quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Homo Reclamandae Commodus


Não chore, pois a vida vale nada;
Quanto mais lágrimas derramadas!
O que você como amor perdido julga
É na verdade do interesse egoísta a fuga.

Esqueça essa de confiar em alguém.
Ninguém, senão você, quererá seu bem.
Todos só aguardam, de se beneficiar, o ensejo.
Esse é o impulso que nas pessoas vejo.

Você agora, só, na solidão se encerra.
Mas mesmo fora do quarto, por toda a Terra
Se buscar por alguma relação sincera,
É melhor não caminhar. Senta e espera.

Sendo você também uma pessoa,
Não deixe que seu impulso nos outros lhe corroa.
Perceba que sua crítica à atitude alheia
É muitas vezes sua alma que se espelha.

Acovarde-se mesmo. Não há ser mais pulha
Que mais ataca a si mesmo com sua própria fúria.
Mantenha-se trancado ao abrigo de casa
E poupe os outros de sua mente tão rasa.

Ora, se algo lhe incomoda, levante-se e lute.
Com atos ou palavras, desfaça o embuste!
Ou então lastime-se cordato, vil. Ore
Para que a vida em findar-se não demore.



Ao Lado Da Redenção

Ao caminhar pela rua
Ouvi um cão ganindo
E vi os passantes compadecidos
Ante o sofrimento do cachorro.

E sorriam contentes
Ao ver que não havia nada.
Estava tranquilo com seu dono
Que não o maltratava.

Mas do outro lado ninguém viu
Que sentado no chão
Com lágrimas a verter dos olhos
Soluçando com sofreguidão

Estava jogado um homem
Onde a fortuna lho pôs,
Sem condições ou esperança.
Completamente ignorado.

É o dom da gente da rua
De ser invisibilizada.
Quando os veem, os transeuntes
Sentem nojo ou raiva

-Não a tristeza e a vontade
Que se propunham para o cão
Para tirá-lo da dor e da penúria -
Sentem repulsa e medo.

Mas estes são tornados invisíveis
Para manter a ilusão
De que a 'coisa' vai bem.
Bem vindo ao século XXI.


De pensar em ti, parar eu não consigo

De pensar em ti, parar eu não consigo.
Cada instante eu viajo pelo mundo
De mãos dadas contigo, da minha alma, ao fundo.
Estás em qualquer palavra que digo.

Tudo que sinto sempre há de te envolver.
Você não ouve que meu coração grita.
O seu ignora que o meu palpita
Mais forte ainda quando te vê.

Em todos os rostos só vejo o teu
Apenas uma vez pude ouvir a tua voz
E foi da torrente manancial a foz
Onde minha identidade já se perdeu.

Paisagem sem explicação, mágica
É do teu rosto sobre qualquer cenário.
Para tal contemplação não há páreo.
Porém é também animofágico.

Não toca a razão o que, por ti, sinto.
É de harmonia de algo espiritual.
Se é que isso existe, não há igual.
Tu e meus sonhos sois indistintos.

Macula meus pensamentos a impossibilidade
Que circunscreve a realização dos devaneios.
Sem ti, à sucessão de estragos, não há freios.
Flutuo em meio a dejetos de inverdade.

Alguém, puxa-me de volta para a terra!
Sequer sei se quero que isso aconteça.
Vivo num universo em minha cabeça
E por entre nuvens e estrelas meu amor erra.

Deixa-me perder-me no céu por paixão;
Apreciar ao teu lado o firmamento
Em alvorada num eterno momento,
Num espaço sem tempo onde não mais nos verão.

Sonho em lá menor

Eu amaria ser o bailarino
De uma caixinha de música,
Sempre a ouvir tocatas,
Lindas valsas, minuetos, sonatas...
Embalado pelo som dos sinos
Que iluminam com fulgor
Meus leves sonhos como fumaça
Para dançar no paraíso terrestre
Sobre a admirável flora campestre
Que repousa em meu sereno interior.

O sentimento preenche e completa,
Ergue para junto do lar dos anjos,
E é ele minha maior meta.
Ah, como eu queria ser música!

Noite de lua minguante

A margem é de um verde bem uniforme,
Vista sobre a superfície deste rio.
Aprecia o ninho de um passarinho
A folha que sobre a pressa da água dorme.

A noite de lua minguante já esconde
A mudança do curso da água do Tejo
Na represa que lá em frente não vejo.
E a folha? Será que vai para onde?

Para a vasta planície onde a água dispersa
Perdendo-se para a absorção pela terra
E lá onde jaz a folha que aqui versa...

Em meio a muitas e muitas outras, ela
Por sorte é a escolhida pelo vento
Para tornar a pelo mundo viajar.



A fuga


Estou com medo de sair do meu quarto.
Minha alma está doente.
Por mais que eu me agasalhe
O frio que sinto não arrefece.

Sinto-me oprimido dentro de meu coração
De onde tento fugir
Lutando contra as paredes que
Por mais força que eu faça
Não param de se contrair.

Decidi-me por correr para trás
De volta o mais rápido possível
- Mais uma de minhas covardias -
Para chegar ao ponto nulo, zero
Onde tudo (nada) começou.

Estou rasgado, destruído, angustiado;
Uma folha de papel sem caderno,
Sem pauta, sem cor, sem ter sido,
Em qualquer dia, uma árvore.

Envergonho-me por ser uma vergonha,
Um fracasso completo.
Talvez até em ter sido um fracasso.


Mais um último dia de tudo

Sinto como se tudo estivesse,
No dia de hoje, por acabar.
E não sei o porquê disto,
Mas meu coração sabe, assim como
Também o sabem meus olhos
Que tem vontade de chorar.
Meu peito dói como nunca
Por suas múltiplas facadas
Simultâneas e eternas que
O frio neste dia quente
Põe-se a aplicar-lhe sem dó.
Será que fui eu que escolhi
Esse caminho tortuoso para mim?
Quem dera saber eu, um dia,
O significado ininteligível de tudo isso!

Minha alma é de vidro

Minha alma é de vidro
E na forma de chão
De uma terra de gigantes
Onde todos um dia pisarão.

Eu sou da forma de uma garrafa
Posta na quina de uma mesa
Onde se põe a agir a gravidade.
Já não é para mim, surpresa.

Falo todo o tempo do que sou;
Coisas completamente antagônicas
De alguém que sempre errou
Todas as suas notas cacofônicas.

Piedosamente tolero minha existência
Por simplesmente respirar por respirar,
E prossigo sem qualquer essência
Tentando catar meus cacos no ar.

Contudo, mesmo que eu os colasse
Haveria eternamente rachaduras.
Mais do que já há por suas agudas amarguras.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mais De Um Decênio


Neste momento não posso negar.
Que é com o mais profundo pesar
Que sua triste partida eu aceno
E incomensuravelmente peno

A perda da querida companhia.
Brota em mim qual erva daninha
O súbito termo da romaria.
Fato inevitável, eu sabia,

Mas pronto eu estaria nunca.
À minha melancolia se junta
A lembrança do tempo que passamos.
Como foram bons os mais de dez anos

Nos quais conhecemos o Brasil.
Agora resta somente o vazio
Em vez da efervescência política
E da vida cultural e artística

Que nós visitamos na Argentina.
Foi-se a alegria que me fascina
Até hoje por ter sido sublime
E não importa o quanto eu imagine...

Nada substitui a paz do Uruguai.
Se é seu destino, segue-o. Vai.
Foram tantos lugares e histórias...
Se só disso fosse minha memória...

Desfrutamos prolongada estadia
No Rio, Porto Alegre e Brasília.
Sempre você pegando no meu pé.
Juntos no Chuí, na Praça da Sé...

Houve também discórdia, é bem verdade,
Mas nunca houve maior lealdade
Que a da firme convivência nossa
Cuja harmonia nossa vida adoça.

Você inda lembra daquela vez
O que por ciúme você me fez?
Com meu guarda-chuva você sumiu.
Deixou-me da tempestade no frio.

Não me lembro se alguma vez lhe disse,
Porém eu perdoei sua tolice
Em nome de tudo que compartimos
Desta vida nos baixos e nos cimos.

Incompatíveis já éramos sim
A qualquer outro para qualquer fim.
Vá tranquilo por seu caminho, amigo,
Pois dera a sua vida um sentido.

Amargarei saudades de você,
Pois pouco ou nada mais posso perder.
Com estes sinceros versos lhe velo
Meu grande companheiro. Meu chinelo.

Modus vivendi

Essa sensação de tom cinza amarelado
Que me preenche envolto em água
Por uma fina camada sabor mágoa
Toca-me as narinas com cheiro cansado.

Ademais, conturba-me a mente cintilante
Causando espasmos últimos e sempre frios.
Leva-me a crer o chão como o ar ou vazio.
Contudo consegue carregar-me adiante.

Sabe-se lá de tudo isso o porquê?
Realmente faz-se mister haver algum?
O “cogito” é imprescindível ao “sum”?
Razão é a condição “sine qua non” pra viver?

Contemplação

O sol, o verde dos montes, descobre
E chega ao lago perto das nove.
Lago de água limpa e cristalina
Feito a pureza dos olhos de menina.

As águas, graciosamente onduladas pelo vento,
Refletem o véu azul que cobre o firmamento;
Permitem transparecer aquela vida colorida
Que, lá no fundo, pela noite, havia sido esquecida.

Sobre a água deste formoso e límpido lago
Passa uma luz que cessa as suaves ondas.
Não traz nada de bom; não faz estrago.

Esta em meu olho agora se reflete
E, sem sequer pedir-me licença,
Por dentro de mim já se mete.

Higiene mental

Levanto-me a fim de cerrar as janelas de casa
Antes que entrem mais mosquitos.
Os que já estão não saem
Porém não virão os de fora. (os de fora!)

Oh maldição! Tenho que fechar as cortinas!
O que são todos aqueles rostos na rua?
Por que olham para cá? E parece que riem!
É absurdo o como minha privacidade está desprotegida.

É bom trancar as portas, desligar o telefone
E até mesmo o disjuntor para que fique escuro,
Ache-se que não há ninguém aqui, e
Para que a campainha não funcione.
Sem luz também me livro das sujeiras do mundo
Trazidas por toda a sorte de eletro-eletrônicos.

Agora finalmente sou livre e posso descansar em paz.


O mais puro amor

Só minha! Ah!
Anos faz que te quero!
Mas... só sonho abunda em mim
Por não poder ver a boca dela.
Venha noite e vá dia
Se não permites-me tê-la!
Sei o mais lindo que tu tens.
Se esconde, da alma,
No escuro do mais profundo vale.
Deputa a mim o que quiseres.
Farei tudo para dar-lhe o maior gozo!

Eu ainda continuo te amando

Amar alguém é trair a si mesmo.
É dividir o privilegiado palanque
Do seu próprio coração com outrem.
É dar-lhes importância igual ou superior a sua.
E como, embora de modo doloroso,
Pode-se perder um amor,
Você pode perdê-lo por si mesmo.
Mas, não consigo parar de amar,
Talvez eu já tenha perdido o amor
Que tinha, se é que um dia tive,
Por mim mesmo.
Amo o amor, acima de tudo.