quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Literatura Sem Fins Lucrativos

Nobres colegas,

Comunico-lhes que já estão em minhas mãos os exemplares do meu primeiro livro publicado. Livro do gênero de poesias. Adotarei o sistema de “Literatura Sem Fins Lucrativos”. Cada interessado paga pelo exemplar quanto achar que deve e se achar que deve, sendo o mais importante o acesso ao conteúdo e a leitura. A título informativo, como questionaram-me os que já adquiriram os exemplares que chegaram ontem, cada um teve o custo de 13 reais. Os valores pagos serão utilizados exclusivamente na publicação dos demais livros e eventuais reimpressões.

Adianto que estes, valendo-me de eufemismo, não são os melhores textos, porém publico-os para que se faça uma cronologia do desenvolvimento literário, em que este e o próximo livro, que aguarda somente condições financeiras para a publicação, representam uma primeira fase da literatura pessoal. O segundo, que se chamará “Pretérito Mais Que Presente” é uma espécie de transição para o terceiro, o “Vida e Poesia”. Bom, deixo cada livro, os três de poesia, para o momento em que for publicado e atenho-me a este.

“Em O EU Mais Íntimo, livro inicial da obra de Diego R. Mileli, o autor ensaia os primeiros poemas, os quais a maioria foram escritos na adolescência, período de natural inquietação em que se impõem reflexões e se inicia o desenvolvimento maior da crítica buscando descobrir o mundo e, principalmente, a si mesmo. Tal inquietação gera encanto e desencanto constantes, carregando a obra de profundos pessimismo e tristeza, onde se prefere “... a incerteza da noite certa” à “...certeza do dia incerto”, os quais se contrapõem a alguns florescimentos de paixões e enlevo com a vida, chegando ao ponto de afirmar: “amo o amor acima e tudo”. Melancolia e solidão, por vezes apáticas, transbordam na obra em passagens como “Feliz é quem não pensa na vida.” ou “Não estou triste por estar só, estou só por estar triste.”, bem como a invisibilidade e o anonimato das pessoas no mundo moderno. Os poemas flertam com a morte e mergulham para dentro de si mesmo, um 'si' que é o EU de toda angústia, e navegam nos sonhos. São poemas que tratam diretamente dos sentimentos e das sensações que provocam. Sobre o autor, ele mesmo fala abertamente sobre si na época da escrita dos textos no poema “Quem sou?”. Naquele momento, descreveu-se: “Sou a amarga lágrima última que verte dos olhos da esperança... Eu sou da alegria o derradeiro suspiro... Sou o aceno de partida... Sou a existência absurda.””

Os interessados deverão entrar em contato para acertar formas de envio para os que não residem em Porto Alegre.

Abraço,
Diego R. Mileli

sábado, 18 de setembro de 2010

Um breve protesto à Academia

Seria preciso muito mais tempo e espaço para discutir essa questão, porém, como, pelo menos por enquanto, não pretendo fazê-la e como não sei se um dia pretenderei e me debruçarei sobre isso, pretendo aqui somente levantar a discussão para os que quiserem pensar a respeito da academia como embrutecimento e exclusão, como obrigatoriedade para se ter direito a uma condição de menos subsistência e um pouco de vida. É preciso se livrar da academia e sua fragmentação, seus limites disciplinares e suas adesões a correntes interpretativas para o pensamento voltar a fluir, pois o mundo não se adequa às classificações humanas. É um todo que não pode ser devidamente compreendido se não for visto dessa forma. A separação entre as ciências é a separação dos fenômenos simultâneos e das perspectivas de análise do inter-objeto, ou seja, do fenômeno.

Vivemos um grande excesso de fragmentação do estudo “científico”em centenas de disciplinas que sequer conseguem existir por si mesmas e não há trabalho de análise de qualquer objeto de várias disciplinas onde não se possa encontrar interdisciplinaridade, deixando flagrante a ineficácia dela por si e funcionando como instrumento, consciente ou não, do retorno a parâmetros mais amplos de compreensão da natureza, do mundo e da vida. Mesmo os acadêmicos individualmente refletem tal fenômeno em suas formações em diversas micro-áreas em graduações, mestrados, doutorados múltiplos. A academia tentou sugar todo o conhecimento para dentro dela e se cristalizou de tal forma que hoje só se acredita que alguém sabe de algo se tiver passado por ela, se for “bacharel. Inclusive extende seus tentáculos aos concursos públicos, excluindo os que não possuem formação atestada por ela do acesso a cargos públicos. Pululam as universidades de baixa/baixíssima qualidade, só para satisfazer à necessidade de diploma, necessidade essa criada simplesmente para garantir vagas de uns e outros e diminuir a concorrência com a população em geral na busca de um salário decente, difícil de encontrar aos que não encontram na universidade algo que lhe chame a atenção ou que não teve possibilidades de acesso e conclusão de uma graduação.

Como resultado disso, o que se vê é muita opinião sobre pouca coisa e o sufocamento das idéias pela simples repetição, pela ditadura do método acadêmico e da bibliografia; uma sociedade mimética. E o sentimento intrínseco latente dos “acadêmicos” se achando senhores seres superiores, esclarecidos que devem orientar o mundo para sua salvação, não por caridade, mas por arrebanhar parecer demonstrar verdadeira a “superioridade”, ainda que se esteja completamente distante da sociedade e de seu desenvolvimento dinâmico e sem classificações e disciplina. A academia bitolou o pensamento, de forma que este não consegue mais correr para além de um campo específico, fragmento do conhecimento e que se crê inteiro... Tendo percebido sua falência, consciente ou inconscientemente, a academia tenta se resgatar, se ressuscitar com as inter- e multi disciplinaridades, num esforço provavelmente vão, pois, como uma casa velha que persistiu sem reformas estruturais em seus alicerces, deve ser demolida ainda que seja para se construir outra casa no lugar, que, por mais que seja igual, será outra.

Tormenta marítima

Não me importo se não aceitas
As minhas sinceras desculpas.
Reconhecer as faltas feitas
É a maior virtude humana nessa era!

Minha alma é a maior das tormentas,
E um maremoto a mais
Criando a onda que na praia rebenta,
Diferença nenhuma agora faz.

Todos os aventureiros navios
Naufragaram sempre nesse mar.
Meus nobres anseios vazios,
Não se está apto a resgatar.

As velas em trapos voaram
A âncora, esqueceu-se no porto.
Os meus restos não encontraram...
Pairo sozinho neste mar morto.

Morto em nome dos aventureiros
Que se afogaram em suas ondas,
Tendo perdido seus veleiros
E para achá-los, perderam-se as rondas.

Somam-se lágrimas e mais lágrimas
A este infindável mar vazio.
Dos anjos as maiores lástimas
Não fizeram parar este frio.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Carta a um amigo

Para que lançar ao lago
A pedra nas águas plácidas
Em vez de então apreciá-lo
Ao sol ameno do outono?

Admira as folhas que caem
As que persistem no galhos,
Verdes ou amarelas,
Pois hão de ser sempre folhas.

Lava-te o lasso rosto
No frescor das águas calmas.
Sobre a relva, senta-te
À sombra da grande árvore.

Saiba que a vida é tua
E tu o único dono.
Segue pelo caminho
Que na hora desejar.

Se quando o for seguir
Não encontrar o teu rumo,
Dá, pois, azo ao teu prumo.
Aproveita o tempo e descansa.

Observa atento os tropeços
Dos que passam apressados,
Perdem-se pelos caminhos
Que nunca hão encontrado.

Já se dormir ao relento,
Usa-te do firmamento
Para cobrir-te a alma,
Aquecer o coração.

Na manhã, quando acordares,
O instinto te dirá
O que tu deves fazer
Logo que te levantares.

Não te importe com nada
Que à alma bem não faça
Maior que o mal causado
Por tuas preocupações.

Deixa a morte para a morte
E tua vida ter vida.
Não vá te despedir cedo
Dum grande futuro ledo.

Busca ter a vida plena,
Sem carências ou excessos.
Em suma minha caneta
Quer somente dizer-te:

Integra à Natureza
Que sem rancor ou tristeza
Vive sem querer mais que a vida
Vive sem querer nada.

domingo, 12 de setembro de 2010

O mundo lá fora de nós
Nos ignora e segue seu curso.
O que existe em nós,
Nós o ignoramos.
Não há nome para o que eu sentia
Nem tristeza, nem mesmo alegria.
Era algo que roubava
O tempo que eu não perdia.

sábado, 11 de setembro de 2010

Uma tentativa

Em 14 de fevereiro de 2007 eu tentei escrever um poema em alemão... Mas deve estar gramaticalmente errado, além da pobreza vocabular

Meine trauere Geschichte
Ist im einem Gedicht
Dass niemandem lesen kann.
Es schreibtet kein Mann.

Kann man doch nicht gesehen
Dass mein Lebensfeuer hier stehen.
Das Herz verbrannt...
Die Seele verkrampft...

Die Flüsse lauft nicht mehr...
Ein Windstoss kommt immer her
Um mich langsam verderben zu werden

Der Sturm wascht nicht dem Geist...
Noch Tränen in meinem Fleisch
Weil die Erinnerungen nie sterben.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Lotérica Esperança

- Opa, tudo bom? Quanto tempo?! Ainda mora na Glória?

- E aí, quanto tempo mesmo! Mudei da Glória faz quase dois anos. Agora estou na Tristeza. É mais afastado, fico mais longe do trabalho, mas lá a vida é mais tranquila, mais calma, pelo menos na casa pra onde fui. Não gosto de apartamento. Preciso ter um quintal arborizado e poder ver o céu, ouvir os grilos cantando escondidos em algum lugar da grama. A glória ainda tem muito movimento, muita agitação.

- Então sinal de que melhorou. Que bom. Eu também queria sair desse tumulto da região central. Apesar da comodidade de acesso às coisas, é muito barulho de carro, ônibus, etc, só que ainda continuo no mesmo lugar. Tudo na mesma. A única coisa que muda são os filhos que crescem. E dão trabalho! Mas, no fundo é bom.

- Ah, com certeza! Ver aquele pingo de gente crescendo dá até esperança.

- Veio pagar as contas então?

- Não.

- O que faz na fila da lotérica então?

- Pois é... O prêmio da loteria acumulou... Vim arriscar um jogo.

- Que isso?! Justo você? Acreditando nessas coisas agora?

- Na verdade não. Continuo sem acreditar. Ainda não entendi muito bem o que eu estou fazendo aqui. O bom é que não ganhar não gera a sensação de derrota, de perda e a expectativa, o ânimo que dá a aposta até a hora do sorteio, acaba valendo a pena.

- Pior... Eu também vim aqui pra fazer uns jogos. Não fazia a menor idéia de que números apostar. Tem gente que aposta sempre nos mesmos números a vida inteira. Eu nunca apostei,. Não posso fazer isso. Tem gente que tenta usar a lógica também, como se houvesse algum meio de adivinhar a aleatoriedade do acaso. Ainda tem que desconfiar de quão aleatório é o sorteio, de fato. Vez por outra acontecem coisas estranhas, como alguém ganhar seguidas vezes. Resolvi dar oportunidade ao destino. Joguei o número de ordem do ônibus que eu vim e os números da placa.

- Fez um jogo só, então?

- Não. Fiz vários. Alterei a ordem dos algarismos, embaralhei, apliquei fórmulas... Já que é aleatório, digamos que tentei usar a própria aleatoriedade que o dia de hoje me mostrou, afinal, o sorteio é logo mais, à noite.

- Pode ser uma alternativa de estratégia.

- Vai que dá certo...

- Né? O que eu acho curioso é, por exemplo, aquele senhor lá na frente já quase para ser atendido, que deve ter passado quase uma hora na fila e mal se aguenta de pé – na hora de aposta idoso não tem fila preferencial. O que ele quer com o dinheiro? Daqui a pouco bate as botas e, se não tiver herdeiro, devolve tudo para o Estado.

- Ora, mas ele também tem o direito de tentar a sorte!

- Claro, mas não de tirar a minha!

- Mas não vai tirar. Se os dois ganharem, dividem o valor total. Quem tira é o próprio Estado que pega parte do dinheiro de volta em imposto. Também, para quê tanto dinheiro? Divide com alguém!

- Tantas empresas com tantos donos milionários, bilionários, porque eu não posso ser também? Talvez eu seja o único a conseguir um milhão honestamente, sem roubar, sem sonegar, sem explorar ninguém.

- Explorando só a expectativa dos outros de sair da pobreza.

- Bom... Sei que não vou ganhar nem ninguém que está aqui nessa fila. Talvez um daqueles magicamente sortudos, que ganha diversas vezes na loteria, como o delegado que ganhou dezessete vezes. Imagina quantos outros casos não descobertos podem haver! A aposta só serve para dar esperança até a hora em que sai o sorteio. Até lá você fica imaginando o que poderia fazer com o prêmio: Viagens, aplicações, investimentos, doações... E bem pensando, dois reais é até um valor baixo a se pagar pela esperança.
- Vou lá que é minha vez. Prazer em revê-lo. Até mais.

- Até mais! Se ganhar, lembre de mim!