quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Outra História do Paraíso


Há quem diga que homossexualidade é condenável, que a Bíblia diz que Deus falou que era reprovável. A bíblia foi escrita em um contexto histórico machista e homofóbico, onde tudo que lembrava o feminino era inferiorizado.  Naquele momento direitos humanos não era conhecido. Inclusive a própria noção de humano como algo universal. Os conceitos eram diferentes. Essas concepções que nos são tão arraigadas e vistas como inerentes à própria existência, são modernas, o que é um bom sinal. Mas, e se a Bíblia tivesse sido escrita em outro contexto? As representações de santos, anjos, jesus, são europeias. E se tivessem sido feitas na África? Seriam todos brancos e loiros? Como seria a história da criação do mundo e do ser humano?

"Divertiam-se e começaram a, distraídos,moldar o nada com as formas e cores que lhes enchia o coração naquele momento deslumbrante de pureza da alma. Desenharam um vasto gramado onde pudessem se deitar e árvores para que se recostassem, formando maravilhosos bosques, lagos de águas azuis, verdes, negras, todas transparentes, cristalinas como o prazer verdadeiro que os elevava naquele entretenimento pueril. Juntos  coloriam também os campos com flores vermelhas, laranjas, amarelas, verdes, azuis e roxas bem como, da respiração enlevante que lhes enchia o peito, ergueram montanhas para que se refletissem sobre as águas. 
Foi então que, ao admirar o espelho das águas dos lagos, rodeados por aquela paisagem paradisíaca, não puderam mais dissimular, fingir ou negar a si mesmo ou ao outro o motivo daqueles instantes de desligamento dos diálogos e simples admiração mútua sem palavras.Amavam-se. E com isso, amaram-se.

Como mágica,fruto do inocente amor sem conceitos, inteiro, sem regras ou determinações,fantasticamente real e
sublime, dos espaços ainda de nada brotaram seres angelicais cujos sons emitidos soavam-lhes como cântico da mais admirável melodia que jamais pudera ser reproduzida, a qual reverberava suave em celebração à conjunção feérica dos dois. Deus fez-se todo amor e uma luz irrompeu do horizonte a iluminar o casal que se tornava apenas um e Deus disse: – Faça-se a luz! Faça-se a luz para iluminar o sentimento que me aflora por todos os poros, para que qualquer um possa ver e compreender que é no amor que mora toda a felicidade, amor que toma conta de mim e posso amar absolutamente todos, pois – parou um pouco, respirou profundo e prosseguiu orgulhoso – Eu sou Amor!

Ao som indescritivelmente criador que carregavam estas palavras francas, sinceras, o casal se abraçou e 
furtivamente correram-lhes dos olhos lágrimas de vida e escorreram-lhes pelas maças dos rostos até estacionarem nos sorrisos que irradiavam seus lábios. Um com os polegares suavemente colocados abaixo dos olhos do outro, as pontas dos outros dedos a acariciar o rosto e as orelhas, fizeram, sem querer, com que as gotas das lágrimas de felicidade se encontrassem.Daí, da união de dois infinitos, da comunhão das almas divinas naquelas lágrimas a formar uma só, embebida em vida pura, gotejou à relva e por vontade própria afastou-se um tanto para poder desenvolver a nova mágica. Daquela gota que corria pela grama e se expandia suavemente
e como balé se abria dela mesma, nascia Ivo, alto, forte, robusto, de tez negra como Deus e olhos brilhantes e vivos como Lúcifer. Em sua pele refletiam as gotas de lágrima que ainda repousavam sobre seu corpo."

Trecho de "A Outra História do Paraíso" in:Livro de Um Desconhecido.

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