quarta-feira, 22 de maio de 2013

25 de abril de 2013

Por mais que seja sempre distante de nós,
Nas raras vezes que nos faz uma visita
Assola-nos, sobretudo quando a sós,
E despeja de todas a dor e a desdita.

Ao fazer-se rumar de presente a pretérito
Se perpetuará presente na memória
A carregar dos ensinamentos o mérito
Legados a nossa particular história.

Neste passamento que não passa, mas fica;
Que livra da vida pra liberdade alguma;
Que um imediato desalento fabrica;

No qual simplesmente apenas não se é mais,
Será sua existência da alegria a suma
Pois que bem sempre fez. Que você reste em paz.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Outra História do Paraíso


Há quem diga que homossexualidade é condenável, que a Bíblia diz que Deus falou que era reprovável. A bíblia foi escrita em um contexto histórico machista e homofóbico, onde tudo que lembrava o feminino era inferiorizado.  Naquele momento direitos humanos não era conhecido. Inclusive a própria noção de humano como algo universal. Os conceitos eram diferentes. Essas concepções que nos são tão arraigadas e vistas como inerentes à própria existência, são modernas, o que é um bom sinal. Mas, e se a Bíblia tivesse sido escrita em outro contexto? As representações de santos, anjos, jesus, são europeias. E se tivessem sido feitas na África? Seriam todos brancos e loiros? Como seria a história da criação do mundo e do ser humano?

"Divertiam-se e começaram a, distraídos,moldar o nada com as formas e cores que lhes enchia o coração naquele momento deslumbrante de pureza da alma. Desenharam um vasto gramado onde pudessem se deitar e árvores para que se recostassem, formando maravilhosos bosques, lagos de águas azuis, verdes, negras, todas transparentes, cristalinas como o prazer verdadeiro que os elevava naquele entretenimento pueril. Juntos  coloriam também os campos com flores vermelhas, laranjas, amarelas, verdes, azuis e roxas bem como, da respiração enlevante que lhes enchia o peito, ergueram montanhas para que se refletissem sobre as águas. 
Foi então que, ao admirar o espelho das águas dos lagos, rodeados por aquela paisagem paradisíaca, não puderam mais dissimular, fingir ou negar a si mesmo ou ao outro o motivo daqueles instantes de desligamento dos diálogos e simples admiração mútua sem palavras.Amavam-se. E com isso, amaram-se.

Como mágica,fruto do inocente amor sem conceitos, inteiro, sem regras ou determinações,fantasticamente real e
sublime, dos espaços ainda de nada brotaram seres angelicais cujos sons emitidos soavam-lhes como cântico da mais admirável melodia que jamais pudera ser reproduzida, a qual reverberava suave em celebração à conjunção feérica dos dois. Deus fez-se todo amor e uma luz irrompeu do horizonte a iluminar o casal que se tornava apenas um e Deus disse: – Faça-se a luz! Faça-se a luz para iluminar o sentimento que me aflora por todos os poros, para que qualquer um possa ver e compreender que é no amor que mora toda a felicidade, amor que toma conta de mim e posso amar absolutamente todos, pois – parou um pouco, respirou profundo e prosseguiu orgulhoso – Eu sou Amor!

Ao som indescritivelmente criador que carregavam estas palavras francas, sinceras, o casal se abraçou e 
furtivamente correram-lhes dos olhos lágrimas de vida e escorreram-lhes pelas maças dos rostos até estacionarem nos sorrisos que irradiavam seus lábios. Um com os polegares suavemente colocados abaixo dos olhos do outro, as pontas dos outros dedos a acariciar o rosto e as orelhas, fizeram, sem querer, com que as gotas das lágrimas de felicidade se encontrassem.Daí, da união de dois infinitos, da comunhão das almas divinas naquelas lágrimas a formar uma só, embebida em vida pura, gotejou à relva e por vontade própria afastou-se um tanto para poder desenvolver a nova mágica. Daquela gota que corria pela grama e se expandia suavemente
e como balé se abria dela mesma, nascia Ivo, alto, forte, robusto, de tez negra como Deus e olhos brilhantes e vivos como Lúcifer. Em sua pele refletiam as gotas de lágrima que ainda repousavam sobre seu corpo."

Trecho de "A Outra História do Paraíso" in:Livro de Um Desconhecido.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Notícias do Livro de Um Desconhecido


Aos poucos cresce a divulgação do Livro de Um Desconhecido em diversos meios. Recentemente breve resenha foi publicada no JEN - Jornal de Empresas & Negócios:

http://www.jornalempresasenegocios.com.br/pagina_14_ed_2395.pdf

http://www.jornalempresasenegocios.com.br/livros_revista.html


"Diego Mileli – Chiado – Contos ficcionais para todos os níveis e sabores. Eróticos; perniciosos; históricos, até um sacrílego, todos com um perfil deliciosamente irreverente, todavia, honestos. Há
uma aura de alfinetada social, donde nada escapa à arguta e ágil pena do autor. Textos lancinantes, com certeza, trarão momentos de prazer reflexivo."

O livro está disponível em diversas livrarias no Brasil, segundo a Editora Chiado de Portugal, mas as distribuidoras não passam lista das livrarias. Online, como já anunciado, pode ser encontrado no site da Saraiva, Siciliano e Só livros (ainda não o cadastraram, mas será em breve). Abaixo lista informada pela editora dos locais físicos que disponibilizam o livro.


Rio de Janeiro (São Pedro da Aldeira): Livraria Sabor & Saber
Paraná: Distribuidora Livraria do Chain
RUA GENERAL CARNEIRO, 441 CEP 80.060-150. CURITIBA PARANÁ

Goiás, Goiânia: Livraria Didáctica - Setor Central
Rua 4, 789 - Setor Central, Goiânia - GO, CEP 74020-060, Goiânia, Goiás


Em Portugal a lista está em postagem anterior deste blog. Acesse e confira o local mais próximo.

domingo, 5 de maio de 2013

Rio: capital da bicicleta


Sei que esse blog é literário, mas, outra questão tem me incomodado recentemente. Poderia escrever na forma de crônica, como de costume, mas, opto agora por um arrazoado. 


Se tem propalado constantemente na mídia, depois dos atropelamentos de ciclistas, que o Rio de Janeiro tem mais de 300km de ciclovias. O Copenhagenize considera o Rio de Janeiro como a 12ª cidade mais "bike friendly" do mundo, ou seja, mais amistosa para ciclistas e o uso da bicicleta. Será que a opinião de especialistas estrangeiros é capaz de desfazer a realidade e conhecimento construídos pela experiência cotidiana? Os critérios utilizados para dizer que o rio é tão amistosa às bicicletas está no link. Leia e avalie você mesmo. 


Olhando o mapa cicloviário do Rio de Janeiro, a situação parece bem melhor do que é. Muitas "ciclocalçadas" são chamadas de ciclovia. Aparecem ligação que na prática não existe como a da praia de Botafogo à Lagoa, que para sair da ciclovia da orla naquela direção, há que se descer da bicicleta, descer a escada, passar por uma passagem subterrânea, que pode estar alagada, seguir por uma ciclovia de terra batida (sic) - não acredita? veja pelo google street view - e depois pegar essas ciclocalçadas. Há também problemas de iluminação como no túnel de Botafogo ao Leme, cuja iluminação da ciclovia depende da posição do sol, já que as luzes são exclusivamente pensadas para a via de automóveis, fora o risco de assaltos. http://oglobo.globo.com/zona-sul/um-velho-problema-no-tunel-novo-6662772

Quando se retira espaço do pedestre para ciclovia, me parece não incentivar a bicicleta como alternativa ao uso de carro/ônibus, etc. mas como alternativa ao passeio a pé, tão saudável e ecologicamente correto. O ciclista tem de desviar do pedestre, o pedestre do ciclista, pessoas param para conversar na ciclovia (ou seria na calçada?). Isso sem falar que há buracos, desníveis de terrenos, etc.

Vale lembrar ainda que as ciclocalçadas são tinta vermelha no passeio de pedestres. Daqui a três ou quatro anos é capaz de essa tinta se apagar - não sei a durabilidade dela - e o rio perder centenas de quilômetros de "ciclovias".

As ciclofaixas são interessantes. Eu preferiria que em vez de separadas por olho de gato fossem separadas por meio-fio. Elas também tem um problema encontrada nas ciclocalçadas. Ziguezagueam. Uma hora se está na faixa da esquerda, noutra na direita, a cciclofaixa sobe a calçada, passa por trás de ponto de ônibus e volta para a rua. Por falar em ziguezague, naquela ciclocalçada-terrabatida-escada de botafogo, a "ciclovia" segue ainda pela rua e termina de repente, pois se deveria ter seguido pelo cruzamento metros antes, atravessado a rua e tomado outra ciclocalçada. Mas isso não tem uma sinalização eficiente.

Mas, existem ciclofaixas e ciclofaixas. Espantei-me ao ver a da Ilha do Governador. Li na manchete do jornal que o ônibus avançava em cima da ciclovia da praia da Bica. Procurei, procurei até entender que o borrão vermelho que parece ter no máximo uns 70 cm era a tal ciclofaixa de lá, apesar de ser recomendável 1,5 m para a segurança de uma ciclofaixa. Para não usar a imagem de um jornal, utilizo a do blog: http://www.caoquefuma.com/2013/03/pintando-ciclovias.html (foto abaixo). Em Pelotas vi isso a primeira vez. Achei tenebroso e pensei: "Ufa, ainda bem que não preciso usar essas no Rio." Até porque o trânsito lá é muito menos agressivo que o do Rio. 

Existem outras ciclocalçadas na zona oeste, mas por lá não conheço porque não consigo chegar de bicicleta nesses lugares. Porém, visitei pelo google street view e vi que são também tinta vermelha na calçada. Resta saber quanto tempo duram, volto a repetir. Essas ciclocalçadas às vezes ocupam a calçada inteira, como no Jardim Botânico, por exemplo (http://oglobo.globo.com/zona-sul/uma-ciclovia-estreita-demais-para-todo-mundo-3650863). Na Ciclocalçada Botafogo-Praia Vermelha, há um trecho, da praia de Botafogo até pegar a pista do meio em que o problema se repete. Não há calçada, só calçadovia ou ciclocalçada. Depois do posto de gasolina de um lado é um sentido, do outro o contrário e no meio árvores, espaço onde o pedestre se esconde quando vem uma bicicleta. Temos outras ciclovias contando quilômetros por aí. As da floresta da Tijuca - que não tem nem, por mais que se esforce, como alguém dizer que são para transporte - as no entorno do Maracanã, a do entorno do Engenhão...  Aliás, essas são praticamente as únicas da Zona Norte, região da cidade que tem o tamanho de uma cidade inteira.

Você, carioca, consegue usar ciclovias no seu dia-a-dia? Serve de transporte para o trabalho, faculdade, para visitar amigos, ir ao supermercado ou só consegue usá-las aos finais de semana? Quantos quilômetros são da sua casa para o trabalho? Daria para fazer de bike (ou você faz pelo meio da rua)? Esses tantos quilômetros de ciclovia realmente são para transporte? Por que estão na secretaria de meio ambiente? Você pode pedalar até a estação de trem, entrar com sua bike no vagão de bicicletas e ao desembarcar continuar o resto do trajeto de bicicleta (com ou sem segurança)? Aliás, se tivesse vagão de bicicletas no metro, o ciclista não conseguiria entrar porque as composições vem tão entupidas de gente que a finalidade seria revertida para desafogar os vagões de uma malha metroviária que ficou abandonada por anos (década) e cuja expansão insiste no erro de uma única linha, por mais que tenha números diferentes (1, 2 e 4 - sic).

Sem poder integrar a bicicleta ao transporte de massas ferroviário, sem ciclovias na zona norte, com as existentes na cidade inteira apresentando essas características mencionadas acima, sem a maior parte da população poder utilizá-las no trajeto do dia a dia, sem ciclovias no centro da cidade, com uma política de retirar espaço dos pedestres, transformando as bicicletas em alternativa à caminhada e não ao carro, é o Rio de Janeiro mesmo "bike friendly"?

Bem, ao andar pela cidade com certeza algumas vezes algum motorista já jogou o veículo para cima de você como para "dar uma lição", já teve de parar para não ser atropelado por um ônibus, desviar de corredores e transeuntes nas ciclovias (de lazer) da orla/pontos turísticos. Qual avaliação você faz do uso de bicicleta no Rio? É amistoso? As ciclovias atendem o uso diário? O trânsito é tranquilo? Que dá para usar, dá, mas existe mesmo incentivo e estimulo com segurança para quem optar pelas pedaladas?

Deixo umas sugestões.

1) Uma ciclovia beirando a linha do trem. No Ramal Deodoro já daria uma grande ajuda. Em muitas regiões há espaço entre o muro das estacões e o trilho. Aliás, todo esse sistema de muros merece uma revitalização. São antissociais e nem calçadas para pedestre possuem, apesar de abrigar pontos de ônibus. Integraria a zona norte à Central do Brasil e os bairros dessa zona entre si, afinal há uma comunicação grande entre eles, especialmente em regiões como Méier, Madureira e Bangu (zona oeste).


2) Ladear a Avenida Brasil com Ciclovias dos dois lados. A via corta a zona norte em outra região e permitiria muita gente chegar também ao Centro da Cidade, passando inclusive pela Rodoviária e poderiam aproveitar a bagunça da perimetral que já estão fazendo para uma ciclovia no local estendendo-se até a praça XV, talvez.

3) Da Central do Brasil até a praça XV(E essa poderia ser esticada até a do Aterro, já que é ali bem próximo e com um trajeto tranquilo em calçadas amplas que poderiam ser divididas, restando ainda espaço para os pedestres e passando pelo aeroporto. Olha que maravilha, já se poderia ir de realengo até o Leblon com uma cilcovia na Brasil e esta. Da central, sugeriria entrar em direção à praça da bandeira, subir o viaduto da av. Chile e pegar a Evaristo da veiga/ Araújo Porto Alegre até a praça XV. Um trajeto que não tem grande movimento comparado às demais vias do Rio de Janeiro e pelo qual se teria acesso à lapa, cinelândia, largo da carioca, e praça XV, aeroporto, integrando metrô, trem e barca, além de ciclovias da zona norte e zona sul. Haveria impacto no trânsito? Com certeza. Especialmente no aumento do uso da bicicleta como meio de transporte.

Haveria uma série de outras sugestões como ligar essa ciclovia da central/praçaXV via cinelândia, ao aterro pela Antonio Carlos (via de pouco movimento no sentido aterro) e Beira Mar (calçada praticamente sem uso) pelo vão do MAM, propiciando até mesmo uma integração cultural - CCBB, Casa França-Brasil, Centro Cultural dos Correios (acessíveis pela praça XV e MAM. Uma ciclovia de Vila Isabel ao Centro também, passando por Tijuca, Estácio e Lapa. Enfim... Se houvesse interesse, a bicicleta seria alternativa de transporte, mas hoje é apenas de lazer e mantém-se os estacionamentos nas ruas, espaços das vias que são incentivo ao automóvel em vez de ciclovias, que seriam incentivo ao trânsito, à bicicleta, à locomoção e à despoluição. As opções governamentais te sido tirar espaço dos pedestres, infelizmente. Tem melhorado? Eu digo que sim. Mas, ainda muito longe de ser convidativa ao uso da bicicleta e amistosa a quem se arrisca em usar.

Conclusão sobre o copenhagize? Ou bem há muita propaganda e pouca experiência de uso para análise ou bem o mundo vai mesmo muito mal no respeito às bicicletas.

OBS: Em Porto Alegre, também pouco amistosa, a ciclovia vai em passos bem lentos, mas pela Av. Ipiranga, R. José do Patrcocínio, 7 de setembro, serão úteis não apenas por lazer e estão sendo feitas nas vias, o que acho bem interessante. Infelizmente vai bem devagar, mas com uma durabilidade maior, que não pode ser apagada simplesmente ao par de alguns anos pelo desaparecimento da tinta sobre a calçada. 


O objetivo dessa crítica não é desmotivar a política de implementação de ciclovias, mas ampliar as discussões e abrir os olhos de quem os tiver fechados para que ela seja de transporte e permanente, alternativa aos carros, não às caminhadas, funcionais e não de lazer. Em resumo, contribuir para a discussão. No Brasil, nenhuma grande cidade é verdadeiramente "bike friendly", ainda.



OBS2: Os links são para matérias d'O Globo porque foram as que apareceram mais facilmente na pesquisa pelo Google.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Que livro? Que desconhecido?

O Livro de Um Desconhecido. De que é composto? O que quer? Do que trata? Como trata? Afinal, o que é? Paulo Sabino fez a apresentação que já postei aqui neste blog juntamente com a capa do livro.

O livro é composto de contos divididos em três partes. Na primeira parte estão: Mitologias Apócrifas, Gênese, Breve História da Humanidade e Fragmentos do Império de Marcus Regulatórius; na segunda: Aniversário de Casamento, Aleluia é sábado, Casa Abandonada, Entre Vizinhos, ônibus 224, Cadeia Alimentar do Século XXI, Lotérica Esperança, As Cartas, O prazer de viajar de avião e Uma noite. Na terceira: Um encontro, O Viajante, A outra história do paraíso, Retalhos, No Convento, O Drama de um homem só e A Rua, fechando o livro.

Após alguns desses contos há também poemas. O Drama de um homem só, Gênese e Breve História da Humanidade são reedições dos contos publicados nos livros de poemas: o primeiro no "O Eu Mais Íntimo" e o segundo no "Pretérito Mais Que Presente".

Mas, a fim de possibilitar outras formas de mergulhar em no livro em vez de apontar-lhe uma estrutura, creio adequado divulgar então o prefácio da obra. A editora ainda me deve a lista das livrarias. Assim que eu as tiver, divulgarei aqui no blog. De qualquer forma, já está disponível no Brasil nas livrarias Saraiva e Siciliano. Em Portugal, é só ver a postagem anterior a esta.



PREFÁCIO

Os temas que mais gosto são o do sofrimento da tristeza e o da miséria; quando os sonhos se batem com o real, quando temos que enfrentar essa realidade que não moldamos, mas moldaram para nós sem nos perguntar e nos damos conta de que tudo em que acreditamos, na verdade não é nada do lado de fora de nós mesmos. Fingimos, pintamos, mentimos o mundo para conseguir encará-lo, ainda que de costas, mesmo que isso seja um paradoxo. Quero desmascarar as pessoas, arrancar-lhes as aparências, as fantasias vãs de personagens vazios, quero mostrar a fraqueza e a covardia do valente, a tristeza do ódio e a angústia e o medo que permeiam as discriminações humanas. Gostaria de conseguir fazer tudo isso e mostrar que há mais gente que se importa com o outro, em incomodar o outro, em impor-lhe seus pensamentos – aqueles que nunca os teve por si – muito mais do que se esforça em descobrir-se, em ser si mesmo.
Quero acabar com esse hábito da gente que, como escrevi num texto deste livro, "se esbarra todos os dias, já se conhece, ao menos de vista, no trajeto diário, quase deixando de ser somente um corpo sem vida, sem história, que passa e não se sabe se existia antes e se continuará a existir depois, se não era unicamente uma alucinação no meio daquela turba e mesmo assim, esses que se encontram todos os dias, não rompem a barreira do isolamento na individualidade; ainda que se perceba percebido pelo outro que talvez tenha o mesmo anseio de contato, não se parte para a ação de conhecer, e quebra o pacto de silêncio cujo medo de ser descoberto é o signatário. É um contrato em que se acorda: “Também tenho medos, recalques, traumas e 'falhas', portanto, não tente ver os meus que eu não me intrometerei nos seus”; “Somos perfeitos bons cidadãos no desconhecimento”. “É melhor deixar assim do que despir os personagens de suas fantasias”. Dessa forma, no acordo de cavalheiros perfeitos semideuses, seguimos adiante nosso rumo, ainda que em círculos, ainda que em círculos cada vez menores."
Quero tirar da boca dos outros aquele argumento de que a vida já é triste demais para a arte também o ser e mostrar-lhes que se a arte mentir, arte ou filosofia, ou o que for, a realidade continuará a ser triste pois não se preocupará em modificar. Quero que vejam como somos torpes, vis e miseráveis tanto quanto o cremos teriam sido os medievais e os "outros" em geral. Quero matar a maturidade, que é a ideia soberba que desmerece, simplesmente pela idade, os argumentos dos outros chamando-os de pueris sem debater com eles. Maturidade que se sente superior, que diz que "um dia você vai compreender", que é mesquinha e foge, se esconde atrás de uma autoridade forjada dos cabelos grisalhos, mas que é puro conservadorismo cômodo de quem não precisa mudar, pois poderia ter algo a perder. Em uma palavra, quero a liberdade. Quero que todos se sintam livres e queiram que todos se sintam livres, assim respeitando os outros.
Mas, de que importa? A quem importa? Esse é apenas mais um livro. Um livro que não possui patrocínio, que não possui contatos, que não possui indicações. As ganas do mercado fizeram com que literatura se transformasse em mera mercadoria como peso de papel. Como publicar um livro? Livro é voz e por isso só alguns têm direito. Os demais, nós, por mais que publiquemos somos presenteados com a indiferença. Como tudo o mais, o livro, a arte em geral e o direito a voz também foram transformados em mera mercadoria, submetidas simplesmente à lei da compra e venda, oferta e demanda, especulação, marketing e nada mais. Um apresentador de TV ou alguma pessoa que tenha influência sobre grande número de pessoas consegue publicar facilmente porque garante o retorno à editora; garante o lucro, pois, independente da qualidade literária o livro será comprado. O mercado editorial não é de divulgação literária, mas apenas mercado que põe em suas prateleiras o que pode ser vendido, ainda que o produto esteja estragado, que a qualidade seja baixa, que o cheiro seja ruim. Se vende, lá estará em lugar de destaque na prateleira. Mas literatura não é um produto, é arte. E disto esqueceram.
Não posso modelar minha obra ou reescrevê-la para que ela se adéque ao merchandising. Não me importa se é do tipo que mais tem vendido no mercado editorial ou se é rentável. Ao mesmo tempo em que esse mercado retira a condição artística da literatura, incutindo o caráter mercadoria ao livro, sequer presta ao autor contrapartida da possibilidade de sobrevivência. Um administrador ruim, tal como um médico ruim ou pedreiro ou vendedor ou advogado ruins, mal ou bem conseguem viver com a profissão que escolheram. Já o que opta pelo ofício de poeta com fim literário e não lucrativo-best seller, duvido que mesmo o melhor viva só de poesia. Talvez nem o escritor de “literatura Best seller”, a qual provavelmente não sobreviverá mais de três anos e certamente não mais de vinte anos, consiga se sustentar por meio dela. Disse já que não se deve ser profissional, mas amador no sentido de escrever por arte, com liberdade de expor, ideias, sentimentos, sonhos e não por comércio. Literatura que se preze não é de modismo, não busca ser vendável, não é historinha. O fim máximo não é lucrativo; é artístico. Se a obra é mercadológica, para mim não serve.
Se eu gostaria de ter dezenas ou centenas de milhares de títulos vendidos? Claro que gostaria! Mas gostaria que gostassem da minha obra como ela é e não vou podá-la, amenizá-la para ser mais atraente ao público ou escrever uma história que não diga nada. Literatura não é mercadoria! Não é um produto feito para ser vendido, moldado ao gosto do cliente. Pelo menos a minha não é. Escrevo para satisfazer uma necessidade de transcrever-me o espírito ao papel e ele não está à venda.
Bem sabemos que na sociedade em que vivemos é mais fácil morrer esmagado por uma máquina de refrigerantes ou atropelado por um elefante na principal avenida de uma cidade grande a ser descoberto, a ter os trabalhos reconhecidos. A tentativa de ser escritor é o mais breve atalho para o fracasso. Somos uma multidão de desconhecidos, de anônimos condenados a serem autômatos. Quem pode pensar? Falar então?! Quanto mais escrever, já que os textos não têm fronteiras, podem ser traduzidos e lidos para si ou para outros, em voz alta, em qualquer parte. Mas, insisto. Escrevo. Independente do valor desta obra e das anteriormente publicadas por mim, esquecidas, empoeiradas nas prateleiras de biblioteca nenhuma, quantas obras literárias, artísticas, quantos pensamentos, quantas filosofias, ideias, trabalhos científicos não se perdem por sermos condenados à mordaça, por não fazermos parte da sociedade que decide quem vai e quem fica, quem fala e quem emudece, o que se conhece e o que se lança ao esquecimento?
E assim padecemos da censura, a censura fingida que nos rouba os meios, que nos ergue muralhas transparentes em frente às oportunidades para fingir que não as alcançamos por não sermos capazes, mas elas estão ali. E é aqui que se encaixa meu livro: O Livro de Um Desconhecido. Um com “U” maiúsculo para dar destaque, para dar ênfase. Encare-se-o como numeral ou artigo indefinido, tanto faz. Desconhecido também com letra maiúscula, pois é substantivo próprio. É na realidade o último sobrenome de todos nós, que ocultam dos registros de nascimento e das carteiras de identidade. Porém, “ainda continuo sonhando”.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Publicado o Livro de Um Desconhecido


       Diego Mileli, autor de três livros de poesia, estreia como contista com o “Livro de Um Desconhecido

Rio de Janeiro, 9 de abril de 2013. – Finalmente vem ao público o Livro de Um Desconhecido! Depois de tanto tempo de anúncio e propaganda, agora já está disponível nas livrarias físicas e virtuais de Brasil e Portugal.
O Livro é um convite ao questionamento, à reflexão mesmo, e talvez principalmente, das questões mais frequentes na sociedade. Precedido pela apresentação do poeta e comunicólogo Paulo Sabino, o prefácio já antecipa um pouco da ideia que movia as palavras durante o processo de escrita. Sabino não permite que essa nuance se esconda e alerta: “A arte dos contos de Diego Mileli manifesta-se sem aspirações de adoçar a boca (e os olhos) dos leitores com linhas açucaradas, onde os sorrisos desabrochem no porvir das páginas.”
Esta instigante e provocativa obra é o primeiro livro de contos e reedita aqueles que fecharam os dois primeiros livros de poemas. Não é uma obra para mero lazer, mas para quem tem coragem de buscar contato consigo e com a sociedade em seus lados menos orgulhosos.

O livro está disponível nas livrarias de Brasil e Portugal, bem como na internet a um preço módico para se mergulhar em suas 210 páginas de instigante literatura.




Diego Mileli
Brasil
diego.mileli@gmail.com


OBS: No momento, para o Brasil o livro está à venda pelo site da Saraiva. Em breve divulgarei a lista das livrarias no Brasil. Em Portugal seguem os endereços abaixo:

Portugal
O livro pode, neste momento, ser encontrado nas seguintes livrarias:

Livraria Les Enfants Terribles
Rua Bulhão Pato, n.º 1
1700-081 Lisboa

Livraria Nun’Álvares
Rua 5 de Outubro, n.º 59
7300-133 Portalegre

Livraria Papelaria 115
Praça 8 de Maio, n.º 29
3000-300 Coimbra

Livraria Branco
Rua Dr. Roque Silveira, n.º 95
5000-630 Vila Real

Livraria Caminho
Rua Pedro Santarém, n.º 41
2000-223 Santarém

Representações Online
Praça do Comércio, n.º 108
4720-337 Ferreiros AMR

Livraria BrincoLivro
Rua Alexandre Herculano, 301
3510 – 038 Viseu

Livraria Universo
Rua do Concelho, n.º 13
2900-331 Setúbal
  
Livraria de José Alves
Rua da Fábrica, n.º 74
4050-246 Porto

Livraria Esperança
Rua dos Ferreiros, 119
9000-082 Funchal

Nazareth e Filho
Praça do Giraldo, 46
7000-406 Évora

Livraria Graça
Rua da Junqueira, n.º 46
4490-519 Póvoa do Varzim

Aliete S Clara Brito
Avenida 25 de Abril, lote 24 R/C
8500-511 Portimão

Culturminho
Rua Dr. Francisco Duarte, n.º 319
4715-017 Braga
  
Está disponível online no nosso site e brevemente na wook, na bertrand Online e no Sítio do Livro.

É possível, também, encomendá-lo em qualquer balcão Fnac, Book.it, Bertrand e Bulhosa.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Que vida


No início desse mês de janeiro eu assistia televisão, por incrível que pareça, e, mais incrível ainda, vi duas matérias sobre temas bem interessantes. Uma pena que a abordagem fosse rasa e unilateral – como é típico, aliás – mas o assunto é capaz de suscitar diversas questões e ambos eram de certo modo interligados.

A primeira dizia que determinado cientista havia criado um método por meio do qual se poderia estabelecer uma comunicação com pacientes em estado vegetativo. Com um sistema binário “sim/não” de linguagem, por observação das áreas do cérebro ativadas em determinada cirscunstância seria possível comprovar que pessoas em estado vegetativo têm consciência e se comunicar com elas por meio de perguntas cujas respostas se encaixariam no sistema “sim/não”, antes estabelecendo um código com o paciente para que ele pensasse em determinada coisa para dizer “sim” e outra para dizer “não”, assim, com uma tomografia do cérebro se comunicaria com essas pessoas. Não ousarei entrar no mérito do método, pois não tenho conhecimentos nessa área para fazê-lo. Considero, então, que a constatação seja verdadeira, ou seja, que um individuo em estado vegetativo ainda sim é consciente de si e capaz de captar o mundo a sua volta.

Curioso observar a alegria com que foi dada a notícia. Por essa “descoberta” era outra vez concedida a vida àquelas pessoas. Talvez dentro de algum tempo elas possam se manifestar plenamente, propagam esperançosos. Realmente a possibilidade de se comunicar é algo fantástico sem a qual é difícil viver, pela impossibilidade de interação com o mundo. A linguagem, seja qual for a forma pela qual se estabeleça, é fundamental para todo ser consciente. Mas, essa comunicação do experimento atual lhes é possível apenas passivamente, pois não se pode tomar a iniciativa na conversação, mas apenas responder o que interessa ao inquiridor. Ainda assim, não foi isso que me chamou a atenção.

Pensei, entretanto, no que significa ter consciência em um corpo que não se pode controlar, que não é capaz de concretizar suas atitudes proposicionais e não consegue se expressar. Lembrei de algo que vi em algum lugar onde alguém dizia crer que ao morrermos nada acontece. Permanecemos conscientes sentindo os vermes decomporem nossos cadáveres. O que eu poderia supor ser ter consciência em estado vegetativo? Imagino-me agrilhoado. Mais que isso. Atado a uma cadeira ou cama, amordaçado, ou mais precisamente, sem cordas vocais, a observar as coisas, sendo transportado tal qual objeto, de um lado a outro, alimentado, banhado, etc. Independente da minha vontade, incapaz de manifestar meus desejos, os quais, se há consciência, existem. Transformo-me em um objeto – pelo qual outras pessoas podem ter apreço, amor, etc., mas ainda assim um objeto – um objeto consciente. Como se um mineral, sujeito às intempéries do sol, da chuva, das inundações, de arremessos, de chutes, etc. Tivesse consciência, vontade, ou pior, sensações, ou seja, dor, alegria, tristeza, mas não pudesse expressá-las. Não pudesse se fazer compreender. Haveria maior pesadelo que esse? A solitária mais estreita. O destino mais cruel. A vida mais proibida. A frustração ininterrupta e eterna.


A matéria que anuncia a descoberta é feliz, esperançosa. Ninguém fez aos pacientes a pergunta que Ramón Sampedro afirma ao padre: “Vida sem liberdade não é vida”?



Enfim, minutos depois transmitiram a outra matéria. Cientistas alegam que a mais jovem geração atual alcançará os 150 anos e, segundo alguns, é possível inclusive chegar à imortalidade! No entanto, pensar sobre o primeiro caso e desconsiderar o segundo já é suficiente. Imagine viver 150 anos! E com saúde e disposição, prometem os cientistas! Dizia que nossas casas terão aparelhos médicos que nos monitorariam a saúde e emitiriam laudos diagnósticos que nos preveniriam enfermidades! (Entre essas duas matérias passou outra que dizia não haver energia elétrica até hoje em 1% das residências brasileiras. Esqueceram, porém, desse panorama.) Imagine-se, no entanto, que todos tenham acesso a essa maravilha. Seria uma felicidade só!

Penso sempre em alguns problemas de ordem prática. Vivendo-se 150 anos, com quantos se aposentaria? Não vou nem abordar o imenso prazer de acordar todo dia às 6h da manhã e de ficar dentro do trabalho por 9h ou 10h, incluindo o almoço. Se nos aposentarmos aos 65, a previdência nos pagaria por 85 anos. Pouco provável. Além disso, a primeira geração aproveitaria. As demais não se aposentariam nunca, pois faliria o sistema previdenciário. Como hoje a expectativa de vida é de uns 70 anos e a aposentadoria aos 65, considerando que isso corresponde a uns 93% da expectativa, na mesma proporção, teríamos de trabalhar até uns 140 anos. 

Não bastasse ser obrigado a trabalhar por até mais de um século, imagine o que uma vida tão longa implicaria em termos de contingente populacional! Pior. Se demora tanto para atingir a aposentadoria, com quantos anos os filhos conseguiriam uma vaga no mercado de trabalho? 60? 70?! Se teria então de sustentar filho e neto, talvez bisneto, por setenta anos?! Que alegria. Trabalhar mais de um século, nunca ter dinheiro para si, depender dos pais até a terceira idade, não se aposentar nunca, disputar espaço com 40 bilhões de habitantes no planeta, viver em apertadas moradias raras, consequentemente muito mais caras que os absurdos atuais, cada vez menos árvores para caber todo mundo sobre a superfície da Terra... Realmente, viver 150 anos com saúde e disposição é um sonho! Pois pouco provável que fora do sonho tenha alguma vantagem, a não ser para quem não precisa trabalhar e continuará vivendo em um mundo a parte que já é fora da realidade. É fantástico.

Sou obrigado a lembrar do Humano, demasiado humano de Nietzsche quando ele diz: “Há um direito que nos permite tirar a vida de alguém, mas não há nenhum que nos permita tirar dele a morte: isso é pura crueldade.”