotado pelos espanhóis), para avisar aos governantes que eles não nos representam.

Preço de Europa para qualidade de vida... Que qualidade de vida?

Como escrito naquela pichação que recém comentei ter lido na Leopoldina – que disseram ser de uma música do Legião Urbana – antes eu sonhava, hoje já nem durmo.

FARTO!

"É preciso que compreenda que não existe liberdade sem igualdade e que a realização da maior liberdade na mais perfeita igualdade de direito e de fato, política, econômica e social ao mesmo tempo, é a justiça." – Mikhail Bakunin

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Minha Poesia


Às vezes releio meus poemas
E não encontro um que preste.
Fico em dúvida se nestes momentos
Eu estou com algum surto pessimista
Ou lapso de consciência.

Leio-os outra vez,
Mas há algo (que não há) que lhos falta.
Parecem carecer de alvorada ou crepúsculo,
De algo para dar vida às letras.

Não consigo transpor o que
Cresce em meu peito e obstrui
Toda e qualquer ação ou inação,
Pensamento ou emoção que eu deveria ter.

Compreendo que há algo
Que deveria sair poesia se escrito,
Mas é longo o transcurso
E a vida se perde com o tempo.
Quando levanto-me da cama
Para procurar um papel e caneta,
Cronus já esta a deteriorar
Aquilo que antes era ardor.
A chama enfraquece pela falta
De oxigênio ou combustível outro.
E quando me ponho finalmente a escrever,
É somente isso que sai.

Essas frases que eu mesmo critico.
Por mais que tenham ideias e,
Pelo menos para mim, representem algo
Ao recordar do momento em que as criara,
Não estou certo se são poesia.

Releio-os e penso:
É esse O Eu Mais Íntimo
Que se tem para mostrar?
É só isso todo o ser mais profundo?

Talvez com o passar do tempo
Também as letras tenham envelhecido...
E com elas os poemas que escrevi;
E o sentimento que outrora depositei nelas
Agora já se foram sem se despedir.
A poesia se foi e
Restaram palavras vazias.
Jazem apenas letras mortas sobre o papel.


Sobre a questão levantada no bar*


Por que vivo? Não sei!
Mesmo caso não haja motivo,
Querendo ou não eu vivo
Já que assim sempre foi
E acostumei-me com assim ser.

Amaria simplesmente viver!
Ver a vida como Alberto Caieiro.
Não importar-me com se, 
Quando, onde ou porque
Termina a estafante romaria.
Ah! Deitar-me agora eu adoraria...

Não posso cantar suas canções
Pois inexistem em meu coração
As palavras de ordem da multidão;
Não tenho suas queridas razões
Para prosseguir não sei para onde.
Vou voltar! Não sei o que lá se esconde.

Quando decidi então retornar
Notei que era impossível
E a multidão não pára de me arrastar
Ao longínquo lugar inexistente, 
Ao buraco não sabido (não?) e invisível.
Mas... Já está sob meus pés. 
O buraco impertinente.

Retrato da sociedade


Eu queria... Mudei de idéia
Eu sou um... Pensando bem, não sou mais.
Eu era um...
Na vida eu me inscrevi, mas nunca fui.
Neste curso já estou reprovado...
Reprovado por falta.



Requiem


Tantas paixões por tantas coisas
Tantas pessoas tantas vezes tiveram.
Pessoas que morreram com um significado.
E eu? Eu jogado sentado...

Porém eu morro por isso,
E não faço nada por mim...
Por quê? Por que sou assim?
Sujeitinho sem compromisso.

Não tenho vontade! Não tenho força!
Não tenho alguém para amar.
Não tenho nada a adorar.
Não! Não tenho...

O que eu posso fazer pelo mundo
Se sou um indivíduo moribundo
Que nada faço nem por mim mesmo?
Por quê? Por que eu sou assim?

Você roubou meus dias felizes!
Você roubou meu filho
Que tanto sonhei ter!
Você... Destruiu minha vida!!!

Vou-me para ser,
Sob sete palmos de terra.
Ver a eterna noite 
Que de mim se apodera.

Vazio noturno


Tantas foram as lágrimas que chorei,
Tantas foram as vezes que suspirei...
Porém, nada por ninguém fora visto ou ouvido,
Pois nenhum vocábulo, por mim, fora escrito.

Por ciclos inteiros de lua eu nada pensei.
Tudo que passava em minha mente era angústia,
Lembrança de acontecimentos nostálgicos, agora.
A doce virgem sempre vem, mas não tem hora.

Espero ansioso a tua chegada e a minha partida.
Não almejo salvação nem acredito nela.
Macambúzio, espero a virgem com sua saída...
Não vejo homens livres ou notas de alegria.

Em minha última visão de um inseto ele tivera
O que eu sempre quis e busquei
Nas noites silenciosas de frio e estrelas distantes.
Ah... o sol nunca mais mostrar-se-á excitante.

A chuva cai sobe minha face,
As folhas balançam ao vento...
Meu corpo e a vida sem nenhum enlace.
Adiante, encontram-se meus tristes momentos.

Posso em vida ouvir o réquiem de meu pensamento
Somente dentro de minha mente vive a tristeza...
Todo este abandono traz-me a certeza,
Que em minha última lástima o frio aconchega-me.

Várias taças de vinho já se passaram.
Não sei se tenho forças para chegar em meu lar
Sem nenhuma estrela ou a lua para me guiar.
Com a bebedeira, alma e mente se calaram...

Talvez meu último lamento tenha passado,
Ou talvez, pela manhã eu permaneça embriagado.
No aconchego do vazio caminho cambaleante...
A senhora no fim da rua... Parece que neste instante...


Realeza


Há quanto tempo não via
Paisagem tão bonita.
Através de uma janela partida
Notei que a Terra não está vazia.

Encheu toda a minha alma,
Abriram-me mais os olhos,
Senti forte meu coração.
Admirei com profunda calma.

Que fantástico sonho!
Observar para sempre...