segunda-feira, 20 de junho de 2011

Tristeza e Medicina


A tristeza nos assola
Com sua lufada avassaladora
Aperta-se nos a gola
Pela felicidade que se fora.

A vontade ao chão se lança
Ante a dor profunda que nos devora.
É a falta de esperança.
Oportunidade que foi embora.

De volúpias temos fome,
Mas assim como a chama faz à vela,
A penúria nos consome
E existimos somente para ela.

Isso é melancolia.
Além de escuridão, nada nos mostra
E no coração se enfia,
Pois a vida se nos virou de costas.

Porém...

A grande sabedoria,
A do especialista em medicina,
Certamente nos diria:
- É só déficit de serotonina.

Reflexão à Alvorada


Já não mais quero ser eu mesmo.
Creio isso ser hoje impossível.
Sempre ergue-se-me uma muralha,
E meu caminho (meu?)...É temível.

Desejo simplesmente ao menos ser.
Assim poderei dizer que algo é meu.
Toda vontade que nunca tive,
Nem vivi sua força em mim...Faleceu!

Nada me consola ou alivia.
Nunca fui, não sou ou serei.
Desisto, pois, a escuridão do firmamento
Se me impõe em todas as manhãs.

Encolhi, murchei, morri!
Se é que já brotei ou vivi...
O desespero daqueles quadros lá,
Do outro lado da janela, é-me tão familiar.

A alvorada no firmamento
Mostra que a noite já passou;
E nem houve sequer um momento...

Vou-me sem jamais ter estado.
Estou sem ao menos ter sido.
Não sei o que sou, contudo,
Compreendo o que não fui...
Tudo.



Virulência

Tristeza é uma enfermidade contagiosa
Que se espalha como vapor invisível
E passa pelas narinas em rota sinuosa
Seguindo até o coração sensível.

Mesmo que este seja apenas um pouco
Já é suficiente para pô-lo em pedaços.
Deixar o cérebro confuso, louco,
Sem saber se ama ou rejeita abraços.

Segue a fumaça e tudo contamina
Chega de repente e sem explicação.
Atrai a todos como um imã
Que nos mergulha nessa grande lassidão.

Faz-me taciturno ao máximo do extremo
Saber que neste mar de tormenta
Fora eu quem lançara o precioso remo
Desprezando-o de maneira nojenta.

Minha respiração exala a fumaça
Que se dissemina pelo ambiente
E percorre o mundo todo à caça
De toda e qualquer alma doente.

domingo, 19 de junho de 2011

De quem é o Horizonte?


Ao passar pelo interior do Mato Grosso
Não pude deixar de lembrar de Goiás.
O pensamento de outrora floresceu ainda mais
Entre a propriedade e a terra, ante o fosso.

Admirava tranquilo o longínquo horizonte,
Sempre inalcançável, que se estende naqueles campos,
E a luz quase mágica dos pirilampos
A substituir o sol que se escondia atrás da ponte

Que sobre o rio, impávida descansa
Enquanto as águas correm apressadas
E arrastam as folhas com seu destino cada
De levar todas ao oceano, na ânsia.

Apreciava distraído o inefável quadro
Quando alguém me disse que tinha de sair;
Que eu não podia estar sentado ali,
Pois estava em terreno privado.

Em vão discuti da posse o direito,
Mas era ele só um pobre capataz
Que ao me expulsar, mal sabe o que faz.
Só obedece da terra o dono. O prefeito.

Saio dali com a certeza de ter sido roubado.
Impedido até mesmo de com o horizonte sonhar.
Cerceado de escolher meu destino onde desejar,
Pois por toda a parte o caminho é murado.

E eu, preso do lado de fora.


Mais um livro


Nunca escrevi um livro.
Quando tentei, desisti.
Pouco depois disso,
Quando não queria,
Terminei de escrevê-lo.

Fui, antes ou depois,
Em qualquer situação,
Sempre que não queria.
História, música, poesia,
Filosofia ou sociologia.

Tudo o que quis ser,
De fato o fui
Quando não queria mais.
Conclui sempre depois
De esquecer haver começado.

Porém, é só mais um
Para morrer esquecido.
Empoeirado na prateleira
De biblioteca nenhuma.



segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dia qualquer

Sentado no bar eu converso
E do outro lado cai a chapinha
E quiçá duas vezes roda e pára.
Eu pareço que ouço a conversa.
Mas atento às minúcias...
Rodo a pedra do isqueiro e
Sobe uma faísca que
Sem combustível se apaga.
O cigarro após aceso
Libera sua fumaça que sobe
E segue de encontro à lua
Que brilha em algum lugar
Embora eu não a veja.
Os lábios dela se mexem
Mesmo que o som não chegue aqui.
Ouço a gargalhada com os olhos...
Só com os olhos.
E eu calado e sem expressão
Acendo o meu cigarro
Despeço-me de todos os presentes
E vou.
E nada de mais acontece
Durante todo este dia.


Ode à amizade


Os amigos sempre vêm e vão.
Não posso confiante apertar sua mão.
O cinismo é inerente ao homem.
Quando têm o que querem, somem.

A confiança é uma tolice
Mas não adianta q’eu te avise.
Prefere tropeçar e cair aqui,
Do que, sozinho, adiante seguir.

O que quero, pois dizer?
O homem é um abutre por prazer.
Faz-se de toda forma um entrave.
Sou acompanhado, mas só. A mim: ave!


Liberdade


Liberdade é a maior das utopias
Que o homem inventou para sonhar.
E como homem eu também sonho,
Mas sabendo nunca poder alcançar.

Fecho os meus olhos,
Pois não gosto do que vejo.
Sou, como todos, um escravo.
Contudo eu sei que sou.
Mas, sabê-lo não me torna melhor ou pior;
Simplesmente ordinário como toda a gente.

Abro os olhos para o espelho
E logo eu os fecho.
Eu não agrado nem a mim mesmo.
Vejo só um covarde
Que se fecha para tudo
E mesmo assim, fecho-me.

Agarro-me aos grilhões que oprimem.
A dor que me atinge, amo.
Sincero para mim mesmo eu sou
Como um padre que acredita na própria salvação.

Sou o pior dos pulhas!
Sei disso e nada faço.
Não me importo de ser enganado.
Engano-me que sou livre.

A todos os meus dias, este sonho
Sempre estragou e fez-me doente
E dele eu gosto sendo assim.

Grito pela liberdade que já tenho
Mesmo sem nunca tê-la conseguido.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Esperando

Incansavelmente espero a hora
Em que a vil escuridão surda
Será rompida pela aurora;
Em que os bosques
Cantarão a fuga da neblina turva.
Não haverá praga que rogues
Que será pior que o silêncio
O qual já me fora imposto
Numa brincadeira de mau gosto
Que não cessa se o
Momento se eterniza como ferida
Na pobre lembrança apodrecida
Do incrível homem invisível
Do qual o tempo todo se ri
Sem saber que ele está ali.

Queria somente dizer-te*


Queria somente dizer-te que
Tu esqueceste teu cheiro comigo
Impregnado em minhas narinas e
Agora sinto-o no mundo inteiro.

A tua presença ainda repousa
A me afagar aqui em minha cama
Ademais, minha memória inda ousa
Sonhar que tua voz sempre me chama.

Da hodierna chuva que cai lá fora,
Só o doce úmido vento me toca
E avisa-me que cedo chegará a hora

Que terei teu coração em meu alento;
Que outra vez sentirei tua boca
E que, sem passar, passará o tempo.

Prometeu e o fado meu

É esse o meu destino;
Enlouquecer à solidão,
Viver tudo em vão

Talvez eu tenha perdido
O dom que Prometeu
A todos forneceu.

E ao desespero da vida
Sucumbirei no desejo
De não resistir ao que vejo
E à desgraça repetida...

Na esperança perdida
Mora a branda esperança,
Que tem sempre uma criança,
De existir uma saída.

Se das correntes se libertou
Prometeu, daquele modo,
Tal destino, para mim, rogo,
E assim também me vou.

Para fugir do meu fado,
Imploro ao destino
O emplastro divino
Que lhe fora emprestado.

É melhor a incerteza da noite certa,
Do que a certeza do dia incerto!

A fotografia

Meu coração ao bater diz seu nome.
Minha respiração neste instante me falta.
Minha sorte descansa, dorme
Numa doce esperança incauta.

Esperança de saber quem é você
Que em meu caminho o destino pôs,
De poder teus olhos de perto ver
E tentar decifrá-los depois.

O que terá pregado esta peça
De deixar-me tal pintura admirar
Sem você nem cá estar?

Por minha dor que não cessa;
Por eu ter agarrado um sonho;
Por eu não saber onde me ponho...

Riem de mim os deuses.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Arrependimento

Que sofrimento que chega abruptamente
É avassalador e sinceramente... Lamento.
Acabei de errar e já me gera tormento.
Agora vem a tristeza nublando minha mente.

Ah se eu pudesse fazer tudo de novo...
Bom seria caso perdoássemos a nós mesmos.
Um ato impensado deixa-nos como num deserto ermo.
Sou para mim agora, decerto um estorvo.

O peso da derrota, macambúzio eu carrego.
Não mereço jazer nem sob uma leiva.
Incomodo-te muito, eu sei vá!

Em meus pulsos eu ponho o prego,
E trago a cruz do arrependimento.
Espero que você seja feliz. Eu... Morro por dentro.

Depressão

Não me importa se faz sol ou chove,
Se é boa a música que toca...
O corpo não responde, não se move;
Faz dum canto escuro sua toca.

Todos ao redor e você sozinho.
A nuvem é sombria, mas afaga...
Do interno da mente faz-se o ninho.
Qualquer coisa externa é praga.

Não mais sinto, pois estou quase extinto.
A obra nasce, parte de mim vai-se...
Dá-se a introspecção em si, não minto.
Da mente a poesia cai num cálice
E entrego para todos degustarem,
E pela solidão se apaixonarem. (!)

Sonha, sonha! E muito produz,
Em si, sobre si.--Se entristece...
Não há pra a alma luz.
...Caso à realidade tudo viesse... (!)

Nada é real, tudo é construção,
E fica-se sempre sem chão.
Afunda-se em profunda lassidão.
Sentido, a vida? Não, tem não!

Viver é um grande sonhar.
Outra coisa? ...É suicídio.


Chuva

Os céus estão chorando.
Ouço o grito dos deuses,
Os lamentos do amoroso vento.
Estou agora sempre só, há meses.

Qualquer coisa pode me parar.
Sinto-me como uma árvore no inverno.
Para lutar, não tenho mais força.
Taciturno, choro e vivo este inferno.

Está tudo tão distante.
Tudo tão pavoroso...
Tão, apaixonante.

A tristeza é maravilhosamente bela.


Meu anjo

Procurei-te por anos,
Cativei-te por meses,
Perdi-te em segundos.

Confiei-me a ti,
Aconcheguei-me em teu colo,
Chorei à noite meu pesar contigo.
E tivera coragem de partir.

Sua alcova banhada de tristeza
Na qual deixei minha marca
Com lágrimas no chão,
Voltar àqueles tempos...Você não deseja?

Que doce é lembrar do passado.
Ah! Que saudade daqueles momentos,
Em que ouvíamos juntos nossos lamentos,
E eu podia confortar-me ao teu lado.

Ai... Que vazio! Volta!
Por favor...
Espero-te quando for.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sussurro Noturno

Não canta o pássaro que não voa,
Se em sua vida coisa alguma é boa,
Se uma nota de alegria pra ele não soa,
Nem traz as volúpias de uma coroa.

Aos grilhões das boas maneias, preso.
Sem as carícias de um bebê no berço.
Em minha vida, a primavera é outono...
Tudo que almejo, só alcanço durante o sono.

Só o crepúsculo, ao invés da alvorada
Aos poucos anos de minha vida já condenada.
Ouviram dos céus, à solidão do quarto,
Da alma o urro, dum invisível e doloroso fardo.

Sonhar é uma triste felicidade...
Daquelas noites eu sinto saudade.
Do aconchego do claustro...Solidão!
Da prisão nesta alma...Na imensidão!


Lágrimas perderam-se aos quatro ventos.
Em pleno meio-dia, escureceu-se o céu...
O perdido quando fora semente,
Jamais será reposto no presente.

Quero e almejo ir! Deixe-me partir.
É. Realmente, tudo, eu já perdi.
Àquele que nunca soube amar...
Noite, vem com sua solidão abraçar!

Leito de esperança


Tantas foram as vezes que repousei num leito
Sonhando acordar com doce deleite
Porém amargamente doeu-me no peito;
Nada mudou, nada foi feito.

Pensei só nessa estrofe e já cansei,
Não tenho vontade de mais nada
E já nem sei mais o que sei,

Ajuda-me,
Tira-me desse poço de desilusões repetidas.
Sempre as mesmas coisas
São, sem motivo, sofridas.

Tudo à minha volta quer me engolir,
Trazem-me medo, angústias e não me matam.
Para sempre a me assustar,
Não tenho para onde correr, não adianta chorar.

Nem consigo mais um pouco de pranto,
E deixo-me triste por ser agora apático.
A vida e a morte perderam seu encanto
Tornando tudo mais vazio e dramático.

Estou só.

Alguém está roubando nossas almas!